São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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JANIO DE FREITAS

Dois prisioneiros


Tanto Serra como Dilma poderia ser tomado, por pessoa menos informada, como o candidato de Lula


SEMELHANTES ENTRE si como jamais foram outros candidatos importantes em eleições passadas, Dilma Rousseff e José Serra estão levando suas identificações, diante do eleitorado, a ponto de se tornarem prisioneiros do mesmo condicionamento, forçados pelo mesmo algoz.
Ambos tecnocratas por formação, engenheiros os dois, no entanto guardam resquícios do passado de esquerdismo que em Serra são mais velados, desde sempre ou por conveniência do caminho político que adotou; em Dilma, seja qual for sua dimensão, velados até para não contrastar com o populismo assistencialista do governo em que se realçou.
Ambos pouco dotados de habilidade, nem se diga de talento, para o jogo político mais sofisticado, mesmo o simples convívio com a política parece ser-lhes penoso, exigente de um esforço que, com frequência, não conteve a impaciência e seus canhonaços. Não são do tipo seduzido pelas artimanhas e transações da política, mas dos que anteveem, e buscam, poder. Nada mais diferente, por exemplo, do que Dilma e Serra e, de outra parte, Aécio Neves, que exala o prazer com cada instante de política.
Mas quem se apresenta na disputa pela Presidência não é José Serra. A menos que pudesse, e quisesse, contrapor-se a um presidente com a popularidade de Lula, cavando possibilidades de desmentidos e denúncias para compor uma bandeira de mudança, a Serra só restaria enquadrar-se na estreiteza de uma contenção que, até prova contrária, tanto lhe convém como a Lula e Dilma. Daí, porém, extrapolou-se Serrinha Paz e Amor, não se sabe se por deliberação ou por dificuldade de dosagem da contenção. Até agora, o candidato.
Guardadas as proporções inevitáveis, Serra mantém em relação a Lula e ao governo -ou seja, ao que sua adversária pretende representar para o eleitorado- atitude paralela à de Dilma. Seu mais recente avanço nessa linha vai muito além do que se esperasse como tática eleitoral. A propósito do aumento das aposentadorias, aprovado na Câmara acima do proposto pelo governo: "Tem gente séria no governo. O presidente é um homem que acompanha as coisas. E eles vão decidir. O que eles decidirem, eu vou apoiar".
Nem Dilma Rousseff chegou até aí. Dilma que, para ser a promessa de continuidade, precisa ser o aplauso e o eco, sem deixar saber até onde a candidata de Lula é também a Dilma Rousseff.
Os candidatos mais destacados estão como dois prisioneiros das mesmas contingências. Qualquer um dos dois poderia ser tomado, por pessoa menos informada, como o candidato de Lula e das políticas do governo. À primeira vista, é isso mesmo que leva José Serra a fazer o Serrinha Paz e Amor. Mas há um risco: Lula, se achar necessário, pode apontá-lo ao eleitorado como ameaça aos programas da sua popularidade; e a resposta de Serra estará comprometida pelo anterior lulismo de Serrinha Paz e Amor.


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