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Empresário influiu durante 7 décadas
DA SUCURSAL DO RIO
Nenhum brasileiro acumulou
tanto poder ao longo do século 20
como o jornalista e empresário
Roberto Marinho, criador do
maior conglomerado de mídia e
entretenimento do Brasil.
Seu império começou a ser erguido a partir do jornal "O Globo", herdado do pai, Irineu Marinho, e cresceu sem interrupção ao
longo de sete décadas.
Com uma fortuna pessoal de
US$ 1 bilhão de dólares, ele consta
da lista dos homens mais ricos do
mundo elaborada pela revista
"Forbes".
A história das Organizações
Globo pode ser dividida em três
grandes fases. A primeira delas
começa em 1925, com o lançamento do "Globo", percorre os
anos 30 e 40, com o sucesso das
revistas de quadrinhos norte-americanos, e passa pela aquisição da rádio Globo (44).
A segunda começa em 1965,
quando entra no ar a primeira
emissora de TV, que se tornaria
porta-voz do regime militar.
A terceira começa em meados
dos anos 90, quando o grupo abre
o capital, investe em novas mídias
e dá início ao processo de sucessão de Marinho.
Roberto Pisani Marinho nasceu
no Rio de Janeiro no dia 3 de dezembro de 1904. Seus pais -Irineu
Marinho Coelho de Barros e
Francisca Pisani Barros- tiveram cinco filhos (três homens e
duas mulheres).
Irineu Marinho foi um jornalista importante do início do século
20. Fundou, em 1911, "A Noite",
um jornal de oposição que logo
conquistaria a liderança no mercado de vespertinos.
Em 29 de julho de 1925, lançou
"O Globo", com duas edições diárias e uma tiragem inicial de 33.435
exemplares. Roberto Marinho tinha 20 anos e foi trabalhar com o
pai, como repórter e secretário
particular.
Vinte e um dias depois, Irineu
Marinho morreu de infarto, enquanto tomava banho. Instado
por sua mãe a assumir a direção
do jornal, Roberto Marinho preferiu confiá-la a um colaborador
do pai, Euricles de Matos, enquanto continuava seu aprendizado dentro do jornal.
Apenas em maio de 1931, quando Euricles de Matos morreu, Roberto Marinho assumiu definitivamente a direção do jornal.
Tinha então 26 anos. Fizera os
estudos primários em escolas públicas, depois cursara uma escola
profissionalizante e interrompera
o curso de humanidades para trabalhar com o pai no "Globo".
Não chegou, portanto, a concluir
curso superior.
"O Globo" surgiu como um jornal noticioso, em oposição ao jornalismo partidário que ainda se
praticava na época, e defensor, simultaneamente, de causas populares e da entrada no país de capital estrangeiro.
"O Globo" apoiou o governo
provisório instituído pela Revolução de 30 e, em 1932, a Revolução
Constitucionalista.
Com posição editorial sempre
cautelosa, fez do combate ao comunismo uma de suas marcas.
O jornal fez restrições ao golpe
que gerou o Estado Novo (1937),
mas Marinho participou do Conselho do Departamento de Imprensa e Propaganda, responsável
pela censura a jornais.
Na Segunda Guerra Mundial,
"O Globo" foi a favor do rompimento com a aliança da Alemanha, Itália e Japão e tomou posição a favor do fim da ditadura de
Getúlio Vargas.
Embora o jornal fosse o cartão
de visita de Marinho, o crescimento financeiro do grupo se deu
por causa da edição de gibis, histórias em quadrinhos norte-americanas e de empreendimentos
imobiliários.
Em dezembro de 1944, Roberto
Marinho comprou a rádio Transmissora, da RCA Victor, e inaugurou sua primeira emissora, a rádio Globo.
Com a eleição de Vargas, passou a lhe fazer forte oposição. Em
53, o jornal fez campanha contra a
criação da Petrobras.
Naquele mesmo ano, a rádio
Globo foi franqueada ao jornalista Carlos Lacerda (1914-1977), que
a usou para atacar Vargas e os
empréstimos do governo a Samuel Wainer (1912-1980) para o
lançamento do jornal "Última
Hora". Embora o próprio "Globo" tenha se beneficiado de empréstimos oficiais.
O suicídio do presidente, em
agosto de 54, provocou grande
comoção popular, durante a qual
duas caminhonetes da rádio Globo e dois caminhões do jornal foram incendiados.
Em 1955, elegeu-se Juscelino
Kubitschek (1956-61), a quem
Marinho fez oposição moderada
e de quem ganhou a primeira estação de TV, a Globo do Rio.
Na eleição seguinte, apoiou Jânio Quadros, mas em seguida discordou de sua política externa e se
decepcionou com a renúncia, em
1961.
Ele inicialmente foi tolerante
com o sucessor de Jânio, João
Goulart (PTB), mas logo passou a
conspirar para derrubá-lo. Colocou seus veículos à disposição da
oposição e apoiou o golpe militar
de 1964.
No entanto, foi durante o governo de João Goulart que Roberto
Marinho ganhou sua segunda
concessão de TV, a Globo de São
Paulo.
As Organizações Globo, "integradas no processo revolucionário", deram seu total apoio aos governos que se estabeleceram a
partir de 64.
Sob o regime militar, Marinho
deu um salto decisivo na expansão de seus negócios ao inaugurar, em abril de 65, a TV Globo do
Rio. Seu jornal estava entre os
mais vendidos na cidade e a rádio
era líder de audiência.
A TV Globo se firmou rapidamente por três razões: um acordo
financeiro e operacional com o
grupo norte-americano Time-Life, a colaboração com o regime
militar e o declínio das TVs Tupi e
Excelsior.
O acordo com o grupo Time-Life (injeção do equivalente hoje a
US$ 25 milhões, mais assessoria
técnica e comercial) recebeu inúmeras críticas, porque Marinho
ignorou o artigo 160 da Constituição de 1946, que vetava a participação acionária de estrangeiros
em empresas de comunicação.
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito criada para
investigar o acordo concluiu que a
Constituição fora de fato desrespeitada, mas o procurador-geral
da República, em 67, e o presidente Artur da Costa e Silva, em 68,
decidiram que a operação havia
sido legal.
A TV Globo conquistou os cariocas no verão de 1966, quando
fez com exclusividade a cobertura
ao vivo das enchentes que deixaram dezenas de mortos e feridos
no Rio.
A idéia da cobertura ao vivo foi
do executivo Walter Clark (1936-1997), que viria a implantar, nos
anos 70, o famoso "padrão Globo
de qualidade".
A "lua-de-mel" da emissora
com o público duraria até 82,
quando a Globo foi identificada
com a tentativa de se impedir a vitória de Leonel Brizola para o governo do Rio, no episódio conhecido como Caso Proconsult.
Roberto Marinho teve grandes
adversários, como Assis Chateaubriand (1892-68), Carlos Lacerda,
Samuel Wainer. Brizola foi outro
desafeto de décadas. Em 15 de
março de 94, o locutor Cid Moreira leu, no Jornal Nacional, texto
de Brizola, que ganhou na Justiça
um direito de resposta. "Tudo na
Globo é tendencioso e manipulado", teve de afirmar o locutor.
A TV Globo ficou associada ao
regime autoritário por ter sido
porta-voz dos militares e por ter
crescido naquele período. As empresas jornalísticas do grupo se
adaptaram às regras impostas pelos governantes: o noticiário político desapareceu e o econômico fazia eco aos "milagres" de Delfim
Netto e sucessores. Caso célebre
de colaboração foi "Amaral Neto,
o Repórter", programa em que
supostos documentários ajudavam a construir a imagem positiva do regime.
Em 1972, o então presidente
Emílio Médici chegou a afirmar:
"Sinto-me feliz todas as noites
quando assisto ao noticiário. Porque, no noticiário da TV Globo, o
mundo está um caos, mas o Brasil
está em paz".
Esse tipo de procedimento tendencioso acabou permeando o
conteúdo editorial dos veículos de
Marinho até a década de 80, já no
correr do processo de transição
democrática.
Em 1983, Roberto Marinho começou a mudar os rumos de seus
compromissos políticos. Naquele
ano, ele informou ao presidente
João Baptista Figueiredo (1979/
85) que daria apoio a um projeto
que previsse a alternância de poder no governo federal.
Mas, no primeiro semestre de
1984, a Rede Globo ignorou completamente as manifestações populares em favor de eleições diretas para presidente da República.
Somente a partir do comício da
Candelária, no Rio, quando a
campanha já tinha se consolidado
e eram grandes as pressões e as
hostilidades contra a emissora, a
TV transmitiu reportagem completa, ao vivo.
Com a derrota das Diretas-Já, a
disputa pela sucessão de Figueiredo foi para o Colégio Eleitoral.
Marinho passou, então, a apoiar a
candidatura moderada de Tancredo Neves (PMDB) contra Paulo Maluf (PDS). Tancredo foi eleito pelo voto indireto, mas morreu
antes de tomar posse.
Roberto Marinho manteve sua
influência no governo herdado
por José Sarney (1985/90): nomeou os ministros Leônidas Pires
Gonçalves (Exército) e Antonio
Carlos Magalhães (Comunicações) e influiu na escolha de titulares da área econômica, como
Maílson da Nóbrega.
Com Sarney, a família Marinho
conseguiu mais quatro concessões de TV.
A imagem politicamente antipática do grupo nasceu durante o
governo militar e se cristalizou no
início da década de 80, quando se
acelerou o processo de redemocratização.
Casos como as coberturas parciais e enviesadas das greves dos
metalúrgicos do ABC (79), da
eleição para o governo do Rio de
Janeiro (82), a relutância na cobertura da campanha das Diretas-Já (83/84), a polêmica edição do
debate entre os candidatos a presidente Fernando Collor e Lula
(89) marcaram não só a imagem
da emissora como de todo o grupo de Marinho.
O slogan "O povo não é bobo,
abaixo a Rede Globo" vem, desde
então, sendo repetido em diversos episódios históricos.
Na eleição presidencial de 89,
Marinho apoiou Fernando Collor
de Mello. O segundo turno foi disputado por Collor e Lula. O último debate foi transmitido ao vivo
pela Globo. Mas, no "Jornal Nacional", a emissora apresentou uma
edição do debate francamente favorável a Collor, que teve um minuto e 12 segundos a mais de tempo de exposição. Era uma evidência da parcialidade da emissora.
Collor e Marinho se entenderam até agosto de 92, quando a
campanha pela destituição do
presidente já tinha sido encampada por toda a sociedade.
Em 1994 e 1998, Roberto Marinho apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
A partir de 1995 as Organizações Globo iniciaram um processo de reconstrução de sua própria
imagem. A TV Globo, que então
completava 30 anos, mudou a
orientação jornalística, em busca
de um noticiário mais isento e
despolitizado, e inaugurou o Projac (Projeto Jacarepaguá), maior
complexo de estúdios, auditórios
e produção televisiva da América
Latina.
A construção do Projac, aliás,
foi cercada de polêmica porque o
empreendimento recebeu empréstimo de US$ 38 milhões da
Caixa Econômica Federal, operação que contrariou parecer técnico da CEF e que foi questionado
na Justiça.
A partir de 1995, passou a ficar
mais nítida a dificuldade enfrentada pela emissora para manter os
mesmos índices de audiência e
sua liderança em horários estratégicos.
Vencido pela idade, Roberto
Marinho foi participando cada
vez menos das atividades de suas
empresas. Em depoimento gravado no final de 2000, a memória já
estava fraca e seletiva, fixada apenas em "O Globo", o vespertino
de Irineu Marinho que deu origem ao império.
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