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ELIO GASPARI
O PT toma sorvete com a testa
Quem não se lembra de Hillary Clinton dizendo que as
acusações de adultério feitas contra seu marido eram parte de
uma "vasta conspiração da direita"? Isso foi em janeiro de 1998.
Em julho, Monica Lewinsky contou ao Ministério Público o que
fazia com o marido da madame.
Em agosto, o FBI terminou o exame das manchas em seu vestido.
Em setembro, Clinton pediu desculpas ao povo americano. Como
ficou quem acreditou na "vasta
conspiração da direita"? No papel
de bobo.
Pois Luiz Inácio Lula da Silva e
José Dirceu, dois grão-duques do
PT, estão querendo transformar a
agressão ao governador Mário
Covas numa "vasta conspiração
da direita". É o velho truque de
transformar o fato (o adultério ou
a agressão) num efeito (o interesse da direita ou o de Covas). Assim, nada é o que é. Tudo é encarnação do se quer que seja. Dona
Hillary queria que houvesse uma
conspiração. Lula e Dirceu querem que o episódio de quinta-feira passada seja discutido à luz
das intenções de Covas.
As intenções de Covas não têm
a menor importância. O governador de São Paulo, assim como um
trabalhador sem carteira assinada, tem o direito de atravessar a
praça da República e entrar pela
porta da frente na Secretaria da
Educação. Ponto. O resto é caso
de polícia. Ele teve a valentia de
apanhar. A mesma valentia que
fez o nome de Lula e de seus metalúrgicos nos anos 80. Se a polícia do governador bate nos grevistas, ele é fascista. Se o governador, sem polícia, apanha desses
mesmos grevistas, ele é um provocador. Se faz as duas coisas, é um
provocador fascista. Provocador
de quê? Do direito de um governador atravessar uma praça?
O doutor José Dirceu disse num
comício que o governo precisa
"apanhar nas ruas e nas urnas".
Teria feito melhor se não dissesse,
mas isso tem pouca importância
diante da mistificação que desenvolveu para se explicar. Afirma
que usou o termo "apanhar" como sinônimo de "sofrer derrota".
José Dirceu já apanhou (em 1968,
quando Mário Covas defendia os
direitos de os estudantes se manifestarem e perdeu o mandato) e já
sofreu derrotas (imposta por Mário Covas, nas urnas, em 1995). Se
puxar pela memória, verá quanto
dói um sinônimo.
O mesmo Dirceu diz que "o governo quer tirar a legitimidade
dos movimentos, como se fazia na
ditadura". Lorota. Na ditadura,
Dirceu foi preso e banido em troca da libertação do embaixador
norte-americano Charles Elbrick,
sequestrado em 1969. Regressou
ao Brasil como Carlos Henrique
Gouvea de Melo, tornando-se
vendedor de roupas para ocultar
sua militância clandestina. Só
voltou a ser José Dirceu de Oliveira e Silva quando a atividade de
políticos como Mário Covas ampliou a legitimidade da oposição
e buscou a anistia.
Covas nunca fez coisas semelhantes ao que fizeram as ditaduras. Nem as dos generais, nem as
do proletariado. Dirceu fala em
"movimentos". O que vem a ser
essa coisa? Há os movimentos dos
fluídos, há também o rebolado e o
"allegro con brio" da 5ª Sinfonia
de Beethoven. Parolagem. Dirceu
chama de "movimentos" a tudo
aquilo que atende aos interesses
do PT sem que lhe convenha associar-se ao que fazem.
Professores acampados numa
praça (ou lumpens do pedaço, como se viu na TV) transformam-se
num "movimento". Covas não
pode tirar legitimidade alguma
dos movimentos, porque eles não
a têm. Há os partidos, há os sindicatos e há até as manifestações de
rua, mas os "movimentos", quando transformados em ente político do qual o PT seria o porta-voz
moderado, são uma falcatrua.
Lula diz que Covas está culpando o PT para prejudicá-lo eleitoralmente. Acusa o governador de
ter-se sentado "em cima de um
formigueiro" e absolve-se dizendo
que o PT "não tem controle sobre
as formigas". Não são as formigas
que o PT precisa controlar. É a si
próprio. Estando na oposição, associa-se a violências, vitimiza o
agredido e embute na sua posição
um elemento de mistificação e desordem: considera legítimo impedir que o governador de São Paulo atravesse uma praça.
Era essa a questão que estava
diante de Lula e José Dirceu. Enfiaram o sorvete na testa porque
quiseram. Resolveram sair à la
Hillary. Nada é o que é. Tudo é o
que se quer que seja.
O que houve na praça da República foi o seguinte: Covas agrediu
os manifestantes porque recebeu
ordens de FFHH, que, por sua vez,
recebeu ordens do FMI, que está
numa jogada para botar a mão
nos movimentos dos corpos celestes de forma a favorecer a Mangueira no próximo Carnaval.
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