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Conselheiro do TCE investigado é dono de ilha e de prédio
Robson Marinho diz que comprou ilha na baía de Paraty em 1993 por R$ 100 mil, antes de assumir cargo no governo Covas
O prédio de oito andares, com 16 salas de escritório, vale cerca de R$ 2 milhões no mercado; Marinho diz ter aplicado metade desse valor
MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ilhas são associadas no imaginário popular a milionários.
O conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado de São Paulo
Robson Marinho, que não se
considera milionário, tem uma
ilha na baía de Paraty, litoral sul
do Rio. Tem também um prédio comercial de oito andares
numa das regiões nobres de São
José dos Campos (SP).
A ilha de Araçatiba tem cerca
de 70 mil metros quadrados e
construções modestas para
uma região que abriga imóveis
da Xuxa e da família Marinho,
da Rede Globo: são duas casas
pré-fabricadas, de acordo com
o próprio conselheiro.
Marinho chega à ilha em uma
lancha sua, de 21 pés, com motor de popa, avaliada em R$ 25
mil, segundo ele. Lá, tem também uma traineira, avaliada
por ele próprio em R$ 20 mil.
O conselheiro é investigado
pelo Ministério Público sob a
suspeita de ter recebido propinas da Alstom para facilitar os
negócios da empresa com o governo paulista.
As iniciais RM aparecem em
documentos enviados ao Brasil
pelo Ministério Público Suíço.
Num trecho de um documento,
RM é apontado como "ex secretaire du governeur" (ex-secretário do governador). Há ainda
uma anotação de que o dinheiro seria usado para fazer pagamentos a "le tribunal de comptes" (tribunal de contas).
Marinho foi coordenador da
campanha que levou Mário Covas (1930-2001) ao governo de
São Paulo (1995-2001). Foi
chefe da Casa Civil entre 1995 e
1997, quando Covas o nomeou
conselheiro do TCE.
Marinho gargalha quando associam a ilha às suspeitas em
torno da propina paga pela Alstom. "Comprei essa ilha em
1993, antes de assumir qualquer cargo no governo", conta.
"Eu tinha uma casa e um terreno em Caraguatatuba, e a corretora que vendeu me trouxe
um filme da ilha".
Diz ter pago por volta de R$
100 mil, o mesmo preço de um
apartamento de três dormitórios em Caraguatatuba na época, numa comparação feita por
ele. Hoje, ele avalia a ilha entre
R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão -as
casas consumiram R$ 300 mil,
segundo o conselheiro: "A ilha
deu uma bela valorizada. Foi
um excelente negócio".
Dois corretores consultados
pela Folha, sob a condição de
que seus nomes não fossem citados, dizem que uma ilha como a de Marinho vale hoje de
R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões.
O prédio de oito andares,
com 16 salas de escritório, vale
cerca de R$ 2 milhões, segundo
corretores. O conselheiro diz
ter investido a metade desse
valor. O dinheiro veio da venda
de uma casa por R$ 750 mil, e
R$ 300 mil foram financiados.
Marinho diz ter renda suficiente para justificar essas
compras -ganha R$ 21 mil
mensais líquidos do tribunal e
diz trabalhar desde os 13 anos.
Conta que trabalhava com turismo na Breda.
Afirma que foi envolvido numa trama que tem um quê de
absurdo: "Estou sendo incriminado por um bilhete anônimo
que diz que RM arrecadou R$ 7
milhões para distribuir para
políticos que garantiriam contratos para a Alstom. Essas iniciais são as minhas, mas não assumo que seja eu no documento. Quem acusa tem de provar".
Ele diz que essa suspeita só
pode partir de alguém que não
conheceu o estilo Covas: "Ele
não deixava eu conversar com
empresários. Só falava com
prefeito, com deputado".
O conselheiro repudia a idéia
de que beneficiou a Alstom ao
defender um contrato do Metrô de três anos que durou dez
a mais: "Durou tudo isso porque a tecnologia mudou". O tribunal reprovou o contrato.
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