São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ A HORA DA IMPUNIDADE

Cinco integrantes renunciaram, e quatro aceitaram ficar no posto somente até o dia 25

Conselho de Ética se rebela após absolvição de João Paulo

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cinco integrantes do Conselho de Ética da Câmara decidiram renunciar ao órgão em protesto contra a absolvição no plenário de João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Casa, anteontem, por 256 votos contra 209.
O conselho havia recomendado a cassação de João Paulo -o oitavo congressista absolvido no escândalo do mensalão. Ontem, nove integrantes do órgão, seis deles titulares, assinaram uma carta de renúncia.
Surpreendido, o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), tentou convencer os signatários a permanecer até a votação de dois processos pendentes, os de Vadão Gomes (PP-SP) e José Janene (PP-PR).
Ao chegar à Câmara, Izar encontrou o grupo à sua espera, com a carta de renúncia já assinada, e convocou uma reunião a portas fechadas. Na sala, fez um apelo para que eles permanecessem pelo menos até a votação dos dois processos pendentes do caso do mensalão: "Fiz um apelo para que eles ficassem. Não podemos fugir da raia", disse Izar. "Eu é que teria de comandar uma renúncia. Não podemos esquecer das três grandes vitórias", citando as cassações dos deputados José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE).
Após o apelo, parte do grupo manteve a decisão de abandonar o órgão, mas alguns dos integrantes aceitaram a proposta de ficar no cargo até a votação do processo contra Vadão, agendada para o próximo dia 25. "Com tristeza comunicamos que está encerrada nossa missão neste Conselho [...] Nosso Conselho, hoje, tornou-se mais decorativo do que de decoro. Tem muito mais função estética do que de aconselhamento ético", diz a carta endereçada a Izar.
O ofício trazia a assinatura dos titulares Júlio Delgado (PSB-MG), Chico Alencar (PSOL-RJ), Orlando Fantazzini (PSOL-SP), Nelson Trad (PMDB-MS), Benedito de Lira (PP-AL) e Carlos Sampaio (PSDB-SP) e dos suplentes Cézar Schirmer (PMDB-RS), Marcelo Ortiz (PV-SP) e Cláudio Magrão (PPS-SP). Desses nove, cinco deputados -Júlio Delgado, Chico Alencar, Orlando Fantazzini, Benedito de Lira e Cézar Schirmer- disseram que não participarão de mais nenhuma reunião do Conselho. "Meu trabalho no Conselho de Ética se esgota hoje [ontem]. O plenário não tem mais nenhum pudor", disse Delgado, relator da cassação de Dirceu. Os outros quatro admitiram a possibilidade de votar somente os dois casos inacabados. Depois disso, também prometeram deixar o órgão. Edmar Moreira (PFL-MG) não assinou o ofício, mas disse que sairá após o último processo.
Relator do processo que pedia a cassação de João Paulo, Cézar Schirmer desabafou: "Tenho respeito pelos colegas do Conselho, mas não compensa. Fica a sensação de impotência diante de tamanha frouxidão moral que estamos vendo", declarou.
João Paulo foi acusado de ter se beneficiado de um saque de R$ 50 mil feito pela sua mulher nas contas de Marcos Valério no Banco Rural, no dia 4 de setembro de 2003. No dia anterior, o próprio João Paulo recebeu Valério. O petista também é acusado de ter favorecido Marcos Valério para que sua agência SMPB ganhasse a conta de publicidade da Câmara dos Deputados em 2003.

"Pizza"
Desde o início da crise do "mensalão", o Conselho recomendou 11 cassações de mandato e duas absolvições. O plenário acatou as duas absolvições, mas reverteu seis cassações. Outros dois casos ainda serão julgados no plenário (ambos pela cassação) e dois seguem no Conselho.
A saída em bloco dos deputados deverá mudar substancialmente a composição do Conselho e, conseqüentemente, afetar as próximas decisões. Isso porque a indicação dos deputados ao Conselho é feita pelos partidos no início da legislatura e dura por quatro anos. Caso o deputado mude de partido, ele não perde a vaga. Mas caso ele abandone o Conselho, como ocorre agora, a vaga volta para o partido de origem.
Por exemplo: com a renúncia dos deputados do PSOL (ex-petistas), o PT retoma duas cadeiras e passa a controlar três votos. Nos bastidores, fala-se que PP e PT vêem na mudança dos nomes uma chance de absolver Vadão e Janene já no Conselho, evitando com isso mais desgaste no plenário da Câmara.
No caso de Janene, com o afastamento da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), ainda será nomeado um novo relator para o processo, mas há impasse regimental sobre a contagem de novo prazo, o que poderá prolongar o caso por meses.


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