São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2001

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A MORTE DE COVAS

Governador queria despachar na região central

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

Depois de reeleito, Mário Covas disse a assessores que, no término do segundo mandato, não estaria mais despachando no Palácio dos Bandeirantes, cercado das luxuosas casas do Morumbi.
Determinou a um grupo de técnicos que preparasse a transferência da sede do governo para o centro da cidade, invertendo, para dentro, o movimento de expansão de São Paulo.
Além do palácio, seriam atraídas todas as secretarias estaduais para a região central. Candidato a prefeito, Geraldo Alckmin comprometeu-se a reunir também as secretarias municipais.
Com esse gesto, Covas deixaria uma forte marca na cidade, que já governou, quando aprovou o deslocamento da prefeitura do Ibirapuera para o parque Dom Pedro.
A transferência do poder político se encaixava com a criação de espaços culturais: a transformação da estação Júlio Prestes em sala de música, a reforma do prédio do Deops, futura faculdade de música, e da estação da Luz, onde deve surgir um centro cultural dedicado à língua portuguesa. Na frente, já tinha sido reformada a Pinacoteca.
Já está previsto que a estação da Luz vai ter ainda mais importância como entroncamento vital de transportes públicos, ao reunir, além do trem, novas linhas de metrô -a linha 4, que vem da Vila Sônia, passa pela Cidade Universitária e pela avenida Rebouças.
Inspirada no governador, a Secretaria de Cultura elaborou um plano para criar um corredor, na avenida São Paulo, de teatros voltados à música, recuperando os cinemas abandonados e decadentes. Nas redondezas, os prédios dos Correios e do Banco do Brasil deveriam abrigar também exposições, seminários, teatros e cinemas. Para garantir o fluxo noturno, o projeto previa atrair faculdades e encher, assim, cafés e restaurantes.
A idéia era mais ousada do que mudanças ou reformas de prédios. Os técnicos elaboraram um roteiro para a criação de um espaço social modelar: no perímetro do centro, haveria programas articulados por diferentes secretarias em combinação com entidades não-governamentais.
Seriam cuidados os meninos de rua, os mendigos e os idosos, e seria criado um cinturão de segurança. Só a presença de tantas secretarias e do próprio governador serviria para aumentar o policiamento.
Pensava-se mais longe: polícias comunitárias reforçadas com policiamento preventivo ostensivo.
As ações seriam deslanchadas exatamente quando a doença de Covas começou a se agravar, dificultando qualquer plano. Mas a idéia talvez não esteja encerrada: Geraldo Alckmin fez da valorização da região central um dos pontos relevantes de sua plataforma à prefeitura.




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