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NORDESTE
Inpe, órgão oficial, fez relatório avisando sobre queda nas chuvas
Governo já sabia que seca
seria aguda há seis meses
da Sucursal de Brasília
Seis meses antes de o governo
anunciar às
pressas as primeiras medidas
de emergência
contra a seca, o
alerta soou na Esplanada dos Ministérios. Um relatório do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) apontava uma redução
drástica das chuvas no Nordeste.
Segundo o Inpe, o único período
que a região recebe chuvas é de fevereiro a maio. O problema é que
as chuvas, muito abaixo do necessário, não têm sido suficientes.
Previsão do órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia é de
que a seca continue até junho.
Os anunciados efeitos do El Niño levaram, em outubro do ano
passado, à criação de um grupo de
trabalho, coordenado pela Secretaria de Políticas Regionais.
O ofício número 579, assinado
pelo então secretário Fernando
Catão, convocava a primeira reunião do grupo para 8 de outubro e
apontava um "quadro de dificuldades econômicas e sociais".
A comissão deveria apontar
"ações emergenciais, compensatórias e estruturadoras", dizia o
ofício recuperado pela Folha.
O produto das discussões se perdeu com a exoneração de Catão no
final de abril, segundo informação
do Ministério do Planejamento.
"Não tenho essa memória: não
costumo levar papel público para
casa", disse Catão, que tem se dedicado à campanha eleitoral na
Paraíba desde que deixou o cargo.
Resultado: em abril, quando a
Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) contabilizou 10 milhões de pessoas
atingidas pela seca e 1.209 municípios em situação crítica, o governo
não viu o que fazer além de apressar a distribuição de alimentos.
A decisão foi tomada na Casa Civil, apesar da preocupação com o
uso político das cestas básicas. A
única medida disponível para enfrentar os saques não podia esperar pela formação de comissões
municipais encarregadas de fiscalizar a distribuição de alimentos.
Catão conta que as discussões
não avançaram enquanto estiveram sob seu comando. "O terceiro e o quarto escalões do governo
não demonstravam interesse. A
Casa Civil entrou neste ano para
dar peso ao debate."
Ele não sabe o destino da proposta mais "criativa": criar postos
de trabalho com recursos públicos
e sem seguir as obrigações trabalhistas. "Era o nosso ovo de Colombo, mas enfrentou uma discussão jurídica difícil."
O Programa Comunidade Solidária sugeriu outras medidas que
não saíram do papel, como o reforço da merenda escolar (de R$
0,13 para R$ 0,20 "per capita") e a
concessão de bolsas de estudo para os chefes de família.
Para provar que não agiu de forma improvisada, o governo fez
um levantamento das verbas públicas para o Nordeste. O gasto foi
autorizado até o fim do ano.
O Ministério do Planejamento
somou R$ 1,5 bilhão de dotações
do Orçamento da União, mas não
informou quanto foi liberado.
A maior fatia de dinheiro está
vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente. Poderá ser aplicado em
projetos de irrigação, construção
de açudes e perfuração de poços.
A solução definitiva para as secas
ainda encontra-se em fase de estudos. Em mensagem ao Congresso,
FHC avisou em fevereiro que a
execução do projeto se dará em
trinta anos.
(MARTA SALOMON)
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