São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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PR e PTB são destinos prediletos de infiéis

Siglas têm juntas na Câmara 80% de suas bancadas formadas por deputados que trocaram de partido com o mandato em curso

Parlamentares eleitos pela oposição acabam indo para legendas que foram a base aliada Atraídos emendas e cargos públicos

SILVIO NAVARRO
RANIER BRAGON

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Destino predileto para os deputados que decidiram aderir ao governo Lula, PR e PTB têm hoje mais de 80% de suas bancadas formadas por parlamentares que já trocaram de partido com o mandato em curso. O índice é o maior entre os partidos com representação no Congresso Nacional.
Levantamento feito pela Folha na base de dados da Câmara mostra que, dos 41 deputados do PR, 33 (80,5%) já migraram de sigla alguma vez no exercício da atividade parlamentar -deputado federal, estadual ou vereador. No PTB, dos 20 federais, 16 já trocaram de sigla.
"Não tinha regra, então era possível. Se existisse lei proibindo ninguém teria mudado. Acho perigoso se adotar a ditadura dos partidos", disse o líder do PR, Luciano Castro (RR).
O ranking do troca-troca lista na seqüência o nanico PSC, com 67%; o PSB tem índice de 56,7%; e o PP, de 54%. Na contramão, as siglas que agregam os deputados mais fiéis são o PT (10%) e o PC do B (15,3%).
Para fazer o levantamento, a Folha consultou a biografia disponibilizada de cada um dos 513 deputados à Câmara. Contabilizado o número de trocas de partido enquanto se ocupava um cargo legislativo, foi feito um cruzamento com o tamanho atual das bancadas no Congresso Nacional.
Segundo o acervo da Câmara, desde 1995 foram registradas 854 migrações partidárias -média de 67 por ano. No primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), foram 211. Na segunda gestão (1999-2002), 302. E no primeiro governo Lula (2003-2006), 291. A atual legislatura, que começou em fevereiro, contabiliza 50.
No total, dos 513 deputados em exercício na última sexta-feira, 223 (43,5%) já trocaram de legenda como parlamentar. O número de "infiéis" é ainda maior se levados em conta cargos majoritários (governador, prefeito, senador e presidente da República): 303 (59%).
Ou seja, caso a nova regra da Justiça Eleitoral que impôs a fidelidade partidária tivesse entrado em vigor no passado, teria atingido um número bem maior de parlamentares. A regra foi chancelada na semana passada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Um grupo de 15 deputados corre o risco de perder o mandato.

Paraíso
Desde o primeiro mandato do governo Lula, PR e PTB são chamados de "paraíso" para quem foi eleito por uma sigla de oposição, mas acabava atraído à base do governo em busca de facilidades na liberação de verbas para emendas ao Orçamento e cargos públicos.
A emenda parlamentar é o caminho para o deputado "retribuir" os votos recebidos nas eleições com pequenas obras em seu reduto eleitoral.
"A cada quatro anos esses partidos saem fracos das urnas e engordam durante o mandato. São partidos cuja plataforma é ser governo", disse o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA), integrante de um dos partidos que mais desidratou neste ano: elegeu 65 e hoje tem 59.


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