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Planalto busca votos para livrar Renan da cassação
Discretamente, governo articula para que presidente do Senado mantenha o mandato
Ministro e líderes do PT e do governo dividem a tarefa de
convencer senadores a não votarem na sessão secreta
de quarta contra alagoano
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Planalto trabalha nos bastidores para evitar a cassação
do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A
Folha apurou que o ministro
das Relações Institucionais,
Walfrido dos Mares Guia, e a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), têm procurado dirigentes de partidos aliados e senadores que apóiam o governo
para dizer que não interessa ao
Planalto a cassação de Renan.
O lobby pró-Renan é discreto
porque a posição oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é não se intrometer num assunto do Congresso. Logo após
o começo da "crise de Renan",
no final de maio, o governo chegou a avaliar que havia chance
de ele ser cassado.
Esse prognóstico mudou nos
últimos dias, quando articuladores do governo no Senado
apresentaram a Walfrido um
quadro favorável a Renan em
relação à votação da cassação
no plenário da Casa. O parecer
do Conselho de Ética que recomenda sua cassação está marcado para ser votado em sessão
secreta na quarta-feira.
Ontem, o líder do governo no
Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), calculava que a oposição
não conseguiria obter 33 votos
pró-cassação. O Senado tem 81
membros, incluindo Renan.
Para cassá-lo, a oposição terá
de arregimentar 41 votos, o que
exigirá defecção na base governista. Reservadamente, Walfrido avalia que o placar pró-Renan deverá ser mais apertado.
Em conversas reservadas, o
ministro das Relações Institucionais usa uma imagem familiar para abordar o caso. Diz
que Renan seria um tipo de parente que todo mundo tem:
aquele que comete grande erros, mas pertence à família. Ou
seja, é aliado e deve ser preservado. Se permanecer no posto,
será um aliado enfraquecido, o
que o Planalto considera positivo. Antes do escândalo, o peemedebista demandava expressiva contrapartida em cargos e
verbas para apoiar o governo.
O presidente do Senado é
acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista de
uma empreiteira e de usar laranjas para adquirir empresas
de comunicação. Renan nega.
A Folha apurou que Walfrido e Ideli dividiram a articulação com Jucá. Renan e seus
aliados se queixam do que chamam de "fogo amigo" do PT.
Encarregada de buscar ao menos 8 votos entre os 12 senadores petistas, Ideli pediu ajuda
ao presidente do PT, Ricardo
Berzoini. Seu argumento é que
cassar Renan seria fazer o jogo
da oposição.
Walfrido e Jucá atuam mais
voltados para os aliados do PT
e para a oposição. A Folha apurou que os senadores Marco
Maciel (DEM-PE) e Garibaldi
Alves (PMDB-RN) passaram a
admitir votar a favor de Renan
após uma articulação planejada por Walfrido e Jucá.
Renan disse a Walfrido e a
aliados que não fará manobrará na última hora para se licenciar da presidência em troca de
absolvição em plenário. A Folha apurou, porém, que o parlamentar cogita essa licença para
o "day after", segundo expressão de um peemedebista.
No cenário em que consiga
escapar da cassação, mas cujo
efeito posterior seja o retorno
um clima de guerra entre governo e oposição, Renan cogita
se licenciar da presidência para
apaziguar os ânimos. Isso interessa ao governo, que deseja
aprovar a CPMF no Senado.
Segundo aliados de Renan,
ele tem usado com colegas o argumento de que o Supremo
Tribunal Federal está investigando as denúncias contra ele e
que uma cassação seria medida
exagerada e precipitada.
Um senador oposicionista
disse ter ouvido de colegas do
PSDB e do DEM que Renan teria sido correto na divisão de
poderes na Casa (relatorias e
postos em comissões), o que
contaria a seu favor.
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