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FIM DE CASAMENTO
PFL atende Roseana e rompe aliança de 8 anos com FHC
Sergio Lima/Folha Imagem
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A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), deixa sua casa no lago Sul da capital federal |
Integrantes de qualquer escalão vão devolver cargos, diz Bornhausen
Governadora comemora decisão; crise leva FHC a antecipar volta ao país
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PFL anunciou ontem o rompimento de uma aliança política de
quase oito anos com o governo Fernando Henrique Cardoso. A aliança
com o então candidato FHC foi firmada entre PFL e PSDB no dia 2 de
maio de 1994. O casamento se desfaz
hoje, em reunião da Executiva do
partido.
"Vamos romper com a base do
governo. Integrantes do partido de
qualquer escalão vão devolver seus
cargos, e o partido tomará uma atitude de independência nas votações,
mas nunca contra o país", disse ontem em entrevista o presidente do
PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC).
Prestigiada pela decisão do partido, a governadora do Maranhão,
Roseana Sarney, comemorou. Anteontem, havia feito um ultimato ao
PFL, ameaçando desistir de sua candidatura à Presidência caso o partido não rompesse com o governo:
"Ouvi das bancadas um apoio muito
grande. Se for amanhã [hoje" a decisão assim, serei, sim, a candidata do
partido à Presidência", disse a governadora.
A estratégia pefelista inclui uma
declaração de guerra à pré-candidatura presidencial do tucano José Serra. "Destruíram todas as pontes para
uma aliança", dizia ontem o senador
José Sarney (PMDB-AP), resumindo
o tratamento que o PFL deve destinar a Serra. No mesmo dia do ultimato de Roseana, Bornhausen disse
a FHC que, na hipótese da inviabilização de Roseana, não vê mais chance de aliança com Serra. O veto foi
transmitido pelo telefone, no intervalo de reuniões com Roseana e as
bancadas do PFL no Congresso.
Entre os serristas, a orientação
ontem era pressionar FHC para assegurar que a saída do PFL do governo seja "de ponta a ponta". Isto é:
que o partido perca de fato os cargos
que possui também nos segundo e
terceiro escalão.
A intenção dos pefelistas é deixar
os três ministérios que ainda têm e
colocar à disposição de FHC cerca de
2.000 cargos na administração direta
e indireta do governo.
A crise deflagrada pela decisão do
PFL fez com que FHC antecipasse
sua volta ao país. Momentos antes
de embarcar no Panamá, no final da
tarde de ontem, o presidente falou
ao telefone com Serra. Descartou a
hipótese, que circulou durante todo
o dia em Brasília, de uma renúncia
coletiva ou mesmo de uma reforma
ministerial ampla neste momento.
A permanência de Aloysio Nunes
Ferreira na Justiça virou um ponto
de honra para o grupo serrista e teria
sido garantida pelo presidente. Pivô
da crise entre os partidos, Aloysio é
acusado especialmente pelos Sarney
de ter facilitado o vazamento de informações da busca e apreensão, pela Polícia Federal, de documentos e
dinheiro na Lunus, empresa sediada
em São Luís dela e do marido, Jorge
Murad, gerente de Planejamento do
Maranhão.
Mesmo rompendo formalmente
com o governo, o PFL procura deixar uma porta aberta com o presidente. A sigla tende a adotar uma atitude "light" em relação a FHC e
"hard" em relação a Serra. O partido
promete, por exemplo, dar os votos
necessários à aprovação de projetos
de maior interesse do Planalto, como a prorrogação da CPMF, o imposto do cheque.
Na nota em que vai oficializar o
rompimento com o governo, o PFL
deve falar em risco de "mexicanização" do Brasil, numa alusão indireta
ao que considera uma tentativa do
governo federal de eleger Serra a
qualquer custo.
No México, o PRI (Partido Revolucionário Institucional) manteve o
poder durante 71 anos (1929-2000) à
custa de uma máquina política, econômica e midiática que inviabilizou
alternativas de poder. O partido foi
acusado de maquiar o resultado de
eleições para vencer.
Pesquisa telefônica encomendada
pelo PFL captou uma pequena queda na intenção de voto (de dois pontos percentuais) de Roseana devido
ao episódio Murad. Na última pesquisa Datafolha, antes da operação
da PF, Roseana estava tecnicamente
empatada na liderança da disputa
com Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
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