São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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"PF vai responsabilizar pistoleiros", diz Tarso

Ministro pede calma a índios durante visita a fazenda invadida anteontem e é chamado de "irresponsável" por prefeito de Pacaraima (RR)

Petista não foi reconhecido por líder indígena e teve a escolta de pelo menos 20 policiais, além de proteção de um helicóptero da PF


HUDSON CORRÊA
DO ENVIADO À VILA DO SURUMU (RR)

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou ontem -dentro da fazenda onde nove índios foram feridos anteontem na reserva Raposa/Serra do Sol em Roraima- que a Polícia Federal vai "responsabilizar os pistoleiros" que feriram os índios.
Escoltado por ao menos 20 policiais e protegido por helicóptero que fazia sobrevôos em círculos com um atirador na porta, Tarso chegou, foi cercado por índios e disse: "Estamos aqui para fazer uma investigação e responsabilizar as pessoas que causaram esse incidente grave. Confiem no trabalho da PF e da Força Nacional".
"O senhor quem é?", perguntou o líder macuxi Djacir Merequior da Silva. "Sou ministro da Justiça do país", disse Tarso. "Como é o nome do senhor?", disse Djacir. "Tarso Genro", respondeu o ministro, que veio de helicóptero de Boa Vista, desceu em Vila do Surumu e foi ao local onde os índios montaram 20 barracas anteontem.
Tarso pediu calma aos índios, mas ouviu que eles vão recuperar a terra "na lei ou na marra". Cerca de cem indígenas permanecem na fazenda.
"É um irresponsável. [Tarso] veio aqui ver o que a política indígena do governo Lula criou", disse o dono da fazenda, Paulo César Quartiero (DEM), prefeito de Pacaraima, município onde está a terra indígena, no início da tarde, antes de ser preso.
Quartiero lidera movimento de produtores de arroz que lutam para manter fazendas na área homologada como indígena por Lula em 2005. Ele admite que seus funcionários, encapuzados, atiraram contra os índios, mas só para se defender.
Segundo o líder indígena Djacir Merequior disse à Folha, mais índios estão chegando à área para manter a invasão. Mesmo se a demarcação for revista pelo STF, os índios vão retirar os produtores da arroz da área, disse o líder Martinho Macuxi Souza, 37.
A desocupação da Raposa foi suspensa pelo STF. Ao menos cem policiais federais e da Força Nacional, porém, estão na Vila do Surumu. "Vai ser breve, daqui a 15, 30 dias sai a decisão do Supremo", disse Tarso.
Tarso afirmou que conversou com o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, relator do processo da Raposa/Serra do Sol e informou que o inquérito para apurar quem "são os pistoleiros e mandantes" não fere a decisão do Supremo de suspender a desocupação.
O ministro disse que terra indígena na fronteira "não afeta a soberania nacional coisa nenhuma. Uns estão desinformados e outros acham que a única forma de ocupação é deixar fazendeiros trabalharem. Isso é um preconceito", disse.
Quartiero rebate: "O que o CIR [Conselho Indígena] e as ONGs estão pedindo é um cadáver, igual à [freira] Dorothy Stang [assinada em 2005]. Quase conseguiram".
O prefeito disse que entrou na Justiça com pedido de reintegração de posse da fazenda.
O governo federal protocolou ontem no STF pedido de mandado de busca e apreensão para que PF e Força Nacional retirem dos não-índios da reserva armas, munições e explosivos. O texto, da Advocacia Geral da União e da Funai, diz que foi "legítimo" o ato dos índios.


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