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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ A HORA DA IMPUNIDADE
Cinco integrantes renunciaram, e quatro aceitaram ficar no posto somente até o dia 25
Conselho de Ética se rebela após absolvição de João Paulo
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cinco integrantes do Conselho
de Ética da Câmara decidiram renunciar ao órgão em protesto
contra a absolvição no plenário de
João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Casa, anteontem,
por 256 votos contra 209.
O conselho havia recomendado
a cassação de João Paulo -o oitavo congressista absolvido no escândalo do mensalão. Ontem, nove integrantes do órgão, seis deles
titulares, assinaram uma carta de
renúncia.
Surpreendido, o presidente do
conselho, Ricardo Izar (PTB-SP),
tentou convencer os signatários a
permanecer até a votação de dois
processos pendentes, os de Vadão
Gomes (PP-SP) e José Janene (PP-PR).
Ao chegar à Câmara, Izar encontrou o grupo à sua espera,
com a carta de renúncia já assinada, e convocou uma reunião a
portas fechadas. Na sala, fez um
apelo para que eles permanecessem pelo menos até a votação dos
dois processos pendentes do caso
do mensalão: "Fiz um apelo para
que eles ficassem. Não podemos
fugir da raia", disse Izar. "Eu é que
teria de comandar uma renúncia.
Não podemos esquecer das três
grandes vitórias", citando as cassações dos deputados José Dirceu
(PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE).
Após o apelo, parte do grupo
manteve a decisão de abandonar
o órgão, mas alguns dos integrantes aceitaram a proposta de ficar
no cargo até a votação do processo contra Vadão, agendada para o
próximo dia 25. "Com tristeza comunicamos que está encerrada
nossa missão neste Conselho [...]
Nosso Conselho, hoje, tornou-se
mais decorativo do que de decoro. Tem muito mais função estética do que de aconselhamento ético", diz a carta endereçada a Izar.
O ofício trazia a assinatura dos
titulares Júlio Delgado (PSB-MG),
Chico Alencar (PSOL-RJ), Orlando Fantazzini (PSOL-SP), Nelson
Trad (PMDB-MS), Benedito de
Lira (PP-AL) e Carlos Sampaio
(PSDB-SP) e dos suplentes Cézar
Schirmer (PMDB-RS), Marcelo
Ortiz (PV-SP) e Cláudio Magrão
(PPS-SP). Desses nove, cinco deputados -Júlio Delgado, Chico
Alencar, Orlando Fantazzini, Benedito de Lira e Cézar Schirmer-
disseram que não participarão de
mais nenhuma reunião do Conselho. "Meu trabalho no Conselho
de Ética se esgota hoje [ontem]. O
plenário não tem mais nenhum
pudor", disse Delgado, relator da
cassação de Dirceu. Os outros
quatro admitiram a possibilidade
de votar somente os dois casos
inacabados. Depois disso, também prometeram deixar o órgão.
Edmar Moreira (PFL-MG) não
assinou o ofício, mas disse que
sairá após o último processo.
Relator do processo que pedia a
cassação de João Paulo, Cézar
Schirmer desabafou: "Tenho respeito pelos colegas do Conselho,
mas não compensa. Fica a sensação de impotência diante de tamanha frouxidão moral que estamos vendo", declarou.
João Paulo foi acusado de ter se
beneficiado de um saque de R$ 50
mil feito pela sua mulher nas contas de Marcos Valério no Banco
Rural, no dia 4 de setembro de
2003. No dia anterior, o próprio
João Paulo recebeu Valério. O petista também é acusado de ter favorecido Marcos Valério para que
sua agência SMPB ganhasse a
conta de publicidade da Câmara
dos Deputados em 2003.
"Pizza"
Desde o início da crise do "mensalão", o Conselho recomendou
11 cassações de mandato e duas
absolvições. O plenário acatou as
duas absolvições, mas reverteu
seis cassações. Outros dois casos
ainda serão julgados no plenário
(ambos pela cassação) e dois seguem no Conselho.
A saída em bloco dos deputados
deverá mudar substancialmente a
composição do Conselho e, conseqüentemente, afetar as próximas decisões. Isso porque a indicação dos deputados ao Conselho
é feita pelos partidos no início da
legislatura e dura por quatro anos.
Caso o deputado mude de partido, ele não perde a vaga. Mas caso
ele abandone o Conselho, como
ocorre agora, a vaga volta para o
partido de origem.
Por exemplo: com a renúncia
dos deputados do PSOL (ex-petistas), o PT retoma duas cadeiras e
passa a controlar três votos. Nos
bastidores, fala-se que PP e PT
vêem na mudança dos nomes
uma chance de absolver Vadão e
Janene já no Conselho, evitando
com isso mais desgaste no plenário da Câmara.
No caso de Janene, com o afastamento da deputada Ângela
Guadagnin (PT-SP), ainda será
nomeado um novo relator para o
processo, mas há impasse regimental sobre a contagem de novo
prazo, o que poderá prolongar o
caso por meses.
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