São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RETÓRICA

Desde o fim da última reforma ministerial, presidente triplicou a média de cidades visitadas e dobrou o número de pronunciamentos

Em busca de respaldo, Lula faz mais viagens e discursos pelo país

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto tenta vender a idéia de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mantendo uma agenda normal de trabalho, com viagens e discursos rotineiros. A prática e os números, porém, mostram o contrário. Após ter concluído as negociações da segunda reforma ministerial de seu governo, em meados do mês passado, Lula triplicou a média de cidades visitadas no país e dobrou o número de discursos.
Desde que assumiu o governo, em janeiro de 2003, o presidente já esteve em 229 municípios do país, com média próxima a uma cidade visitada a cada quatro dias. Nas últimas semanas, ao passar por 13 cidades de cinco Estados, Lula triplicou essa média.
Neste momento, a cada semana, o presidente tem visitado cerca de cinco municípios. Os deslocamentos vão continuar nos próximos dias. Até a próxima quarta-feira, Lula deve passar por Belo Horizonte, Palmas e Peixe (interior do Tocantins).
Lula tem aparecido em diferentes tipos de eventos, com prioridade a comícios diante de sem-terra, estudantes, sindicalistas, caminhoneiros e operários. Alguns líderes desses setores dizem que Lula está sendo vítima de uma tentativa de golpe da direita, que teria semeado a atual onda de acusações contra o governo.
Na agenda de Lula estão valendo "atos de anúncio", visitas a "projetos-piloto", acompanhamento de obras em rodovias federais e até a aproximação a símbolos de honestidade do país, no caso o faxineiro que achou e devolveu uma carteira recheada de dólares no aeroporto de Brasília.
Cabe até quebra de protocolo, como a escalada a um barranco de 20 metros no Rio Grande do Sul, quando deixou sua segurança de cabelos em pé para cumprimentar manifestantes petistas.
Diante disso, o número de discursos também tem aumentado. Em todo o governo, a média até agora é de quase cinco por semana. Desde janeiro de 2003, foram 646 pronunciamentos, sendo 0,68 por dia. Já na fase pós-reforma ministerial foram 23 discursos, com média de quase nove por semana. De passagem pelo Piauí dias atrás, o presidente fez quatro comícios, num deles se comparando ao presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954).
Além de um notório clima eleitoral, os recentes eventos de Lula têm chamado a atenção pela repetição de suas falas e pela insistência em alguns temas, como ataques à imprensa, exaltação de números tidos como positivos, lembranças do analfabetismo de seus pais e ataques a antecessores, em especial o tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Ao improvisar em seus discursos, ou seja, quando abandona o texto preparado por sua assessoria, Lula também tem atiçado alguns conflitos, como pobres versus elites, esquerda versus direita e nordestinos versus sulistas.
Exemplos: "Não vai ser a elite brasileira que vai me fazer abaixar a cabeça" e "Eu passei muitos anos para vencer os preconceitos contra os nordestinos, muitos. Vocês não sabem o que é ser vítima de preconceito por esse mundo afora, por ser nordestino. Se for nordestino rico, não tem. Mas se for nordestino pobre... e, se for nordestino pobre e negro, está desgraçado. É, o preconceito é uma doença".


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