|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO CELSO DANIEL
Gilberto Carvalho teria relatado esquema de corrupção; acareação será no dia 26
Irmão de prefeito morto diz que assessor de Lula mente
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O professor de economia Bruno
Daniel, 52, irmão do prefeito petista de Santo André (SP) Celso
Daniel, assassinado em janeiro de
2002, confirmou ontem à CPI dos
Bingos ter ouvido de Gilberto
Carvalho, chefe-de-gabinete do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um relato sobre corrupção na
prefeitura com arrecadação de
propina para o PT.
A conversa, segundo relato de
Bruno Daniel, ocorreu após a
missa de sétimo dia do prefeito
em 26 de janeiro de 2002. Carvalho, então secretário de Governo
da Prefeitura de Santo André, teria dito que encaminhava dinheiro de propina de empresários ao
PT para campanhas eleitorais.
"À saída da missa, nós tivemos
essa conversa em que Gilberto
Carvalho relatou que, numa das
oportunidades, chegou a encaminhar a São Paulo, ao deputado José Dirceu [PT], a quantia de R$ 1,2
milhão", disse Bruno Daniel.
O depoente confirmou a versão
que seu outro irmão, o oftalmologista João Francisco Daniel, apresentou à CPI em setembro. João
Francisco afirmou ter ouvido em
três conversas diferentes a história de Carvalho.
O chefe-de-gabinete de Lula falou à CPI em 15 de setembro e negou ter feito tais afirmações. O depoimento foi a portas fechadas (a
pedido dele) e, por isso, não há
mais detalhes. "Carvalho não falou a verdade", disse Bruno Daniel, ontem.
O presidente da CPI dos Bingos,
senador Efraim Morais (PFL-PB),
marcou para o próximo dia 26
uma acareação entre Carvalho e
os irmãos de Celso Daniel a fim de
saber quem fala a verdade.
Na terça-feira, ao saber da decisão, Lula ficou irritado e criticou a
CPI por supostamente estar sem
foco de investigação. O presidente
disse que estava esperando a comissão chamar "bingueiro".
"O senhor Gilberto Carvalho está faltando com a verdade. A irritação do presidente da República
é a demonstração maior de que o
PT está com medo de que esse fato seja esclarecido", disse ontem o
senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"Gilberto Carvalho é uma pessoa de honra sagrada. Eu jamais
imagino alguém abrir mão da defesa, da inocência e da honra [dele]", defendeu o senador Tião
Viana (PT-AC).
Aos senadores, Bruno Daniel
disse que a princípio não quis
mencionar o relato ouvido de
Carvalho. "Não era necessário
que eu viesse a público me expor.
No entanto, quando o deputado
José Dirceu moveu um processo
contra o meu irmão [João Francisco], eu não podia deixar de
aparecer como testemunha."
Segundo Bruno Daniel, o assessor de Lula "disse também que na
tarefa dele havia sempre momento de tensão porque carregava sozinho o dinheiro em seu Corsa [de
Santo André até São Paulo]".
Na versão dos irmãos, o prefeito
controlava o esquema de cobrança e foi morto ao tentar rompê-lo.
"Carvalho só encaminhava [o dinheiro]. O sistema era operado
por Klinger Luiz de Oliveira [ex-secretário municipal da prefeitura
e ex-vereador do PT] e [pelos empresários] Ronan Maria Pinto e
Sérgio Gomes da Silva", disse
Bruno Daniel. Silva é acusado de
mandar matar o ex-prefeito.
Ainda segundo o depoente, os
três acusados teriam enriquecido
com o dinheiro do PT. "Nós encontramos [após a morte do ex-prefeito] um envelope com a letra
do senhor Gilberto Carvalho que
indica uma preocupação de identificar a existência de enriquecimento de pessoas ligadas à Prefeitura de Santo André", disse.
Na avaliação de Bruno Daniel, o
prefeito foi torturado para contar
se tinha prova do esquema. Ainda
em 2002, a Polícia Civil de São
Paulo concluiu que o crime foi seqüestro seguido de morte. Neste
ano houve reabertura do caso. O
Ministério Público acredita em
crime ligado à corrupção.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Frases Índice
|