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REFORMAS
Regras de transição do IPC garantem valores de R$ 3,3 mil a R$ 12,7 mil
Aposentadoria beneficia 46 ex-parlamentares neste ano
KENNEDY ALENCAR
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Congresso Nacional concedeu neste ano pelo menos 46 aposentadorias especiais a políticos.
Variam de R$ 3.307,20 a R$
12.720,00. Os beneficiários são
parlamentares que não foram
eleitos em 2002.
Essas aposentadorias são concedidas com base nas regras de
transição do IPC (Instituto de
Previdência dos Congressistas),
extinto por lei em 1997 e liquidado
financeiramente em 1999.
Por essas normas, um congressista pode se aposentar com oito
anos de atividade (dois mandatos
para deputado federal e um para
senador), com benefício proporcional ao tempo de contribuição.
Um requisito obrigatório, porém, é ter pelo menos 50 anos de
idade. Ainda que tenha direito,
um congressista no exercício do
mandato não pode acumular a
aposentadoria com o salário.
O Senado gasta mensalmente
R$ 919.946,51 com o pagamento
de aposentadorias ou pensões a
83 beneficiários do extinto IPC e a
mais 14 outros que obtiveram o
benefício de acordo com as regras
de transição. A Câmara, apesar de
a Folha ter pedido a informação,
não forneceu os dados.
A lista obtida pela Folha é pluripartidária. Contém nomes de ex-congressistas de todos os partidos. Do PT, que historicamente
criticou esse tipo de benefício, há
três ex-deputados que pediram
aposentadoria neste ano: o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda (benefício
de R$ 3.307,20), o embaixador do
Brasil em Cuba, Tilden Santiago
(R$ 4.760,91), e o ex-secretário de
Saúde da Prefeitura de São Paulo
Eduardo Jorge (R$ 6.414,51).
Dos que obtiveram aposentadoria neste ano, três recebem o provento máximo: R$ 12.720,00, o
equivalente ao salário de um congressista na ativa. No topo da lista,
estão os pefelistas Rubem Medina, secretário de Turismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, e o ex-governador de Santa Catarina
Antonio Carlos Konder Reis. Na
companhia deles, Cunha Bueno,
ex-deputado federal do PP paulista, teve de aceitar uma redução de
R$ 537,38 para não ultrapassar o
limite de R$ 12.720,00.
No Senado, os maiores valores
concedidos neste ano são de R$
8.344,32, para Nabor Júnior
(PMDB-AC) e Francelino Pereira
(PFL-MG), este último ex-governador de Minas Gerais. Presidente da Infraero, Carlos Wilson, que
não se elegeu senador, ganha R$
7.704,68, valor que acumula com
o salário da Infraero. Segundo
Wilson, "tudo junto dá bruto uns
R$ 16 mil".
Reforma da Previdência
Na proposta de reforma da Previdência enviada pelo governo ao
Congresso não há menção à aposentadoria de políticos. Não existe
hoje uma regra nacional. Congresso, Assembléias estaduais e
Câmaras Municipais podem ter
suas normas específicas.
A bancada petista na Câmara
apresentou emenda para acabar
com as aposentadorias especiais
dos políticos, do Legislativo e do
Executivo. Se aprovada, a norma
valerá só para os novos mandatos.
Os primeiros a serem atingidos
serão os prefeitos e vereadores
eleitos em outubro de 2004.
Desde meados da década de 90
há críticas à aposentadoria especial dos políticos, tida como um
privilégio. Rubem Medina acha
que as críticas são "injustas".
"Contribuí por 30 anos. A regra
era essa. Se querem mudar, acho
justo, mas devem respeitar os direitos adquiridos", argumenta.
Carlos Wilson afirma que, "se a
aposentadoria não é considerada
justa, também não é justo ficar
sem o benefício depois de ter contribuído por 20 anos".
O deputado federal Marcondes
Gadelha (PFL-PB) também insiste no "respeito aos contratos".
Gadelha, que não se elegeu em
outubro passado, assumiu o
mandato de deputado como suplente e teve suspenso o benefício.
"Pedi a aposentadoria porque estava sem mandato. Não considero
um privilégio, porque é legal, mas
acho que o correto é mudar a regra para todo mundo."
Entre os aposentados do Congresso, há estrelas da política, como o ex-presidente Itamar Franco, atual embaixador em Roma, a
ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), o ex-governador Orestes Quércia e o
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Maurício Corrêa.
Corrêa, por exemplo, tem duas
aposentadorias especiais, que
acumula com o salário.
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