São Paulo, segunda, 7 de julho de 1997.



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LEGISLATIVO X EXECUTIVO
Oposição e governistas que se sentem excluídos criam agenda de reformas paralela à do Planalto
Temer estimula rebelião de deputados

KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel

Acuados pelas frequentes críticas do presidente Fernando Henrique Cardoso e pela recente cobrança de entidades empresariais, a oposição e setores governistas responderam com a criação de um movimento que propõe uma agenda de reformas diferente da desejada pelo Palácio do Planalto.
O Movimento Agenda Parlamentar 97 nasceu da união da oposição, que está na defensiva nos últimos três anos, e de parlamentares governistas que se sentem excluídos do núcleo do poder pelo presidente FHC.
"Muitos setores que hoje criticam o Legislativo já sentiram na pele os malefícios de ter um Parlamento calado", afirma o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP).
O deputado federal José Genoino (PT-SP), um dos líderes da reação anti-FHC, dá duas razões para que o movimento não naufrague como outros que surgiram e desapareceram nos últimos anos: "A Câmara se cansou de ser a culpada por tudo o que dá errado no Brasil, e o presidente da Casa está disposto a cacifar a iniciativa, mostrando-se independente do Planalto".

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O presidente nacional do PPB, senador Esperidião Amin (SC), diz que "direta e indiretamente o governo tem sido incorreto com o Congresso, querendo mantê-lo acuado".
Segundo Amin, isso despertou o sentimento de sobrevivência dos parlamentares, que são candidatos à reeleição em 98.
"Não deveria ser, mas é claro que o movimento é contra o governo, pois foi ele quem criou essas circunstâncias ao não desmentir as críticas que fez rotineiramente", conclui Amin.
Apesar de publicamente os deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e José Genoino terem aparecido como os pais do movimento, Michel Temer patrocinou a idéia desde o começo de sua articulação.
Parlamentares próximos ao presidente da Câmara afirmam que ele está contrariado com as pressões do Palácio do Planalto para dirigir a Casa com a mão de ferro de seu antecessor, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).
Temer teria constatado que, apesar de ter sido eleito com apoio do governo, Fernando Henrique e o PFL estariam excluindo seu grupo político do núcleo do governo.
Ao formar um novo eixo de poder, essa ala governista cria uma espécie de dissidência branca, que não poderá ser acusada de jogar contra o Planalto.
Reunião
Michel Temer faz amanhã uma reunião em sua casa para se comprometer a colocar na pauta da Câmara os projetos que o movimento definir como prioritários.
Em primeiro lugar, está uma reforma política que valha a partir de 2002 (leia reportagem abaixo).
Depois, vêm projetos de segurança pública, saúde, regimento interno da Câmara dos Deputados e até um substitutivo à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A presidência da Câmara vai criar uma comissão que apresentará suas propostas ao colégio de líderes e aos presidentes das comissões temáticas da Casa, instâncias dominadas plenamente por parlamentares fiéis ao Planalto.
Há parlamentares de todos os partidos no grupo. Até do PFL, cujos caciques são contrários à iniciativa.
Miro Teixeira foi escolhido temporariamente como o secretário das reuniões, que, com exceção da de amanhã, ocorrem na casa de Israel Pinheiro Filho (PTB-MG).
Os participantes rejeitam o nome "Reage, Câmara" por acharem que externa uma agressão ao Executivo.



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