São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO CELSO DANIEL

Gilberto Carvalho teria relatado esquema de corrupção; acareação será no dia 26

Irmão de prefeito morto diz que assessor de Lula mente

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O professor de economia Bruno Daniel, 52, irmão do prefeito petista de Santo André (SP) Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002, confirmou ontem à CPI dos Bingos ter ouvido de Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um relato sobre corrupção na prefeitura com arrecadação de propina para o PT.
A conversa, segundo relato de Bruno Daniel, ocorreu após a missa de sétimo dia do prefeito em 26 de janeiro de 2002. Carvalho, então secretário de Governo da Prefeitura de Santo André, teria dito que encaminhava dinheiro de propina de empresários ao PT para campanhas eleitorais.
"À saída da missa, nós tivemos essa conversa em que Gilberto Carvalho relatou que, numa das oportunidades, chegou a encaminhar a São Paulo, ao deputado José Dirceu [PT], a quantia de R$ 1,2 milhão", disse Bruno Daniel.
O depoente confirmou a versão que seu outro irmão, o oftalmologista João Francisco Daniel, apresentou à CPI em setembro. João Francisco afirmou ter ouvido em três conversas diferentes a história de Carvalho.
O chefe-de-gabinete de Lula falou à CPI em 15 de setembro e negou ter feito tais afirmações. O depoimento foi a portas fechadas (a pedido dele) e, por isso, não há mais detalhes. "Carvalho não falou a verdade", disse Bruno Daniel, ontem.
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), marcou para o próximo dia 26 uma acareação entre Carvalho e os irmãos de Celso Daniel a fim de saber quem fala a verdade.
Na terça-feira, ao saber da decisão, Lula ficou irritado e criticou a CPI por supostamente estar sem foco de investigação. O presidente disse que estava esperando a comissão chamar "bingueiro".
"O senhor Gilberto Carvalho está faltando com a verdade. A irritação do presidente da República é a demonstração maior de que o PT está com medo de que esse fato seja esclarecido", disse ontem o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"Gilberto Carvalho é uma pessoa de honra sagrada. Eu jamais imagino alguém abrir mão da defesa, da inocência e da honra [dele]", defendeu o senador Tião Viana (PT-AC).
Aos senadores, Bruno Daniel disse que a princípio não quis mencionar o relato ouvido de Carvalho. "Não era necessário que eu viesse a público me expor. No entanto, quando o deputado José Dirceu moveu um processo contra o meu irmão [João Francisco], eu não podia deixar de aparecer como testemunha."
Segundo Bruno Daniel, o assessor de Lula "disse também que na tarefa dele havia sempre momento de tensão porque carregava sozinho o dinheiro em seu Corsa [de Santo André até São Paulo]".
Na versão dos irmãos, o prefeito controlava o esquema de cobrança e foi morto ao tentar rompê-lo. "Carvalho só encaminhava [o dinheiro]. O sistema era operado por Klinger Luiz de Oliveira [ex-secretário municipal da prefeitura e ex-vereador do PT] e [pelos empresários] Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva", disse Bruno Daniel. Silva é acusado de mandar matar o ex-prefeito.
Ainda segundo o depoente, os três acusados teriam enriquecido com o dinheiro do PT. "Nós encontramos [após a morte do ex-prefeito] um envelope com a letra do senhor Gilberto Carvalho que indica uma preocupação de identificar a existência de enriquecimento de pessoas ligadas à Prefeitura de Santo André", disse.
Na avaliação de Bruno Daniel, o prefeito foi torturado para contar se tinha prova do esquema. Ainda em 2002, a Polícia Civil de São Paulo concluiu que o crime foi seqüestro seguido de morte. Neste ano houve reabertura do caso. O Ministério Público acredita em crime ligado à corrupção.


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