São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Planalto busca votos para livrar Renan da cassação

Discretamente, governo articula para que presidente do Senado mantenha o mandato

Ministro e líderes do PT e do governo dividem a tarefa de convencer senadores a não votarem na sessão secreta de quarta contra alagoano

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Planalto trabalha nos bastidores para evitar a cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A Folha apurou que o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), têm procurado dirigentes de partidos aliados e senadores que apóiam o governo para dizer que não interessa ao Planalto a cassação de Renan.
O lobby pró-Renan é discreto porque a posição oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é não se intrometer num assunto do Congresso. Logo após o começo da "crise de Renan", no final de maio, o governo chegou a avaliar que havia chance de ele ser cassado.
Esse prognóstico mudou nos últimos dias, quando articuladores do governo no Senado apresentaram a Walfrido um quadro favorável a Renan em relação à votação da cassação no plenário da Casa. O parecer do Conselho de Ética que recomenda sua cassação está marcado para ser votado em sessão secreta na quarta-feira.
Ontem, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), calculava que a oposição não conseguiria obter 33 votos pró-cassação. O Senado tem 81 membros, incluindo Renan. Para cassá-lo, a oposição terá de arregimentar 41 votos, o que exigirá defecção na base governista. Reservadamente, Walfrido avalia que o placar pró-Renan deverá ser mais apertado.
Em conversas reservadas, o ministro das Relações Institucionais usa uma imagem familiar para abordar o caso. Diz que Renan seria um tipo de parente que todo mundo tem: aquele que comete grande erros, mas pertence à família. Ou seja, é aliado e deve ser preservado. Se permanecer no posto, será um aliado enfraquecido, o que o Planalto considera positivo. Antes do escândalo, o peemedebista demandava expressiva contrapartida em cargos e verbas para apoiar o governo.
O presidente do Senado é acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista de uma empreiteira e de usar laranjas para adquirir empresas de comunicação. Renan nega.
A Folha apurou que Walfrido e Ideli dividiram a articulação com Jucá. Renan e seus aliados se queixam do que chamam de "fogo amigo" do PT. Encarregada de buscar ao menos 8 votos entre os 12 senadores petistas, Ideli pediu ajuda ao presidente do PT, Ricardo Berzoini. Seu argumento é que cassar Renan seria fazer o jogo da oposição.
Walfrido e Jucá atuam mais voltados para os aliados do PT e para a oposição. A Folha apurou que os senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Garibaldi Alves (PMDB-RN) passaram a admitir votar a favor de Renan após uma articulação planejada por Walfrido e Jucá.
Renan disse a Walfrido e a aliados que não fará manobrará na última hora para se licenciar da presidência em troca de absolvição em plenário. A Folha apurou, porém, que o parlamentar cogita essa licença para o "day after", segundo expressão de um peemedebista.
No cenário em que consiga escapar da cassação, mas cujo efeito posterior seja o retorno um clima de guerra entre governo e oposição, Renan cogita se licenciar da presidência para apaziguar os ânimos. Isso interessa ao governo, que deseja aprovar a CPMF no Senado.
Segundo aliados de Renan, ele tem usado com colegas o argumento de que o Supremo Tribunal Federal está investigando as denúncias contra ele e que uma cassação seria medida exagerada e precipitada.
Um senador oposicionista disse ter ouvido de colegas do PSDB e do DEM que Renan teria sido correto na divisão de poderes na Casa (relatorias e postos em comissões), o que contaria a seu favor.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Regimento diz que sessão tem de ser secreta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.