São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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PF vê elementos para apurar o vazamento de dossiê anti-FHC

Diretor-geral de instituição discute com ministro da Justiça se será aberto inquérito

Caso Polícia Federal entre na investigação, idéia é que não seja apurada motivação política do governo para elaborar dossiê da era FHC

ANDRÉA MICHAEL
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, existem elementos que justificam a abertura de um inquérito para apurar o vazamento de trechos de um dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, da sua mulher Ruth, de ex-ministros tucanos e até da ex-chef do Planalto Roberta Sudbrack.
O ministro Tarso Genro (Justiça) se reúne hoje com a direção da PF para discutir se a instituição participará da investigação do caso. Segundo apurou a Folha, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) passou a Tarso, no final de semana, informações sobre o caso.
O Palácio do Planalto quer que a PF investigue quem vazou os dados e quem invadiu os computadores da Casa Civil, mas não deseja apuração sobre eventual motivação política do governo para elaborar o dossiê a fim de intimidar a oposição na CPI dos Cartões.
De acordo com a assessoria do diretor-geral da PF, Corrêa considera que o fato decisivo para a abertura do inquérito foi a publicação, pela Folha, na última sexta-feira, de uma foto na qual a reprodução da imagem de uma tela de computador comprova que trechos do dossiê saíram da Casa Civil.
Como se trata de um órgão federal, é atribuição constitucional da PF investigar o episódio e chegar ao responsável pelo repasse ilegal das informações. Ainda segundo a assessoria do delegado, a Corrêa não cabe fazer a discussão se as informações seriam sigilosas ou não. Também não é necessário que a PF seja instada a atuar, diante da comprovação pela fotografia publicada, de que os dados efetivamente saíram da Casa Civil.
Na avaliação da cúpula do governo, a entrada da PF na investigação ajudaria a fortalecer a versão de que Dilma é inocente e que não teme eventuais revelações que possam prejudicá-la politicamente. Antes de se reunir com a direção da PF, Tarso participará do encontro semanal que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz com seus principais ministros para discutir as prioridades do governo.
Por ora, Lula continua empenhado em proteger Dilma, ministra que ele tenta viabilizar como candidata do PT na eleição presidencial de 2010.
Se iniciada a investigação, que deve ser conduzida pela Diretoria de Inteligência Policial ou pela Superintendência da PF no Distrito Federal, dificilmente a apuração se manterá nos limites de identificação do responsável pelo vazamento, como deseja o Planalto.
Se a PF descobrir quem invadiu e vazou os dados, provavelmente perguntará quais foram suas motivações.
Na sexta-feira, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) apresentou um pedido oficial à Superintendência da PF em Pernambuco no qual requer a investigação de tudo relacionado ao episódio. Foi uma maneira de derrubar o argumento, até então usado pelo ministro da Justiça, de que havia necessidade de provocar a PF para que a instituição entrasse no caso -um entendimento hoje aparentemente superado por razões técnicas e que aponta uma mudança nos argumentos de Tarso Genro desde a deflagração do caso.
A análise do dossiê ao qual a Folha teve acesso mostra que o documento foi elaborado com viés político. Não há, por exemplo, seqüência cronológica das despesas incluídas na organização da maior parte das planilhas do documento, de 27 páginas. Foram pinçados dados específicos sobre o governo anterior, sigilosos e públicos e foi feita uma coluna com o nome de "observações" sobre gastos.


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