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Lula adota cautela e evita falar sobre caso Vale
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT adotou ontem cautela absoluta ao tratar da crise dentro do
campo governista, causada por
um suposto pedido de propina na
venda da Companhia Vale do Rio
Doce, privatizada em 1997.
Líderes partidários evitaram fazer declarações contundentes sobre o episódio e "blindaram" o
pré-candidato a presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que não se
pronunciou a respeito.
Com vantagem folgada nas pesquisas de intenção de voto, o PT
assiste de uma posição confortável à crise na pré-candidatura de
José Serra (PSDB). A ordem no
comando lulista é aproveitar o
momento para divulgar uma
agenda "positiva". Uma polarização radical com o governo não
ajudaria em nada.
O tom cauteloso foi dado pelo
presidente nacional do partido,
José Dirceu. "O presidente Fernando Henrique e os ministros
[Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, e Paulo Renato Souza, ministro da Educação" podem ter
prevaricado ao não dar prosseguimento à denúncia que receberam", declarou Dirceu. "Não estou dizendo que prevaricaram,
estou dizendo que podem ter prevaricado. Isso quem vai dizer é o
Ministério Público."
Protegido por assessores e dirigentes petistas, Lula não falou sobre o caso. Deixou a tarefa exclusivamente a seu porta-voz, André
Singer, que deu, sem detalhes, a
posição oficial do partido, de que
quer uma "ampla investigação".
No único evento público que teve no dia, a inauguração de um
comitê formado por sindicalistas,
Lula evitou falar de política. Entrou mudo e foi direto para uma
sala. O deputado Aloizio Mercadante foi escalado para falar com
a imprensa, diante da insistência
dos jornalistas. "Hoje, ele vai falar
sobre sindicalismo", avisou.
Na saída, assessores de Lula receberam ordem de Dirceu para
evitar o contato do presidenciável
com a imprensa.
Contas
O PT também não inclui, no
modelo de CPI que defende para
investigar o caso, a suposta existência de caixa dois na campanha
de Serra para o Senado em 94.
"Trata-se de se concentrar no
episódio mais significativo e fundamental [o suposto pedido de
propina"", afirmou Mercadante.
Segundo o deputado, o caso da
propina é mais importante que o
do caixa dois, entre outros motivos, porque Serra não teria cometido, à luz da legislação eleitoral de
94, irregularidade ao deixar de declarar doação do empresário Carlos Jereissati em horas de vôo. Para os petistas, a Lei Eleitoral, na
época, não exigia o detalhamento.
"Naquela época, era possível
que isso fosse feito, não era obrigatório a declaração daquele tipo
de serviço", disse. No entendimento do petista, somente a Lei
Eleitoral aprovada para as eleições presidenciais de 98 passou a
exigir que houvesse o detalhamento das doações.
O petista garantiu que o partido
defende, mesmo assim, a apuração das acusações. "A ética está
acima das circunstâncias", disse.
A aposta entre líderes do partido é que as acusações feitas até o
momento contra Ricardo Sérgio
de Oliveira ferem a pré-candidatura de Serra, mas que não serão
suficientes para inviabilizá-la. A
menos que novos fatos surjam,
diretamente ligados ao tucano.
Ninguém na cúpula petista trabalha a sério, no momento, com a
possibilidade de Serra precisar ser
substituído na chapa. "Não é nossa função discutir o futuro da candidatura do governo. Queremos é
falar sobre programa de governo", afirmou Dirceu.
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