São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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Lula adota cautela e evita falar sobre caso Vale

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT adotou ontem cautela absoluta ao tratar da crise dentro do campo governista, causada por um suposto pedido de propina na venda da Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.
Líderes partidários evitaram fazer declarações contundentes sobre o episódio e "blindaram" o pré-candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não se pronunciou a respeito.
Com vantagem folgada nas pesquisas de intenção de voto, o PT assiste de uma posição confortável à crise na pré-candidatura de José Serra (PSDB). A ordem no comando lulista é aproveitar o momento para divulgar uma agenda "positiva". Uma polarização radical com o governo não ajudaria em nada.
O tom cauteloso foi dado pelo presidente nacional do partido, José Dirceu. "O presidente Fernando Henrique e os ministros [Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, e Paulo Renato Souza, ministro da Educação" podem ter prevaricado ao não dar prosseguimento à denúncia que receberam", declarou Dirceu. "Não estou dizendo que prevaricaram, estou dizendo que podem ter prevaricado. Isso quem vai dizer é o Ministério Público."
Protegido por assessores e dirigentes petistas, Lula não falou sobre o caso. Deixou a tarefa exclusivamente a seu porta-voz, André Singer, que deu, sem detalhes, a posição oficial do partido, de que quer uma "ampla investigação".
No único evento público que teve no dia, a inauguração de um comitê formado por sindicalistas, Lula evitou falar de política. Entrou mudo e foi direto para uma sala. O deputado Aloizio Mercadante foi escalado para falar com a imprensa, diante da insistência dos jornalistas. "Hoje, ele vai falar sobre sindicalismo", avisou.
Na saída, assessores de Lula receberam ordem de Dirceu para evitar o contato do presidenciável com a imprensa.

Contas
O PT também não inclui, no modelo de CPI que defende para investigar o caso, a suposta existência de caixa dois na campanha de Serra para o Senado em 94.
"Trata-se de se concentrar no episódio mais significativo e fundamental [o suposto pedido de propina"", afirmou Mercadante.
Segundo o deputado, o caso da propina é mais importante que o do caixa dois, entre outros motivos, porque Serra não teria cometido, à luz da legislação eleitoral de 94, irregularidade ao deixar de declarar doação do empresário Carlos Jereissati em horas de vôo. Para os petistas, a Lei Eleitoral, na época, não exigia o detalhamento.
"Naquela época, era possível que isso fosse feito, não era obrigatório a declaração daquele tipo de serviço", disse. No entendimento do petista, somente a Lei Eleitoral aprovada para as eleições presidenciais de 98 passou a exigir que houvesse o detalhamento das doações.
O petista garantiu que o partido defende, mesmo assim, a apuração das acusações. "A ética está acima das circunstâncias", disse.
A aposta entre líderes do partido é que as acusações feitas até o momento contra Ricardo Sérgio de Oliveira ferem a pré-candidatura de Serra, mas que não serão suficientes para inviabilizá-la. A menos que novos fatos surjam, diretamente ligados ao tucano.
Ninguém na cúpula petista trabalha a sério, no momento, com a possibilidade de Serra precisar ser substituído na chapa. "Não é nossa função discutir o futuro da candidatura do governo. Queremos é falar sobre programa de governo", afirmou Dirceu.


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