São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2006

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Funcionário da Infraero diz que militar alegou ter "compromissos inadiáveis"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Em depoimento oficial, ontem, o funcionário Daniel Rodrigues Pires Bezerra, da Infraero (empresa responsável pela administração de aeroportos), que estava de plantão na torre de comando de Viracopos (Campinas) na Quarta-Feira de Cinzas, declarou que determinou a interrupção do vôo JJ 3874 da TAM depois de acionado pelo sub-oficial da Aeronáutica de nome Agostine.
A interrupção foi para garantir o embarque de um "militar de alta patente", que Bezerra soube depois se tratar do general Francisco Albuquerque, comandante do Exército, que estava acompanhado de sua mulher.
O depoimento foi dado ao DAC (Departamento de Aviação Civil), que abriu inquérito interno -chamado de "avaliação de procedimentos"- para apurar a informação publicada pelo jornalista Elio Gaspari, na Folha de domingo, sobre a possível "carteirada" do general para embarcar no vôo, mesmo tendo chegado entre 15 e 20 minutos antes da decolagem. O prazo exigido é de uma hora antes, e o avião já estava lotado, com a porta fechada.
Segundo o depoimento de Bezerra, quem fez o check-in do general e de sua mulher foi um sargento de nome Santos, às 17h10, quando o vôo estava marcado para 17h30. No meio da etiquetagem de bagagens, o funcionário da TAM Alejandro Viniegra Figueiroa mandou parar tudo, pois o vôo estava lotado e fechado.
O general, segundo o depoimento, se negou a aceitar e alegou que "tinha compromissos inadiáveis em Brasília" e deveria embarcar de qualquer jeito. O sub-oficial Agostine, que é fiscal do DAC no aeroporto de Viracopos, acionou a torre pelo rádio e mandou que os procedimentos de vôo, já iniciados pela aeronave de prefixo PTMZQ, com destino a Brasília, fossem abortados.
Daniel ainda argumentou que isso não era comum, mas Agostine avisou que era uma ordem e que a situação envolvia "um militar de alta patente".
Nas palavras de Daniel, a ordem foi clara: "Segura o avião!". Foi atendida. O avião interrompeu o taxiamento, enquanto a TAM negociava duas poltronas.
Os passageiros "voluntários" foram o casal Erasmo Pinto Júnior e Sandra Oliveira, mas há versões desencontradas sobre os motivos. Há também divergências quanto à ocorrência de overbooking. A TAM nega, mas a Folha apurou que, segundo o inquérito, 16 passageiros com reservas ficaram de fora.


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