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COMUNICAÇÕES
Advogados ouvidos pela Folha afirmam que contrato é irregular
Governo libera concessão de
TV negada a Gugu sob FHC
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro das Comunicações,
Hélio Costa, assinou, na última
quarta-feira, um contrato de concessão de canal de TV em Cuiabá
para a empresa Pantanal Som e
Imagem, que, oficialmente, pertenceu a Gugu Liberato até o dia
23 de março. Segundo advogados,
o ato do ministro é irregular, porque a composição societária que
consta do contrato de concessão é
diferente daquela que foi aprovada pelo Congresso Nacional.
Em outubro de 2002, uma semana antes do segundo turno da
eleição presidencial, o então ministro das Comunicações, Juarez
Quadros do Nascimento, havia
cancelado a concessão para o
mesmo canal de TV que foi outorgado a Liberato, que fazia propaganda partidária para o PSDB.
Para Juarez Quadros, o contrato
agora assinado por Hélio Costa
contém o mesmo vício que levou
à anulação da concessão concedida a Gugu Liberato em 2002.
O "Diário Oficial da União" de
quinta-feira traz o extrato do contrato assinado por Hélio Costa e
pela sócia representante da Pantanal, Vera Lúcia Fanaia Klauk. Segundo a Junta Comercial de Mato
Grosso, Antonio Augusto Moraes
Liberato e a irmã dele, Aparecida
Liberato Caetano, venderam 98%
das cotas da Pantanal para Vera
Klauk e os 2% restantes para
Mauro Uchaki, em 23 de março.
Advogados ouvidos pela Folha
afirmam que Vera Klauk não poderia, legalmente, ter assumido o
controle da Pantanal Som e Imagem. A empresa foi criada em
1997 em nome de Irinéia Moraes
da Silva e de Mauro Uchaki, cada
um com 50% das cotas.
""A concessão de radiodifusão é
"intuito personae", ou seja, é dada
em caráter personalíssimo. No caso, só poderia ser outorgada para
as pessoas que foram habilitadas
na licitação", diz o advogado de
radiodifusão Fernando Perazzo.
Sócios originais
A Pantanal venceu a licitação
tendo sido habilitados os dois sócios originais, que, segundo a Folha apurou, eram empregados de
Vera Klauk, na ocasião. Ela se
propôs a pagar R$ 1 milhão ao governo federal pela concessão, valor que, atualizado, corresponde a
cerca de R$ 2,5 milhões.
O processo de outorga para a
Pantanal foi aprovado pelo Congresso Nacional (a Constituição
determina que as outorgas de rádio e TV sejam aprovadas pela
Câmara e pelo Senado) em nome
dos sócios originais (Irinéia e
Mauro Uchaki), segundo consta
da edição de 21 de junho de 2002
do "Diário Oficial do Senado".
Para o consultor jurídico da
Abert (Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e Televisão),
Alexandre Jobim, a concessão só
poderia ter sido outorgada aos sócios aprovados pelo Legislativo.
Depois de o contrato de concessão ser assinado, diz ele, é possível
a venda de até 50% das cotas, mas
a transferência total de controle
só pode ocorrer decorridos pelo
menos cinco anos de funcionamento da emissora.
Ocorre que a empresa mudou
de mãos duas vezes após o início
da licitação. Em agosto de 98, Vera Lúcia Klauk assumiu as ações
que pertenciam a Irinéia Moraes
da Silva, bem como a quase totalidade das que estavam em nome
de Mauro Uchaki, que ficou com
2%. Aposentado, ele vive com a
mãe em Sorocaba (São Paulo).
Em dezembro de 2001, Liberato
e a irmã, Aparecida Liberato Caetano, compraram todas as cotas
da empresa e registraram o negócio na Junta Comercial de Mato
Grosso. Na ocasião, um funcionário da delegacia do Ministério das
Comunicações forneceu um atestado a Gugu autorizando a transferência da empresa para seu nome, o que mais tarde se comprovou ilegal. Hoje, a assessoria jurídica de Hélio Costa diz que Liberato agiu de boa fé.
Liberato tentou reverter a anulação da concessão na Justiça.
Perdeu a causa no STJ (Superior
Tribunal de Justiça), mas ainda
tentava um recurso final no STF
(Supremo Tribunal Federal).
Hélio Costa autorizou Gugu Liberato a cancelar a compra da
Pantanal, que tinha sido registrada na Junta Comercial de Mato
Grosso, em 2001. No dia 23 de
março, um ofício assinado por
Costa chegou às mãos dos advogados de Liberato, em São Paulo.
No ofício, ao qual a Folha teve
acesso, ele prometeu que, se a empresa tomasse as providências
que havia aprovado, poderia assinar um novo contrato de concessão. No mesmo dia em que o ministro assinou o ofício, Liberato
registrou a venda das ações para a
antiga sócia na Junta Comercial.
No dia 28 de abril, a Pantanal entrou com pedido de desistência da
ação iniciada por Gugu Liberato
no STF.
Elvis Klauk, marido e procurador de Vera Klauk, afirmou à Folha que cogita alugar o prédio e os
equipamentos da emissora que
Gugu Liberato montou em Cuiabá. Questionado sobre se a mulher dele teria recursos para pagar
o valor da concessão ao governo,
disse que a família tem outros negócios e que buscará obter empréstimos no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
De acordo com Klauk, Liberato
""desanimou-se da TV" e, por causa disso, vendeu a empresa.
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