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CAMPO MINADO
Governo pode revogar mecanismo que veta desapropriação de terras invadidas, diz presidente da instituição
Incra critica MP feita para inibir invasões
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Marcelo Resende,
encampou ontem uma das principais reivindicações dos sem-terra ao defender o fim do mecanismo que impede a vistoria -e
consequente desapropriação-
de terras invadidas.
"Pessoalmente, acho que [o mecanismo] é um ponto negativo
para que possamos desapropriar
imóveis que não cumprem função social no que diz respeito à
produtividade", afirmou o geógrafo Resende, 33, um dos principais homens do governo Lula na
área de reforma agrária.
Segundo o presidente do Incra,
é possível que o governo revogue
a medida provisória 2.027, baixada em maio de 2000 pelo então
presidente Fernando Henrique
Cardoso para conter as invasões
de terras promovidas pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), que bateu o
recorde de 502 áreas em 1999.
O número caiu para menos da
metade no ano seguinte; no ano
passado, as invasões não chegaram a 90. As invasões voltaram
durante o Carnaval.
"Acredito, sim, que há possibilidade [de revogação]", disse Resende. O assunto é objeto de negociação coordenada pelos ministros Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e José Dirceu (Casa Civil). Segundo Dirceu,
o governo ainda não tem uma posição fechada sobre o assunto.
A página na Internet do ministério relaciona quase 90 áreas cuja
vistoria está suspensa em consequência de invasões. Outras 25
áreas tiveram o processo de desapropriação paralisado.
A intenção do governo é dar
prioridade ao assentamento no
estoque de áreas já vistoriadas.
Mas, diante de invasões, segundo
Resende, a orientação é negociar.
"Na medida em que ocorram
ocupações, vamos chamar os superintendentes a fim de dar uma
diretriz no tratamento dessas
áreas", afirmou.
Embora tenha condenado as invasões de prédios e terras e determinado à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar a depredação do prédio do Incra em
Cuiabá (MT), o governo deu sinais de que pretende enfrentar as
manifestações dos sem-terra com
compreensão.
"Há um sentimento de que, no
governo Lula, as coisas devem
mudar rapidamente e radicalmente. Quem está debaixo de
uma lona preta talvez não tenha o
tempo para esperar o processo. A
máquina pública exige respeito à
ordem jurídica. Eu reconheço como natural que os trabalhadores
não tenham essa compreensão
neste momento", avalia Resende.
O presidente do Incra também
admitiu rever indicações de superintendentes contestadas pelo
MST. É o caso da indicação do advogado Ailtamar Carlos da Silva,
ligado à Contag (Confederação
Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura), para o comando do
Incra em Goiás. Até agora, um superintendente já tomou posse e
outros 13 já tiveram a nomeação
publicada no Diário Oficial.
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