São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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PFL tenta "tirar" FHC do discurso de Sarney

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

À época em que era presidente da República, José Sarney discou para o diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma. Pediu-lhe que zelasse por um determinado inquérito. Não queria que fosse utilizado contra um senador aliado: Fernando Henrique Cardoso.
A história é contada no discurso que Sarney promete fazer, na próxima semana, no Senado. De propósito, a biografia de FHC é aproximada de um caso de improbidade administrativa.
A cúpula do PFL tenta expurgar o nome de FHC do discurso. Sinal de que, por ora, o "rompimento" com o governo ainda pode ser grafado assim, entre aspas.
O inquérito que Sarney desencavou da memória apurava denúncias de corrupção na siderúrgica paulista Cosipa. A direção da estatal fora apadrinhada por FHC. E os inimigos dele queriam transformar achados da polícia em munição eleitoral. Algo que Sarney diz ter evitado.
A semelhança com o "caso Lunus" é praticamente inexistente. Ainda assim, Sarney acha que teve com FHC uma consideração que o tucanato não teve com a sua filha. Sarney não se conforma com a "invasão" do escritório da empresa de Roseana Sarney.
Ele chegou a dizer a alguns interlocutores que seu discurso transformaria em "pinto" os ataques que Antonio Carlos Magalhães fez a FHC. A virulência verbal não combina, porém, com a sua gênese. De modo que é difícil dizer se os rancores de pai resistirão às conveniências do PFL.
Em diálogos telefônicos com Sarney, FHC dá a entender que não deseja dinamitar pontes. Mas seus auxiliares avisam que tudo tem limite. O governo não dará alpiste a passarinho que tenta lhe vazar os olhos, disse ontem um interlocutor do presidente.
O PFL "rompeu" com o governo porque o benefício eleitoral é alto e o custo político, baixíssimo. Antecipou-se em escassas três semanas a saída de ministros que já estavam com o pé na estrada eleitoral. Refreando-se os arroubos de Sarney, pode-se tentar conservar os cerca de 2.000 cargos de segundo e terceiro escalões.
Se poupar FHC, Sarney concentrará a raiva em alvo alternativo. Relacionará os assaltos de que participou, sob o regime militar, um tal Mateus, codinome do hoje ministro Aloysio Nunes Ferreira.


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