|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RETÓRICA
Desde o fim da última reforma ministerial, presidente triplicou a média de cidades visitadas e dobrou o número de pronunciamentos
Em busca de respaldo, Lula faz mais viagens e discursos pelo país
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto tenta vender a idéia de que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva está
mantendo uma agenda normal de
trabalho, com viagens e discursos
rotineiros. A prática e os números, porém, mostram o contrário.
Após ter concluído as negociações da segunda reforma ministerial de seu governo, em meados
do mês passado, Lula triplicou a
média de cidades visitadas no país
e dobrou o número de discursos.
Desde que assumiu o governo,
em janeiro de 2003, o presidente
já esteve em 229 municípios do
país, com média próxima a uma
cidade visitada a cada quatro dias.
Nas últimas semanas, ao passar
por 13 cidades de cinco Estados,
Lula triplicou essa média.
Neste momento, a cada semana,
o presidente tem visitado cerca de
cinco municípios. Os deslocamentos vão continuar nos próximos dias. Até a próxima quarta-feira, Lula deve passar por Belo
Horizonte, Palmas e Peixe (interior do Tocantins).
Lula tem aparecido em diferentes tipos de eventos, com prioridade a comícios diante de sem-terra, estudantes, sindicalistas, caminhoneiros e operários. Alguns
líderes desses setores dizem que
Lula está sendo vítima de uma
tentativa de golpe da direita, que
teria semeado a atual onda de
acusações contra o governo.
Na agenda de Lula estão valendo "atos de anúncio", visitas a
"projetos-piloto", acompanhamento de obras em rodovias federais e até a aproximação a símbolos de honestidade do país, no caso o faxineiro que achou e devolveu uma carteira recheada de dólares no aeroporto de Brasília.
Cabe até quebra de protocolo,
como a escalada a um barranco
de 20 metros no Rio Grande do
Sul, quando deixou sua segurança
de cabelos em pé para cumprimentar manifestantes petistas.
Diante disso, o número de discursos também tem aumentado.
Em todo o governo, a média até
agora é de quase cinco por semana. Desde janeiro de 2003, foram
646 pronunciamentos, sendo 0,68
por dia. Já na fase pós-reforma
ministerial foram 23 discursos,
com média de quase nove por semana. De passagem pelo Piauí
dias atrás, o presidente fez quatro
comícios, num deles se comparando ao presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954).
Além de um notório clima eleitoral, os recentes eventos de Lula
têm chamado a atenção pela repetição de suas falas e pela insistência em alguns temas, como ataques à imprensa, exaltação de números tidos como positivos, lembranças do analfabetismo de seus
pais e ataques a antecessores, em
especial o tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Ao improvisar em seus discursos, ou seja, quando abandona o
texto preparado por sua assessoria, Lula também tem atiçado alguns conflitos, como pobres versus elites, esquerda versus direita
e nordestinos versus sulistas.
Exemplos: "Não vai ser a elite
brasileira que vai me fazer abaixar
a cabeça" e "Eu passei muitos
anos para vencer os preconceitos
contra os nordestinos, muitos.
Vocês não sabem o que é ser vítima de preconceito por esse mundo afora, por ser nordestino. Se
for nordestino rico, não tem. Mas
se for nordestino pobre... e, se for
nordestino pobre e negro, está
desgraçado. É, o preconceito é
uma doença".
Texto Anterior: Isto é Lula Próximo Texto: História: Veja como os governos reagem às crises Índice
|