São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2001

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A MORTE DE COVAS

Bate-bocas abalaram popularidade em 99

DA REDAÇÃO

DO DATAFOLHA

As medidas de saneamento das finanças de São Paulo, que no primeiro mandato acabaram por bloquear os gastos públicos, e os crescentes índices de criminalidade custaram ao governador Mário Covas a própria popularidade.
Covas se envolveu em embates com servidores que, em geral, pediam aumento de salários ou criticavam suas medidas administrativas. Os servidores da educação foram os maiores opositores.
Os confrontos se intensificaram após a primeira cirurgia para a retirada de um tumor, no final de 1998. A doença, disse Covas já às vésperas da segunda operação, no ano passado, havia lhe ensinado que, mais do que nunca, deveria dizer tudo o que pensava.
A resposta ao jeito enfrentador veio, não raro, na forma de paus, pedras, ovos e laranjas. Em junho de 2000, o embate rendeu-lhe ferimentos na testa e no lábio em plena praça da República, durante confronto com professores em greve, que tentaram impedi-lo de entrar na Secretaria da Educação. "Ninguém vai impedir o governador de entrar em uma secretaria pela porta da frente", disse.
Naquele mesmo mês, Covas atingiu o seu pior índice de popularidade, de acordo com as pesquisas do Datafolha. Na ocasião, Covas era reprovado por 43% dos paulistas, e apenas 20% o consideravam ótimo ou bom. A atitude do governador já havia sido reprovada pela maioria dos paulistanos entrevistados pelo Datafolha, em outro levantamento, feito por telefone, um dia após o fato.
O episódio fechou um período de desgaste da imagem de Covas, que desde junho de 1999 vinha perdendo apoio popular. Características dos cenários político, econômico e social daquele ano (crise cambial, desemprego, violência, guerra fiscal entre Estados) potencializaram as críticas contra aliados do governo federal.
Em setembro, objetos foram atirados contra Covas por servidores, diante do Palácio dos Bandeirantes. Ele resolveu subir no carro de som para falar com os manifestantes. Foi feito um cordão de isolamento por PMs para que atravessasse a multidão.
No trajeto, Covas foi empurrado pelos manifestantes. Em cima do carro de som, o governador passou cerca de dois minutos recebendo vaias e xingamentos dos servidores, até que foi chamado de ladrão. "Ladrão é você", respondeu. Logo depois, foi atingido no peito por um ovo.
No dia 19 de maio de 2000, o governador enfrentou manifestantes novamente, dessa vez em São Bernardo, e foi agredido com uma bandeirada na cabeça.
Em relação ao seu primeiro mandato, Covas passou os quatro primeiros anos sendo considerado regular pela maior parte da população do Estado. Nesse período, seu pior índice foi verificado em maio de 1997, um mês após a divulgação de cenas de violências praticadas por policiais militares na Favela Naval, em Diadema.
Em pesquisa realizada um dia depois da veiculação das imagens pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo, o Datafolha mostrou que a maioria dos paulistanos cobravam do governador as demissões do comandante-geral da Polícia Militar e do secretário da Segurança do Estado.
No extremo oposto, a maior taxa de avaliação positiva obtida por Covas aconteceu em dezembro de 1998. Na época, depois de uma disputa acirrada pela reeleição, em um confronto direto com Paulo Maluf (PPB) no segundo turno -Covas ultrapassaria Maluf somente na penúltima semana-, o governador tornou pública a sua doença.
Na pesquisa pesquisa feita nos dias 10 e 11 de dezembro, 38% dos paulistas aprovavam Covas, contra 23% que o rejeitavam. A última pesquisa Datafolha de avaliação do governador, feita em dezembro passado, mostrava que 29% dos paulistas o reprovavam contra outros 29% que o classificavam de ótimo ou bom.



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