São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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FIM DE CASAMENTO

PFL atende Roseana e rompe aliança de 8 anos com FHC

Sergio Lima/Folha Imagem
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), deixa sua casa no lago Sul da capital federal


Integrantes de qualquer escalão vão devolver cargos, diz Bornhausen

Governadora comemora decisão; crise leva FHC a antecipar volta ao país

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL anunciou ontem o rompimento de uma aliança política de quase oito anos com o governo Fernando Henrique Cardoso. A aliança com o então candidato FHC foi firmada entre PFL e PSDB no dia 2 de maio de 1994. O casamento se desfaz hoje, em reunião da Executiva do partido.
"Vamos romper com a base do governo. Integrantes do partido de qualquer escalão vão devolver seus cargos, e o partido tomará uma atitude de independência nas votações, mas nunca contra o país", disse ontem em entrevista o presidente do PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC).
Prestigiada pela decisão do partido, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, comemorou. Anteontem, havia feito um ultimato ao PFL, ameaçando desistir de sua candidatura à Presidência caso o partido não rompesse com o governo: "Ouvi das bancadas um apoio muito grande. Se for amanhã [hoje" a decisão assim, serei, sim, a candidata do partido à Presidência", disse a governadora.
A estratégia pefelista inclui uma declaração de guerra à pré-candidatura presidencial do tucano José Serra. "Destruíram todas as pontes para uma aliança", dizia ontem o senador José Sarney (PMDB-AP), resumindo o tratamento que o PFL deve destinar a Serra. No mesmo dia do ultimato de Roseana, Bornhausen disse a FHC que, na hipótese da inviabilização de Roseana, não vê mais chance de aliança com Serra. O veto foi transmitido pelo telefone, no intervalo de reuniões com Roseana e as bancadas do PFL no Congresso.
Entre os serristas, a orientação ontem era pressionar FHC para assegurar que a saída do PFL do governo seja "de ponta a ponta". Isto é: que o partido perca de fato os cargos que possui também nos segundo e terceiro escalão.
A intenção dos pefelistas é deixar os três ministérios que ainda têm e colocar à disposição de FHC cerca de 2.000 cargos na administração direta e indireta do governo.
A crise deflagrada pela decisão do PFL fez com que FHC antecipasse sua volta ao país. Momentos antes de embarcar no Panamá, no final da tarde de ontem, o presidente falou ao telefone com Serra. Descartou a hipótese, que circulou durante todo o dia em Brasília, de uma renúncia coletiva ou mesmo de uma reforma ministerial ampla neste momento.
A permanência de Aloysio Nunes Ferreira na Justiça virou um ponto de honra para o grupo serrista e teria sido garantida pelo presidente. Pivô da crise entre os partidos, Aloysio é acusado especialmente pelos Sarney de ter facilitado o vazamento de informações da busca e apreensão, pela Polícia Federal, de documentos e dinheiro na Lunus, empresa sediada em São Luís dela e do marido, Jorge Murad, gerente de Planejamento do Maranhão.
Mesmo rompendo formalmente com o governo, o PFL procura deixar uma porta aberta com o presidente. A sigla tende a adotar uma atitude "light" em relação a FHC e "hard" em relação a Serra. O partido promete, por exemplo, dar os votos necessários à aprovação de projetos de maior interesse do Planalto, como a prorrogação da CPMF, o imposto do cheque.
Na nota em que vai oficializar o rompimento com o governo, o PFL deve falar em risco de "mexicanização" do Brasil, numa alusão indireta ao que considera uma tentativa do governo federal de eleger Serra a qualquer custo.
No México, o PRI (Partido Revolucionário Institucional) manteve o poder durante 71 anos (1929-2000) à custa de uma máquina política, econômica e midiática que inviabilizou alternativas de poder. O partido foi acusado de maquiar o resultado de eleições para vencer.
Pesquisa telefônica encomendada pelo PFL captou uma pequena queda na intenção de voto (de dois pontos percentuais) de Roseana devido ao episódio Murad. Na última pesquisa Datafolha, antes da operação da PF, Roseana estava tecnicamente empatada na liderança da disputa com Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.


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