São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

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[!] Foco

Empresários utilizavam empregados e parentes humildes como "laranjas"

Sérgio Lima - 4.ago.2006/Folha Imagem
Luiz Antonio Vedoin, depois de prestar depoimento na CPI dos Sanguessugas, no Senado


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para montar a rede de empresas e contas usadas para fraudar licitações e pagar propina, os operadores do esquema Sanguessuga usavam como "laranjas" empregadas domésticas, funcionários e até parentes humildes por meio de compra de confiança, ameaças e suborno.
Em um dos casos, a empregada Maria Loedir Lara, 38, foi obrigada a se passar por "madame", dona de uma empresa, perante um auditor da Receita Federal. Hoje, diz que só pensa em esquecer como os ex-patrões a enganaram.
É o que mostram alguns dos cerca de 40 depoimentos à Polícia Federal e à Justiça do Mato Grosso obtidos pela Folha. Os relatos foram colhidos após a operação da PF que desbaratou a quadrilha, em maio. O esquema de compra de ambulâncias superfaturadas teria movimentado mais de R$ 110 milhões desde 2001. A CPI investiga 93 parlamentares.
Três domésticas da família Trevisan-Vedoin disseram que assinavam documentos a pedido de Luiz Antonio por confiar na família. Duas relatam que descobriram que seus nomes eram usados pelo patrão ao serem notificadas pela Receita Federal.
Maria Loedir contou nunca ter visto "tantos zeros" no valor da dívida e que, diante da forte suspeita do fiscal da Receita, teve "vontade de esmurrar o advogado" indicado por Vedoin que a acompanhava e ditava suas respostas.
Procurada ontem, Maria Loedir disse que não tinha como saber que era usada pela quadrilha: "Quando a pessoa é burra, não tem estudo e conhecimento, cai, né?". Ela tem ensino fundamental incompleto e ficou presa por uma noite.
A mãe dela, Enir Rodrigues de Jesus, 58, também era doméstica da família e "proprietária" de empresas do esquema. Segundo ela, os patrões a ameaçavam. Em depoimento, disse ter sido avisada de que "muita gente boa morre porque fala demais".
Os laranjas do esquema incluíam até os parentes humildes de Ronildo Pereira Medeiros, um dos operadores da quadrilha. Lavrador, Manoel Vilela de Medeiros, 74, recebia R$ 500 por mês para cuidar da chácara do filho, Ronildo, e assinava papéis para ele. No depoimento, disse que Ronildo era uma pessoa de bem e não estava envolvido em nada ilegal.
Rodrigo Medeiros de Freitas, 22, conta que aceitou o emprego do tio Ronildo para subir na vida. Acabou virando laranja e mula: emprestou sua conta, da qual fazia até 30 saques por dia, e entregava o dinheiro para um motorista da Planam levar à Câmara dos Deputados. (RANIER BRAGON E LEILA SUWWAN)


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