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Vítima de leucemia, Enéas morre no Rio aos 68 anos
Três vezes candidato ao Planalto, foi eleito à Câmara com 1,57 mi de votos em 2002
De família pobre, chegou a simpatizar com o PCB na época em que estudava na faculdade, mas depois se tornou ultranacionalista
Jorge Araújo - 3.mar.2000/Folha Imagem
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DA SUCURSAL DO RIO
Enéas Carneiro (PR-SP), 68,
o deputado federal mais votado
em números absolutos na história do País (1,57 milhão de votos em 2002), morreu ontem às
14h no Rio de falência múltipla
dos órgãos decorrente de uma
leucemia. Era médico cardiologista, professor universitário e
parlamentar desde 2003.
A Câmara suspendeu a sessão de hoje e manterá a bandeira nacional a meio-mastro. Segundo o líder do PR na Câmara,
Luciano Castro, Enéas estava
doente desde o início de 2006.
Ele fazia sessões de quimioterapia e vinha de uma série de
internações para combater o
câncer. Adriana Lorendi, ex-mulher de Enéas, disse que ele
acreditava que a quimioterapia
não estava surtindo efeito e desistiu das sessões. Há cinco
dias, os médicos o autorizaram
a ficar em casa. O velório será
no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, das 9h às 16h.
"Ele vinha em uma luta muito grande contra a doença. Foi
uma grande perda. Ele foi uma
figura de renome nacional. Lamento que não tenha chegado a
vivenciar o partido [PR] que
ajudou a criar", disse Castro.
No ano passado, ele aceitou a
fusão do Prona com o PL.
Em abril de 2006, causou
surpresa na Câmara ao aparecer sem sua barba negra, após
três semanas em licença médica: "Perdi minha barba, mas,
com ajuda de Deus, estou vivo".
E atualizou o slogan: "O importante é que, com barba ou sem
barba, meu nome é Enéas".
Enéas ostentava a barba longa e óculos de aros escuros desde 1989, quando concorreu pela primeira vez à Presidência
como candidato do partido que
criou, o Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional).
Com 15 segundos por inserção,
concluía suas mensagens rapidamente, finalizando com o
bordão "Meu nome é Enéas!".
Simpatizante do PCB na juventude, dizia ter se afastado
do marxismo depois que Jacques Monod, Prêmio Nobel de
Medicina em 1965, "provou que
o funcionamento das moléculas de RNA e DNA não era previsto pelo materialismo dialético". Dizia anular o voto desde
que Jânio Quadros o "decepcionou" e que o golpe de 1964
não afetou o "cidadão comum".
Ficou conhecido pelas posições ultranacionalistas. Criticava Lula por ignorar a "bauxita refratária". Em 1998 defendeu a fabricação da bomba atômica, "para sermos respeitados". Após três tentativas frustradas de se eleger presidente,
em 2002 teve votação recorde
para a Câmara, elegendo sozinho outros cinco deputados. Só
um ficou no partido -os demais foram acusados de envolvimento com os sanguessugas.
Em 2003, teve os sigilos bancário e fiscal quebrados pela
Justiça sob acusação de ter
vendido candidaturas nas chapas do Prona e foi acusado de
embolsar verbas de custeio da
Câmara. Negava as acusações.
Como parlamentar, teve
atuação apagada -só apresentou dois projetos de lei- e acabou reeleito com votação bem
mais modesta: 386.905 votos.
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