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A MORTE DE COVAS
Governador
queria despachar
na região central
GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL
Depois de reeleito, Mário
Covas disse a assessores que,
no término do segundo
mandato, não estaria mais
despachando no Palácio dos
Bandeirantes, cercado das
luxuosas casas do Morumbi.
Determinou a um grupo
de técnicos que preparasse a
transferência da sede do governo para o centro da cidade, invertendo, para dentro,
o movimento de expansão
de São Paulo.
Além do palácio, seriam
atraídas todas as secretarias
estaduais para a região central. Candidato a prefeito,
Geraldo Alckmin comprometeu-se a reunir também
as secretarias municipais.
Com esse gesto, Covas deixaria uma forte marca na cidade, que já governou,
quando aprovou o deslocamento da prefeitura do Ibirapuera para o parque Dom
Pedro.
A transferência do poder
político se encaixava com a
criação de espaços culturais:
a transformação da estação
Júlio Prestes em sala de música, a reforma do prédio do
Deops, futura faculdade de
música, e da estação da Luz,
onde deve surgir um centro
cultural dedicado à língua
portuguesa. Na frente, já tinha sido reformada a Pinacoteca.
Já está previsto que a estação da Luz vai ter ainda mais
importância como entroncamento vital de transportes
públicos, ao reunir, além do
trem, novas linhas de metrô
-a linha 4, que vem da Vila
Sônia, passa pela Cidade
Universitária e pela avenida
Rebouças.
Inspirada no governador,
a Secretaria de Cultura elaborou um plano para criar
um corredor, na avenida São
Paulo, de teatros voltados à
música, recuperando os cinemas abandonados e decadentes. Nas redondezas, os
prédios dos Correios e do
Banco do Brasil deveriam
abrigar também exposições,
seminários, teatros e cinemas. Para garantir o fluxo
noturno, o projeto previa
atrair faculdades e encher,
assim, cafés e restaurantes.
A idéia era mais ousada do
que mudanças ou reformas
de prédios. Os técnicos elaboraram um roteiro para a
criação de um espaço social
modelar: no perímetro do
centro, haveria programas
articulados por diferentes
secretarias em combinação
com entidades não-governamentais.
Seriam cuidados os meninos de rua, os mendigos e os
idosos, e seria criado um cinturão de segurança. Só a presença de tantas secretarias e
do próprio governador serviria para aumentar o policiamento.
Pensava-se mais longe: polícias comunitárias reforçadas com policiamento preventivo ostensivo.
As ações seriam deslanchadas exatamente quando
a doença de Covas começou
a se agravar, dificultando
qualquer plano. Mas a idéia
talvez não esteja encerrada:
Geraldo Alckmin fez da valorização da região central
um dos pontos relevantes de
sua plataforma à prefeitura.
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