São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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Relatório da polícia aponta fraude "sistêmica" no BNDES

Planilha mostra que Paulinho receberia R$ 256 mil como supostas comissões

PF entregou à Justiça Federal material para "proporcionar conhecimento relativo ao envolvimento do deputado na organização criminosa"


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um relatório da Polícia Federal entregue nesta semana à Justiça Federal específico sobre o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, anexou uma planilha que prevê um pagamento a "PA"-que as investigações concluíram ser referência ao deputado- de R$ 256 mil até 2009 por suposta participação em "comissões" sobre a liberação de empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) à Prefeitura de Praia Grande (SP).
A planilha foi apreendida na empresa Progus, pertencente ao empresário Marcos Vieira Mantovani. Ele foi contratado por uma empreiteira de Praia Grande para atuar no contrato firmado entre prefeitura e o BNDES, no valor global de R$ 123,9 milhões. Até o início da Operação Santa Tereza, deflagrada pela PF em 24 de abril, R$ 20 milhões haviam sido liberados pelo banco.
"As provas contra o referido deputado [Paulinho] se tornaram mais evidentes na véspera da deflagração (relatório nº 10), com os cumprimentos dos mandados de busca e de prisão e também com farto material apreendido em poder de João Pedro [ex-assessor de Paulinho] e Mantovani [consultor], planilhas com divisão da propina recebida pela organização criminosa (ver relatório nº 11)", apontou o relatório policial.
Segundo o relatório, a "organização criminosa" atuou com "caráter sistêmico". "O presente relatório tem como escopo proporcionar conhecimento relativo ao envolvimento do deputado federal Paulo Pereira da Silva na Organização Criminosa supracitada, além dos fatos já consignados em documentos anteriores."
Os policiais anexaram resumos de cerca de cem interceptações telefônicas em que o nome de Paulinho foi citado de uma forma ou outra antes, durante e depois das prisões ocorridas em 24 de abril.

"Amigo do peito"
Documentos incluídos no relatório colocam em xeque as afirmações de Paulinho e Mantovani de que não se conhecem. Em e-mail enviado em 1º de agosto de 2006 a uma secretária do PDT paulista, Mantovani diz ter recebido uma ligação do próprio deputado: "Estive ontem no RJ e não pude perguntar. O Paulinho me ligou na quarta para ir a uma empresa no Bom Retiro. Não falou o nome e a pessoa que deveria procurar".
Em e-mail datado de 27 de setembro de 2006, Mantovani disse ser muito próximo de Paulinho: "Se não tem para quem votar para deputado federal, vote no meu amigo do peito, Paulinho da Força Sindical, 1212".
O relatório também inclui e-mail de dezembro de 2004 que não aparecia em relatórios anteriores no qual Mantovani explica a um funcionário as condições da suposta parceria de sua empresa com a Força Sindical, presidida por Paulinho, e o escritório LTB (Leite, Tosto e Barros), do advogado Ricardo Tosto, um dos investigados pela PF, nos projetos que envolviam financiamento pelo BNDES. No e-mail, intitulado "particular e confidencial", Mantovani disse que "terão casos em que as negociações incluirão participantes especiais -"reference fee'- e estes serão avisados e ajustados caso a caso". O consultor escreveu que isso seria uma espécie de tradição: "É assim que funciona o esquema de parceria típica de negócios e política".
"O grupo de parceiros foram [sic] divididos em 3 equipes participantes - na equipe técnica soma-se o LTB, na política eles têm o deles e no agente a base da Força."
O funcionário tinha várias dúvidas: "Nos casos de sucesso (BNDES), você já tem definido quanto eu iria receber? (Em função de tal valor, qual o melhor tipo de empresa que eu deveria constituir para emitir notas fiscais? A fim de não me prejudicar com IRPF [Imposto de Renda], bem como não prejudicar ou expor a Progus?)".


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