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JANIO DE FREITAS
Inutilidades
A primeira parte da "reforma" ministerial é pobremente frutificante: foram trocados três ananases por três abacaxis. Ou vice-versa.
O resultado prático da entrega
de três ministérios ao PMDB governista, a pretexto de fortalecer
o governo com adesões peemedebistas na Câmara, é precisamente nenhum. Lula colheu os
novos ministros no PMDB já governista. Por quê e para quê?
Talvez só para dar a medida da
tonteira em que está a cúpula
do governo.
Tão inútil assim, pelo menos
até que já durara 11 horas, só a
sessão da CPI dos Correios destinada ao interrogatório de Marcos Valério de Souza, dado pelo
deputado Roberto Jefferson como abastecedor monetário do
"mensalão". Se reduzidas às intervenções sérias dos parlamentares, as 11 horas se reduziriam
para hora e meia, duas no máximo.
A imensa audiência que tem
acompanhado, no país todo, as
sessões da CPI teve, ontem, um
espetáculo nada divertido, mas
muito didático. A maioria dos
integrantes da CPI mostrou à
grande audiência a desordem, o
desrespeito às regras e aos colegas, o desinteresse pelo interesse
público, que se instalam com
tanta facilidade na Câmara e a
assemelham, com freqüência, a
um recreio de adolescentes badernosos.
Poucos são capazes de respeitar o tempo de intervenção que
lhes cabe. Em parte, sem dúvida,
pela dificuldade de desenvolver
uma exposição lógica nos 15 minutos disponíveis. Na maior
parte, porém, é a predominância da discurseira exibicionista,
plantar o rosto na TV e a voz no
rádio, em um exagero de ocupação inútil do tempo, que se torna um desaforo para com os cidadãos ansiosos por uma CPI
eficaz e respeitável.
Andou por meia-dúzia o número de parlamentares que tiveram a compostura de cumprir
com objetividade e competência
o seu dever inquiridor, seguindo-se a uma breve introdução.
A colheita do interrogatório correspondeu a esse pequeno número. E em termos. Porque a colheita foi quase toda por inferir
alguma coisa, a partir da inviolável prática de evasivas e negativas do depoente. No que foi,
aliás, muito ajudado por parlamentares do PT, que fizeram o
tempo passar com discurseiras
infantis e indignações ridículas.
Até foi pena que Jorge Bittar,
PT-RJ, tivesse que calar, quando
já estava tão perto de demonstrar que Valério trabalha com
prejuízo para o governo.
Mas na desconsideração com
os cidadãos ouvintes/espectadores encontra-se uma boa sugestão de voto. No sentido de eliminar, desde já, a possibilidade de
dá-lo aos abusadores.
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