São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Dantas troca os advogados e a estratégia de sua defesa

Dirigente do Opportunity temia ser condenado novamente por De Sanctis

Banqueiro avalia que Nélio Machado poderia tê-lo poupado da condenação; advogado se ressente da falta de gratidão de Dantas

MARIO CESAR CARVALHO
ANA FLOR

DA REPORTAGEM LOCAL A estratégia de defesa do banqueiro Daniel Dantas sofreu uma mudança radical com a saída do advogado Nélio Machado, 57, da causa, antecipada pela Folha no início de fevereiro e comunicada pelo advogado na terça-feira. Sai Machado, um advogado vulcânico e sanguíneo, e entra Andrei Zenkner Schmidt, 38, um criminalista gaúcho que é mais conhecido pela carreira acadêmica do que pela atuação em tribunais.
Além de desejar uma mudança na linha de defesa, Dantas avaliou que Machado estava tão desgastado perante o juiz federal Fausto de Sanctis, por causa dos embates, que o risco de uma nova condenação era muito alto. Em dezembro, De Sanctis condenou o banqueiro a dez anos de prisão por julgar que ele tentou corromper um delegado da Polícia Federal.
Foi a primeira condenação de Dantas. Mas o processo mais grave contra o banqueiro, sobre fraude e suposta lavagem de dinheiro pelo Banco Opportunity, ainda está em curso.
Schmidt será encarregado de colocar em prática a nova de defesa: Dantas não quer ser absolvido alegando falhas processuais no inquérito da Satiagraha -principal alvo de Machado. O banqueiro quer provar inocência, como repetiu "n" vezes a seu antigo advogado.
Machado defendia Dantas desde 2001. Enfrentaram juntos as operações da Polícia Federal Chacal e os depoimentos da CPI dos Correios. O advogado conseguiu tirar o banqueiro da prisão por duas vezes no ano passado.
Dantas, porém, achava que Machado poderia tê-lo poupado das prisões e até da condenação. Machado se ressentia da falta de gratidão do banqueiro.
Não é só a forma de encarar a defesa que levou Machado a renunciar a uma causa que lhe renderia cerca de R$ 25 milhões, segundo outros advogados que atuam no caso. Oficialmente, ninguém fala em cifras.
Dantas e Machado têm estilos antípodas. Dantas prefere trabalhar de manhã cedo; Machado gosta de dormir tarde. Enquanto o banqueiro anda com carros blindados discretos, Machado circulava pelo Rio com uma Maserati, um carro esporte italiano que não vale menos de R$ 300 mil. Dantas leva uma vida quase monástica e é vegetariano. Extremamente metódico, adora manter o foco, enquanto Machado é impetuoso e prefere varrer as questões como se fosse um radar.
Duas questões entornaram de vez a relação: a ideia de criar uma junta de advogados para tomar decisões e as interferências que Dantas fazia nos textos e teses de Machado.
O advogado não gosta de submeter seus textos aos clientes por julgar que ele é o especialista jurídico, com 35 anos de experiência. Dantas não só queria examinar todas as petições, mas submetia os documentos a outros especialistas, exigia mudanças e reescrevia ele mesmo os textos.
Um diálogo travado entre os dois explicita o embate. Dantas disse a Machado que, se tivesse optado pela advocacia, seria o melhor advogado do país. A resposta foi lacônica: "Mas você não optou [pela advocacia]". Machado decidiu renunciar à causa depois de saber da decisão do banqueiro de deixar sua defesa nas mãos de Schmidt. Machado seria um consultor.
A primeira ação do novo advogado, sem avisar o colega carioca, foi enviar ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedido de habeas corpus. Machado não fala oficialmente sobre o gaúcho, mas contou a outros advogados o que acha da peça de Schmidt: desastre de um neófito. Na sua avaliação debochada, o pedido de habeas corpus não queria acabar só com as investigações da Satiagraha, mas com todas as investigações da PF, tamanha era a presunção da demanda.
Schmidt estreou no caso com uma derrota -seu pedido foi recusado pelo STJ.
Além da tentativa de sair dos holofotes -que Machado parecia sempre atrair-, a nova estratégia de Dantas inclui ainda a divisão da defesa. Schmidt cuidará de Dantas, enquanto Antonio Sérgio Moraes Pitombo ficará encarregado da defesa do Banco Opportunity e dos fundos. Outros advogados foram chamados para fazer a defesa dos empregados do Opportunity. A avaliação informal dos novos advogados é que concentrar a defesa no escritório de Nélio Machado era amadorismo. Já ele dizia não estar disposto a estar em causa da qual não fosse o coordenador.


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