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Dantas troca os advogados e a estratégia de sua defesa
Dirigente do Opportunity temia ser condenado novamente por De Sanctis
Banqueiro avalia que Nélio Machado poderia tê-lo poupado da condenação; advogado se ressente da falta de gratidão de Dantas
MARIO CESAR CARVALHO
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
A estratégia de defesa do
banqueiro Daniel Dantas sofreu uma mudança radical com
a saída do advogado Nélio Machado, 57, da causa, antecipada
pela Folha no início de fevereiro e comunicada pelo advogado
na terça-feira. Sai Machado,
um advogado vulcânico e sanguíneo, e entra Andrei Zenkner
Schmidt, 38, um criminalista
gaúcho que é mais conhecido
pela carreira acadêmica do que
pela atuação em tribunais.
Além de desejar uma mudança na linha de defesa, Dantas avaliou que Machado estava
tão desgastado perante o juiz
federal Fausto de Sanctis, por
causa dos embates, que o risco
de uma nova condenação era
muito alto. Em dezembro, De
Sanctis condenou o banqueiro
a dez anos de prisão por julgar
que ele tentou corromper um
delegado da Polícia Federal.
Foi a primeira condenação
de Dantas. Mas o processo
mais grave contra o banqueiro,
sobre fraude e suposta lavagem
de dinheiro pelo Banco Opportunity, ainda está em curso.
Schmidt será encarregado de
colocar em prática a nova de
defesa: Dantas não quer ser absolvido alegando falhas processuais no inquérito da Satiagraha -principal alvo de Machado. O banqueiro quer provar
inocência, como repetiu "n" vezes a seu antigo advogado.
Machado defendia Dantas
desde 2001. Enfrentaram juntos as operações da Polícia Federal Chacal e os depoimentos
da CPI dos Correios. O advogado conseguiu tirar o banqueiro
da prisão por duas vezes no ano
passado.
Dantas, porém, achava que
Machado poderia tê-lo poupado das prisões e até da condenação. Machado se ressentia da
falta de gratidão do banqueiro.
Não é só a forma de encarar a
defesa que levou Machado a renunciar a uma causa que lhe
renderia cerca de R$ 25 milhões, segundo outros advogados que atuam no caso. Oficialmente, ninguém fala em cifras.
Dantas e Machado têm estilos antípodas. Dantas prefere
trabalhar de manhã cedo; Machado gosta de dormir tarde.
Enquanto o banqueiro anda
com carros blindados discretos, Machado circulava pelo
Rio com uma Maserati, um carro esporte italiano que não vale
menos de R$ 300 mil. Dantas
leva uma vida quase monástica
e é vegetariano. Extremamente
metódico, adora manter o foco,
enquanto Machado é impetuoso e prefere varrer as questões
como se fosse um radar.
Duas questões entornaram
de vez a relação: a ideia de criar
uma junta de advogados para
tomar decisões e as interferências que Dantas fazia nos textos
e teses de Machado.
O advogado não gosta de
submeter seus textos aos clientes por julgar que ele é o especialista jurídico, com 35 anos
de experiência. Dantas não só
queria examinar todas as petições, mas submetia os documentos a outros especialistas,
exigia mudanças e reescrevia
ele mesmo os textos.
Um diálogo travado entre os
dois explicita o embate. Dantas
disse a Machado que, se tivesse
optado pela advocacia, seria o
melhor advogado do país. A
resposta foi lacônica: "Mas você não optou [pela advocacia]".
Machado decidiu renunciar à
causa depois de saber da decisão do banqueiro de deixar sua
defesa nas mãos de Schmidt.
Machado seria um consultor.
A primeira ação do novo advogado, sem avisar o colega carioca, foi enviar ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pedido de habeas corpus. Machado
não fala oficialmente sobre o
gaúcho, mas contou a outros
advogados o que acha da peça
de Schmidt: desastre de um
neófito. Na sua avaliação debochada, o pedido de habeas corpus não queria acabar só com
as investigações da Satiagraha,
mas com todas as investigações
da PF, tamanha era a presunção da demanda.
Schmidt estreou no caso com
uma derrota -seu pedido foi
recusado pelo STJ.
Além da tentativa de sair dos
holofotes -que Machado parecia sempre atrair-, a nova estratégia de Dantas inclui ainda
a divisão da defesa. Schmidt
cuidará de Dantas, enquanto
Antonio Sérgio Moraes Pitombo ficará encarregado da defesa
do Banco Opportunity e dos
fundos. Outros advogados foram chamados para fazer a defesa dos empregados do Opportunity. A avaliação informal
dos novos advogados é que
concentrar a defesa no escritório de Nélio Machado era amadorismo. Já ele dizia não estar
disposto a estar em causa da
qual não fosse o coordenador.
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