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Governo acha dinheiro de filho de Sarney no exterior
Autoridades chinesas detectam conta em paraíso fiscal operada por Fernando Sarney
Empresário, que cuida dos negócios da família, enviou US$ 1 milhão em 2008 para agência do HSBC na China sem declará-lo à Receita
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro obteve
documentos que comprovam
que o filho do presidente do Senado, José Sarney, movimentou dinheiro no exterior sem
declará-lo à Receita Federal.
Autoridades da China informaram ao Ministério da Justiça que o empresário Fernando
Sarney opera pessoalmente
uma conta num paraíso fiscal,
em nome de uma empresa
"offshore" com sede no Caribe.
No começo de 2008, Fernando usou esse canal financeiro
para transferir US$ 1 milhão
para uma agência do banco
HSBC em Qingdao, na China. A
autorização da transação contém a assinatura dele.
Recursos no exterior não informados ao fisco podem ser
fruto de sonegação de tributos,
evasão de divisas e lavagem de
dinheiro. Empresas da família
Sarney, que vão de emissoras
de rádio e TV a shopping center, são investigadas pela Receita e pela Polícia Federal sob
acusação desses crimes.
A operação policial, que levava o nome de Boi Barrica e depois foi rebatizada de Faktor, já
indiciou Fernando Sarney sob
acusação de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de
dinheiro e falsidade ideológica.
Ele nega as irregularidades.
A remessa para a China é alvo
da Faktor. Em 2009, Fernando
negou a movimentação em entrevista à Folha. Laudo enviado pelo governo chinês para o
Departamento de Recuperação
de Ativos do Ministério da Justiça contradiz a versão do empresário.
A partir de autorização assinada por Fernando, autoridades chinesas rastrearam a origem do dinheiro e confirmaram que os recursos foram creditados na conta da Prestige
Cycle Parts & Accessories Limited (pelo nome, uma empresa de acessórios de bicicleta),
conforme ordem bancária.
Os investigadores brasileiros
ainda não sabem qual a finalidade desse depósito. Acordos
multilaterais permitem ao governo solicitar bloqueio e a repatriação de recursos enviados
ilegalmente para fora do país.
Procurado pela reportagem,
Fernando disse que não se pronunciaria sobre o assunto por
orientação de seus advogados,
alegando que o inquérito policial está sob segredo de Justiça.
Conforme a Folha publicou
em 2009, as empresas da família Sarney passam por uma devassa feita pela Receita, iniciada a partir do trabalho da PF.
Os auditores detectaram indícios de crimes contra a ordem
tributária, como remessa ilegal
de recursos para o exterior, falsificação de contratos de câmbio e lavagem de dinheiro.
Segundo a reportagem apurou, não há nas declarações à
Receita das pessoas físicas e jurídicas ligadas à família a menção a nenhuma conta corrente
em paraíso fiscal no Caribe.
Durante a Faktor, a PF interceptou com autorização judicial e-mails de Fernando, seus
familiares e amigos. Em várias
dessas mensagens havia referências ao envio de US$ 1 milhão para a China. Foi numa
delas, entre Ana Clara e Teresa
Sarney, filha e mulher de Fernando, que a PF capturou a autorização assinada por ele.
Os policiais levantaram também indícios de que Fernando
contava com a ajuda do empresário Gianfranco Perasso (chamado por ele de "China" ou
"Chinaboy") para operar contas no exterior em seu nome.
Perasso é apontado pela Polícia Federal como integrante
do esquema comandado por
Fernando que teria desviado
dinheiro de obras e projetos do
governo federal.
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