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Dirigente "enforcou" reunião no PT para invadir Congresso
Cúpula do PT sinaliza que será aberto um processo para expulsar Bruno Maranhão, que liderou invasão do MLST
"O caminho natural seria ele
[Maranhão] já ter marchado
para o PSOL. A permanência
dele no PT foi acidente", diz
o tesoureiro Paulo Ferreira
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A invasão de ontem da Câmara dos Deputados teve como
um dos líderes o pernambucano Bruno Maranhão, integrante da Executiva Nacional do PT
que tem assento na comissão
política (espécie de coordenação de campanha) do partido.
O envolvimento de um dirigente tão graduado no quebra-quebra, às vésperas de uma
campanha eleitoral, irritou os
petistas. Preocupados com a
repercussão política, líderes foram duros nas críticas a Maranhão, que deverá ser punido.
No momento da depredação,
a direção petista reunia-se para
debater a campanha lulista.
Curiosamente, o próprio Maranhão, que ocupa o cargo de secretário nacional de Movimentos Populares, foi convocado,
mas "enforcou" a reunião para
participar da invasão.
"A obrigação dele era estar
aqui [na reunião da comissão
política]. Esse não é o método
com o qual nós trabalhamos",
disse o secretário de Organização do PT, Romênio Pereira.
A conduta dele deverá ser
analisada pela Comissão de
Ética do PT. Ele provavelmente
perderá o cargo que ocupa na
Executiva e sofrerá uma punição. "O PT primeiro vai cobrar
explicações [de Maranhão] e
reunir as informações. A depender disso, irá tomar medidas disciplinares", disse o presidente do partido, Ricardo
Berzoini: "Algum tipo de exploração política deve acontecer,
mas não se pode confundir uma
conduta individual com a conduta institucional do partido".
Expulsão
Maranhão chegou à Executiva petista no final do ano passado, quase por acaso. Líder de
uma facção baseada em Pernambuco, o "Brasil Socialista",
ele apoiou a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio a presidente do PT. Plínio e boa parte
de seus apoiadores migraram
para o PSOL logo após a eleição,
mas Maranhão, que decidiu ficar, "sobrou" como alternativa
para compor a Executiva.
Os dirigentes do PT sinalizam claramente que será aberto um processo de expulsão de
Bruno Maranhão. "O caminho
natural seria ele [Maranhão] já
ter marchado para o PSOL. A
permanência dele no PT foi
mero acidente", afirmou ontem o secretário nacional de Finanças do PT, Paulo Ferreira.
Durante a invasão, foram os
deputados do PSOL Luciana
Genro (RS) e João Alfredo (CE)
que levaram Maranhão para
conversar com o presidente da
Câmara, Aldo Rebelo, que se recusava a recebê-lo. Aldo disse
então: "Eu não vou te receber
porque não converso com invasor. Tire esse pessoal daqui. Você vai ser autuado e preso".
Aldo contou aos deputados
que estava irritado, pois há uma
semana encontrou-se com Maranhão nas dependências da
Câmara. No rápido contato, o
presidente da Câmara disse
que esperava por uma visita dele para conversarem. Já Maranhão disse que tentava falar
com Aldo há alguns dias.
Aldo disse que os movimentos sociais perdem credibilidade a partir do momento em que
"a invasão chega antes da reivindicação". O deputado Dr.
Rosinha (PT-PR), presente na
conversa, apoiou Aldo e desvinculou o PT das ações: "Não procuraram ninguém do PT".
Tarefa
A invasão na Câmara mobilizou ontem toda a direção do
PT. Os petistas, que estavam
reunidos em Brasília para discutir o formato final da estrutura de campanha de Lula à reeleição, suspenderam as definições e marcaram outro encontro para hoje. A determinação
dos dirigentes petistas era deixar claro que o Maranhão agiu
sem orientação do PT. "Essa
ação não foi discutida com o
PT. Se tivesse sido, seríamos
contra. Nós não respondemos
por isso e não convalidamos. O
episódio na Câmara é razoável
para discutirmos a presença
dele na esfera de representação
do PT", disse Ferreira.
O PT espera que o estrago seja restrito e não atinja Lula em
cheio, como já ocorreu no passado, quando o presidente estava na oposição. "Lula hoje tem
consolidada a percepção junto
à sociedade de ser um ponto de
equilíbrio", afirmou Berzoini.
Representante do Planalto
na direção petista, Marco Aurélio Garcia procurou distanciar
o governo do caso: "Esse episódio não corresponde à maneira
como o governo tem tratado os
movimentos sociais. Não havia
necessidade nenhuma disso".
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