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Empresários utilizavam empregados e parentes humildes como "laranjas"
Sérgio Lima - 4.ago.2006/Folha Imagem
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Luiz Antonio Vedoin, depois de prestar depoimento na CPI dos Sanguessugas, no Senado |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para montar a rede de empresas e contas usadas para
fraudar licitações e pagar propina, os operadores do esquema Sanguessuga usavam como "laranjas" empregadas
domésticas, funcionários e
até parentes humildes por
meio de compra de confiança,
ameaças e suborno.
Em um dos casos, a empregada Maria Loedir Lara, 38,
foi obrigada a se passar por
"madame", dona de uma empresa, perante um auditor da
Receita Federal. Hoje, diz que
só pensa em esquecer como
os ex-patrões a enganaram.
É o que mostram alguns
dos cerca de 40 depoimentos
à Polícia Federal e à Justiça
do Mato Grosso obtidos pela
Folha. Os relatos foram colhidos após a operação da PF
que desbaratou a quadrilha,
em maio. O esquema de compra de ambulâncias superfaturadas teria movimentado
mais de R$ 110 milhões desde
2001. A CPI investiga 93 parlamentares.
Três domésticas da família
Trevisan-Vedoin disseram
que assinavam documentos a
pedido de Luiz Antonio por
confiar na família. Duas relatam que descobriram que
seus nomes eram usados pelo
patrão ao serem notificadas
pela Receita Federal.
Maria Loedir contou nunca
ter visto "tantos zeros" no valor da dívida e que, diante da
forte suspeita do fiscal da Receita, teve "vontade de esmurrar o advogado" indicado
por Vedoin que a acompanhava e ditava suas respostas.
Procurada ontem, Maria
Loedir disse que não tinha como saber que era usada pela
quadrilha: "Quando a pessoa
é burra, não tem estudo e conhecimento, cai, né?". Ela
tem ensino fundamental incompleto e ficou presa por
uma noite.
A mãe dela, Enir Rodrigues
de Jesus, 58, também era doméstica da família e "proprietária" de empresas do esquema. Segundo ela, os patrões a
ameaçavam. Em depoimento,
disse ter sido avisada de que
"muita gente boa morre porque fala demais".
Os laranjas do esquema incluíam até os parentes humildes de Ronildo Pereira Medeiros, um dos operadores da
quadrilha. Lavrador, Manoel
Vilela de Medeiros, 74, recebia R$ 500 por mês para cuidar da chácara do filho, Ronildo, e assinava papéis para ele.
No depoimento, disse que
Ronildo era uma pessoa de
bem e não estava envolvido
em nada ilegal.
Rodrigo Medeiros de Freitas, 22, conta que aceitou o
emprego do tio Ronildo para
subir na vida. Acabou virando
laranja e mula: emprestou
sua conta, da qual fazia até 30
saques por dia, e entregava o
dinheiro para um motorista
da Planam levar à Câmara dos
Deputados.
(RANIER BRAGON E LEILA SUWWAN)
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