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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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NEO-ALIADO

Presidente do Senado se torna centro de gravidade do partido, que se aproxima do Planalto após votação da tributária

Sarney "assume" PMDB e negocia ministérios

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de amargar um período de isolamento político nos últimos anos do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, o presidente do Senado, José Sarney, está de volta ao primeiro plano da política nacional. Ele é o centro de gravidade em torno do qual orbita a federação do PMDB, um aglomerado de líderes regionais que se prepara para assumir dois ministérios no governo Lula.
Sarney é quem dá as cartas no partido e quem negocia em seu nome a escolha dos dois ministros. Se puder, indica o líder no Senado, Renan Calheiros (AL), muito embora o Palácio do Planalto tenha clara preferência pelo nome do senador Pedro Simon (RS) e até de Hélio Costa (MG). Na Câmara, a coordenação é feita pelo atual líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), ele próprio um forte candidato ao ministério.
O número de votos dados pelo PMDB à reforma tributária fortaleceu Eunício. Na manhã de quinta-feira, José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) telefonaram para agradecê-lo. Precavido, Eunício prometera 52 votos. Deu 70, numa bancada de 77 deputados, tradicionalmente dividida. Palocci brincou: disse que ele vendia barato e entregava caro. O líder respondeu que aprendera com Palocci, que prometia um superávit nas contas públicas menor e entregava um bem maior.
O parlamentar cearense -cunhado do novo embaixador brasileiro em Lisboa, Paes de Andrade- já havia sido um dos principais interlocutores do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em dezembro de 2002, quando o partido negociou pela primeira vez sua entrada no governo Lula.
Naquela época, porém, o PMDB estava muito mais dividido, o que levou Lula a abortar a negociação.
Se a opção for Eunício, ficam abertas as portas para o deputado Michel Temer (SP) voltar à liderança do PMDB e para o ex-governador Orestes Quércia ocupar seu lugar na presidência da legenda. Quércia, que a exemplo de Sarney apoiou Lula na eleição de 2002, é outro nome em alta na constelação peemedebista. Ele pode fazer o deputado José Aristodemo Pinotti (SP), seu aliado, ministro. O problema tem sido a atuação do próprio deputado.

Voto contra
Pinotti não só foi contra à reforma da Previdência na Câmara, como aproveitou uma rápida ausência de Eunício do plenário para encaminhar, em nome do partido, contrariamente a um dos destaques. O episódio foi lembrado pelo próprio Lula na conversa que teve semana passada com a cúpula peemedebista no Senado.
Peças que vão se encaixando, a volta de Quércia ao comando do PMDB levaria a sigla a apoiar a reeleição de Marta Suplicy em São Paulo, talvez indicando o vice. São os termos de um acordo entre o ex-governador e o ministro José Dirceu em torno da eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2004.
Os petistas acreditam que têm bom trânsito com Quércia, suficiente para conseguir o apoio do PMDB em São Paulo para Marta sem a necessidade de entregar o Ministério da Saúde a Pinotti.
O ingresso do secretário da Segurança do Rio, Anthony Garotinho, e de sua mulher, a governador Rosinha Matheus, por enquanto não alterou a atual correlação de forças no PMDB: eles apoiaram a reforma tributária. Receberam a promessa de antecipação no pagamento de royalties do petróleo, apoio ao fundo da combate à pobreza do Rio, além de um tratamento especial na questão da segurança na cidade.
No limbo desde que renunciou ao cargo de senador sob acusações de corrupção, o ex-presidente da sigla Jader Barbalho (PA), amigo de Sarney, também tem recebido suas deferências do governo Lula, como a indicação de diretores para cargos federais.
Muito influente no PMDB, Jader ajudou decisivamente o governo na votação da reforma da Previdência, quando uma rebelião liderada por aliados do antigo governo por pouco não tirou Eunício da liderança da bancada.
Já os peemedebistas que comandavam o partido durante o governo tucano -apelidados no partido de "viúvas de FHC"- conseguiram míseros três votos contra a reforma tributária -os de Geddel Vieira Lima (BA), Alberto Fraga (DF) e João Corrêa (AC). O isolamento desse grupo pode ser medido pelo fato de que até deputados historicamente ligados a FHC, como o ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha (RS) e o ex-assessor especial do Planalto Moreira Franco (RJ), desta vez votaram com o Planalto.
Mas Lula deve aguardar a votação em dois turnos das reformas tributária e previdenciária para só então realizar sua reforma ministerial, o que pode ocorrer entre outubro e novembro próximos.
A reformulação do ministério deverá ser significativa. As pastas a serem destinadas ao PMDB devem provocar uma reordenação na qual haja uma redução do número de petistas na administração. A presença de representantes de aliados que votaram contra o governo deve ser revista.


Colaborou PLÍNIO FRAGA, da Reportagem Local


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