São Paulo, domingo, 07 de abril de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Se decisão do TSE ficar, PSDB terá de rever 13 alianças, e PT, seis

Verticalização derruba 38 alianças políticas estaduais

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Levantamento da Folha mostra que ao menos 38 alianças eleitorais que pré-candidatos a governador em todo o país pretendem formalizar serão inviabilizadas se mantida a chamada verticalização (obrigatoriedade da repetição nos Estados das coligações nacionais).
A importância dos arranjos eleitorais estaduais para a sucessão presidencial pode ser exemplificada com o Ceará. Anteontem, o governador Tasso Jereissati (PSDB), preterido pelo partido em favor do senador José Serra na disputa presidencial, renunciou ao cargo para disputar uma vaga ao Senado. Vai apoiar para o governo do Ceará a candidatura do também tucano Lúcio Alcântara.
Em troca de aliança com o PSDB, o PPS do presidenciável Ciro Gomes decidiu no mesmo dia não lançar candidato ao governo estadual -Cid Gomes, prefeito de Sobral e irmão do ex-ministro, era o mais cotado.
O PPS lançará como candidata ao Senado a deputada estadual Patrícia Gomes, ex-mulher de Ciro. Ela fará dobradinha com Tasso, já que as eleições deste ano renovarão 54 das 81 cadeiras do Senado, elegendo dois novos senadores por Estado.
Resta saber se essa aliança será oficial ou informal. Se for mantida a decisão do TSE, como os dois partidos terão candidatos distintos a presidente, será a chamada "coligação branca", que se materializa em discursos, agendas e material de campanha comuns.
O peso desse tipo de aliança, mesmo que não-oficial, pode ser medido pelo que aconteceu em 1998 no Ceará. Tasso foi eleito governador com 62,72% dos votos. O candidato a presidente de seu partido, Fernando Henrique Cardoso, vencedor do pleito geral com 53,06% dos votos, obteve ali 30,31% dos eleitores, terminando em terceiro lugar atrás de Ciro (34,24%) e do petista Luiz Inácio Lula da Silva (32,84%).
A aliança informal entre Tasso e Ciro causou distanciamento entre o tucano cearense e FHC. Descontente com a forma com que o PSDB definiu a candidatura de Serra a presidente, Tasso manteve seu acordo de convivência pacífica e coordenada com Ciro Gomes e pode causar novo desgosto aos líderes tucanos.
Se a interpretação inicial majoritária em fevereiro era que a "verticalização" beneficiava Serra, essa idéia começa a ser revista dentro do próprio PSDB. Há 45 dias, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) era uma candidata em ascensão nas pesquisas, e o PMDB se debatia internamente para decidir se teria ou não candidato próprio a presidente. Em tese, a verticalização, devido aos arranjos estaduais, deixaria o PMDB mais próximo do PSDB, em detrimento do PFL.
Depois do baque sofrido por Roseana com o episódio Lunus (denúncias de irregularidades em financiamento da Sudam e apreensão de R$ 1,34 milhão em dinheiro no escritório da empresa), a verticalização pode deixar de ser vantajosa para o tucano.
O PSDB tem oito acordos de apoio acertados com o PMDB e sete com o PFL. Há ainda dois acertos com o PTB, dois com o PL, um com o PPS e outro com o PDT. À exceção do PMDB, com quem já acertou aliança nacional, os demais teriam de ser revistos.
"Temos chances de saltar de seis para nove governadores eleitos na próxima eleição com as coligações planejadas. Eu nunca afirmei que a verticalização era vantajosa", declara o presidente do PSDB, José Aníbal.
Ele lista como Estados de boas chances eleitorais para os tucanos São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Ceará, Paraíba, Goiás, Amazonas e Pará.
Uma das preocupações do partido é o Rio de Janeiro. Em pesquisa concluída na semana passada pelo Instituto Gerp a pedido dos tucanos, o pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho, que renunciou ao governo do Rio anteontem, aparece no Estado com 43% das intenções de voto a presidente. Serra fica com apenas 2%.
Para tentar alavancar o ex-ministro da Saúde, os tucanos tentam convencer Artur da Távola, líder do governo no Senado, a ser candidato a governador.

Esquerda
Os partidos de oposição já tomavam como certa a manutenção da verticalização. Recorreram ao STF, mas, inicialmente, mantinham esperanças pequenas de vitória. Tanto é que PT e PSB se articularam para lançar candidaturas próprias na maioria dos Estados.
Além da aliança nacional com o PL, o PT terá como inviabilizadas alianças em seis Estados. Os governadores Jorge Viana (AC) e Zeca do PT (MS) são dois dos mais prejudicados, porque haviam montado coligações com partidos como PSB, PDT e PPS.
O quadro agora mudou. O presidente do PT, José Dirceu, afirma que o próprio TSE fragilizou sua decisão de obrigar a verticalização ao permitir coligações diferenciadas nos Estados. "Foi uma incoerência, pois o TSE, ao definir a verticalização, apoiou-se na norma constitucional referente ao caráter nacional dos partidos", avaliou o petista.



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