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"Sem-título" dizem ter medo das filas e pouco interesse
Adolescentes sem título reclamam ainda de falta de candidatos e temem demora para votar
Já os que optaram por votar
antes dos 18 anos têm
quase a mesma explicação:
vontade de participar do
processo "desde o começo"
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO
Medo de enfrentar fila na hora de tirar o título de eleitor e
para votar, risco de ser convocado para trabalhar nas eleições, desinteresse -ou desprezo- sincero pela política. Esses
são os principais motivos ouvidos pela Folha de jovens entre
16 e 17 anos que ainda não tiraram o título de eleitor.
Já os que optaram por votar
voluntariamente têm quase a
mesma explicação: vontade de
participar "desde o começo".
"Tirei porque quis votar.
Sempre ia com o meu pai e ficava lá na fila com ele. Aí, quando
pude tirar, tirei", diz Caio Lopes, 17, título obtido no ano
passado ao lado da mãe.
Estudante do último ano do
ensino médio do Dante Alighieri, tradicional escola de São
Paulo, no bairro dos Jardins,
Caio estreou nas urnas na última eleição, quando votou nos
tucanos Geraldo Alckmin -"já
esperava que ele fosse perder"- e José Serra -"um bom
voto". Caio prega que o voto seja facultativo para todas as idades e, como a maioria de seus
colegas, acha que a política é
feita de "sujeira" e "decepção".
Ainda que partidário do aparente desalento com os políticos que acomete os adolescentes, Caio soa como uma exceção. Seus próprios colegas de
escola tratam o assunto com
muito menos empolgação.
"Acho importante [tirar o título], mas não me interesso por
política", admite Naíra Gascon,
16. Também aluna do "Dante",
afirmou que planeja tirar o documento antes de completar os
18 anos.
Na rodinha ao lado, na deliciosa "hora da saída", as colegas
Isis Martins, 16, e Beatriz Naccache, 16, interrompem a conversa para dizer à Folha que
também não têm título, mas
que vão tirar no ano quem,
"sem falta". Isis acrescenta outra explicação para o fato de estar caindo o número de jovens
que optam por votar antes dos
18 anos: "Acho que o jovem não
tem em que votar hoje em dia".
As amigas sem-título Fernanda Xavier, 16, e Mislaine
Martins de Souza, 17, têm razões diferentes da de Isis. Estudantes da escola estadual Silva
Jardim, na zona norte de São
Paulo, e vendedoras de shopping, são enfáticas ao dizer que
não, não têm título e não querem ter antes dos 18 anos. "Não
tou com vontade ainda de assumir essa responsabilidade", explica Fernanda.
Mislaine tem a mesma resolução, mas outro motivo: "Não
quero votar agora, porque não
quero ficar na fila", diz ela.
Sem demora
A "chatice" de uma fila na hora de votar ou na hora de preencher os documentos no cartório eleitoral desmotiva muitos
dos adolescentes ouvidos pela
reportagem, mesmo que a demora seja mito.
Ainda há os que temem o trabalho de mesário. "Isso tira o
ânimo", conta Pedro Dias, 17,
sem título, do Dante Alighieri.
"Ficou pronto na hora", afirma Lucas Vinicius Vieira, 16,
que tirou o documento no mês
passado. Foi sozinho ao cartório e disse não ter visto fila nenhuma. "Sou um cidadão, tenho o direito de votar e quero
dar a minha contribuição para
um país melhor", diz ele, estudante em dois períodos de duas
escolas técnicas.
A campanha que o governo
vai lançar para estimular adolescentes a votar antes dos 18
pode ajudar Fernanda Matos,
16, que não tem título porque
acha que os votos dos menores
de idade não são contabilizados, como se fosse uma espécie
de treinamento. "Não sabia que
fossem contados como os outros...", diz à reportagem.
Marieta Garbaglio, 17, acha
que o motivo do desinteresse
pelo voto está no fato de "muitos não terem a cabeça pronta
para votar". No último ano do
ensino médio da Faap, ela tirou
título no ano passado.
Vini Ribeiro, outro sem-título, concorda com Marieta:
"Muita gente não tem cérebro
para votar", diz ele, no segundo
ano de uma escola estadual na
zona leste. Com 16 anos recém-completados, Vini pretende tirar o documento no ano que
vem, para já escolher prefeito e
vereador. Se tivesse votado em
2006, teria optado por Luiz
Inácio Lula da Silva: "Dos piores, ele é o melhor".
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