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Procurador-geral diz que notifica Lula se necessário
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O novo procurador-geral da República, Antônio Fernando de
Souza, 56, disse que, se considerar
necessário, irá notificar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
dar informações nas investigações sobre corrupção no meio político. "Se houver necessidade de
obter alguma informação [do
presidente], o que até o momento
não apareceu, não tem problema.
Acho também que o presidente
não se furtaria a dar informações", disse, em sua primeira entrevista como procurador-geral,
cargo que assumiu há cinco dias.
Nos próximos dois anos, somente ele poderá propor ações
penais e de improbidade administrativa contra o presidente da
República, ministros de Estado,
deputados e senadores, autoridades que têm foro privilegiado no
STF (Supremo Tribunal Federal).
Folha - O sr. considera grave a denúncia de que havia um grupo de
deputados de partidos aliados recebendo o mensalão em troca de
apoio político?
Antônio Fernando de Souza - O
fato que se noticia é grave, mas
entre o fato noticiado e aquilo que
realmente vier a ser apurado pode
haver uma dimensão para mais
ou para menos.
Folha - A notícia de que o publicitário Marcos Valério avalizou um
empréstimo do PT e uma empresa
dele pagou uma parcela é um fato
relevante, é indício de desvio de dinheiro público?
Souza - Desse fato, só se tira a
conclusão de que ele tinha uma
relação pelo menos comercial
com esse partido para se dispor a
isso ou de relacionamento com alguém do partido. Não posso deduzir que havia dinheiro público.
Folha - As investigações estão
concentradas no Congresso, no Ministério Público e na Polícia Federal. Depende do senhor qualquer
desdobramento judicial no caso
das autoridades que têm foro no
STF. O sr. pretende tomar alguma
providência imediata, como pedir
a abertura de inquérito?
Souza - O tempo do Ministério
Público não é o da imprensa, que
um dia dá uma notícia e no dia seguinte tem uma nova notícia sobre outro fato, dentro daquele
contexto. O Ministério Público, a
cada momento, tem de observar
procedimentos, possibilidade de
pedir perícias, informações e documentos. Apurados os fatos, haverá o ajuizamento de ação de improbidade se tiver conotação civil
ou de ação penal.
Folha - O dr. Fonteles abriu um
procedimento investigatório interno e notificou diversas autoridades, para que elas prestem informações. O sr. já examinou as explicações enviadas?
Souza - Não recebi todas. Li algumas, mas ainda não fiz juízo.
Folha - O sr. pode pedir novas informações?
Souza - Não só novas informações, mas requisitar documentos
à CPI, a órgãos públicos e aos procuradores da República [do Distrito Federal, do Rio de Janeiro e
de Minas Gerais].
Folha - Que documentos?
Souza - Toda a gama de documentos do Coaf, informações
bancárias, documentos arquivados em órgãos públicos e transcrições de depoimentos à CPI [dos
Correios]. Para quebra do sigilo, o
caminho seguro seria o pedido judicial [ao STF].
Folha - O mais provável é que o sr.
opte por aprofundar a apuração
antes de pedir ao STF a abertura de
inquérito?
Souza - Exato. No Ministério
Público, a pressa leva a uma conclusão que pode ser frustrante.
Folha - O dr. Fonteles não notificou o presidente da República, embora o deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) tenha dito que ele sabia
do mensalão. O sr. pretende mantê-lo excluído da investigação?
Souza - Estamos em fase de coleta de dados. Não há um juízo de
quem está excluído ou não. Só
quando tiver o conjunto probatório todo formado, poderemos dizer quem participou e quem não
participou, em que medida.
Folha - Quando houver novas notificações, ele permanecerá fora?
Souza - Se houver necessidade
de obter alguma informação [de
Lula], o que até o momento não
apareceu, não tem problema.
Acho que o presidente não se furtaria a dar informações. Só que até
o momento não há necessidade.
Folha - O sr. não acha que o presidente pode ter sido omisso, já que
Jefferson disse que o avisou da
existência do mensalão e aparentemente ele não mandou investigar?
Souza - Eu prefiro não fazer um
juízo por enquanto e esperar para
verificar se houve essa comunicação e em que termos. Não podemos apurar generalidades.
Folha - O sr. acha que, se o presidente Lula vier a ser investigado
em inquérito ou ação penal, isso
poderá criar instabilidade política
ou abalar a imagem externa do
país?
Souza - O país está com a vida
institucional saudável. Não me
parece que os procedimentos
normais, previstos na Constituição, possam criar qualquer instabilidade.
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