São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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Ex-presidente ironiza "espetáculo"

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não poderá fazer a economia crescer de forma espetacular, assim como ele não pôde durante o seu mandato (1995-2002).
Em palestra realizada ontem no Fórum da Liberdade, realizado na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em Porto Alegre, disse que "estamos acostumados a cobrar tudo do governo, mas não quero cobrar do presidente Lula o que ele disse que ia fazer, o crescimento da economia, o espetáculo". "Ele [Lula] não pode fazer, como eu não podia. Não depende mais da decisão nem da vontade de um governante. Ele pode ajudar. Mas ajudar como? Criando clima propício para que a sociedade avance, porque quem vai avançar é a sociedade."
Referindo-se a promessas de resoluções imediatas para problemas sociais, FHC disse que o país "tem ainda recaídas mágicas".
"Muita idéia de que é possível resolver tudo de repente não dá certo. O processo de crescimento requer rumo e persistência."
Ao mesmo tempo em que falava genericamente na impossibilidade de um governante promover o crescimento a curto prazo, FHC, indiretamente, disse que o momento atual era propício para a atração de liquidez ao país a partir dos juros baixos existentes na economia norte-americana -os investidores procuram, então, outros mercados, onde o dinheiro é mais bem remunerado.
"Os recursos não estão pousando aqui, estão pousando na China e na Índia, porque estão apostando que lá haverá mais futuro. Não se sabe até quando uma conjuntura favorável vai continuar."
Em termos estritamente políticos, FHC criticou a forma de o PT governar, dizendo que "uma aliança tão grande" é desnecessária na medida em que a própria oposição é favorável às reformas que o governo tenta implementar.

Protestos
Durante sua palestra, FHC foi alvo de um protesto promovido pelo grupo Juventude Socialista, que, integrado por universitários, se diz apartidário. Os manifestantes não tiveram acesso ao auditório onde o ex-presidente proferia sua palestra. Mantiveram-se na porta de entrada com vaias e cartazes, como um em que estava escrito "FHC nunca mais".
Vendo que havia o protesto contra Fernando Henrique, um outro grupo, favorável ao ex-presidente, vaiou os manifestantes, com gritos de "Waldomiro!", em uma referência ao ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, pivô de uma crise no governo Lula após ser flagrado em uma gravação de 2002 pedindo financiamento eleitoral e propina para o empresário do ramos de jogos Carlos Augusto Pereira Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan (no governo de FHC) também palestrou no Fórum da Liberdade, que ocorre anualmente em Porto Alegre.


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