São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Os estarrecidos

As eminências do PSDB ainda não perceberam que só eles imaginaram Geraldo a bater asas numa ascensão gloriosa

O QUE MAIS ESTARRECE, na atual campanha, é que as eminências do PSDB se estarreçam com a capacidade do seu correligionário Geraldo de não se mover. Ainda não perceberam que só eles imaginaram o seu Geraldo a bater asas em uma ascensão gloriosa, vencido o adversário pela exposição, para o eleitorado, das mazelas morais com que o partido e o governo o brindaram.
O fato de as eminências preferirem, lá atrás, José Serra a Alckmin não significa a inexistência de sua ilusão. Convictos de que Alckmin seria pesado demais para decolar, os líderes do PFL acabaram dobrados pela argumentação das eminências do PSDB, a partir de dois pontos principais: Alckmin preparava desde muito tempo as condições para enfrentar Lula ou outro; e já na preliminar, dentro do partido, demonstrara-se preparado para as batalhas, com um jogo que punha Serra e o comando partidário contra a parede. O PFL cedeu.
As eminências, bem ilustradas por Fernando Henrique, puseram suas apostas na persistência, como linha mestra de campanha, da acusação de ligações de Lula, em pessoa, com o valerioduto e com corrupção administrativa. Geraldo, em marcha lenta, afinal cedeu. Mas nem por isso avançou. Com os insultos e acusações, não era para avançar alguma coisa?
Se a marca de comprometimento com a corrupção, seja a acionada pelo PT ou a havida nos desvãos do governo, devesse forçosamente se apegar em Lula, já se teria mostrado, no mínimo, desde o auge dos escândalos. Isso não ocorreu, como desde então tudo demonstrou a todos, para assombro geral. Não haveria de ser a rememoração adjetiva e sucinta que faria o que escândalos estonteantes não fizeram. Muito menos se conduzida pelo Geraldo monocórdico e pouco afeito ao papel de combatente.
A existir, a vulnerabilidade de Lula estaria na confrontação objetiva entre os seus compromissos de candidato e sua ação/inação de governante. Entre os feitos que atribui ao governo e as glórias que se concede e, de outra parte, as realidades, os dados comprováveis, os descaminhos. Haveria certo risco, é verdade, de comparações com deficiências equivalentes do governo do PSDB. Mas a linha de acusações morais conduz ao mesmo, que o governo de Fernando Henrique Cardoso saiu de cena levando nas costas as privatizações, o Sivam com a Raytheon, o Proer com o Banco Nacional, e não só.
Mas o PSDB, com sua candidatura e com a campanha desastrada que faz, presta um serviço informativo. É um concentrado paulista de sociólogos, economistas, advogados, a Universidade de São Paulo e o Mackenzie no varejo e a granel, o partido que tem, autenticamente, a fisionomia da classe dominante (paulista mas, por isso mesmo, a classe dominante no Brasil). E tudo o que sai dessa representação política, quando se trata de nada menos do que escolher o dirigente do país, está na mediocridade de sua campanha medíocre e na pesquisa do seu percentual fracassado.


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