São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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"Sem-título" dizem ter medo das filas e pouco interesse

Adolescentes sem título reclamam ainda de falta de candidatos e temem demora para votar

Já os que optaram por votar antes dos 18 anos têm quase a mesma explicação: vontade de participar do processo "desde o começo"

MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

Medo de enfrentar fila na hora de tirar o título de eleitor e para votar, risco de ser convocado para trabalhar nas eleições, desinteresse -ou desprezo- sincero pela política. Esses são os principais motivos ouvidos pela Folha de jovens entre 16 e 17 anos que ainda não tiraram o título de eleitor.
Já os que optaram por votar voluntariamente têm quase a mesma explicação: vontade de participar "desde o começo".
"Tirei porque quis votar. Sempre ia com o meu pai e ficava lá na fila com ele. Aí, quando pude tirar, tirei", diz Caio Lopes, 17, título obtido no ano passado ao lado da mãe.
Estudante do último ano do ensino médio do Dante Alighieri, tradicional escola de São Paulo, no bairro dos Jardins, Caio estreou nas urnas na última eleição, quando votou nos tucanos Geraldo Alckmin -"já esperava que ele fosse perder"- e José Serra -"um bom voto". Caio prega que o voto seja facultativo para todas as idades e, como a maioria de seus colegas, acha que a política é feita de "sujeira" e "decepção".
Ainda que partidário do aparente desalento com os políticos que acomete os adolescentes, Caio soa como uma exceção. Seus próprios colegas de escola tratam o assunto com muito menos empolgação.
"Acho importante [tirar o título], mas não me interesso por política", admite Naíra Gascon, 16. Também aluna do "Dante", afirmou que planeja tirar o documento antes de completar os 18 anos.
Na rodinha ao lado, na deliciosa "hora da saída", as colegas Isis Martins, 16, e Beatriz Naccache, 16, interrompem a conversa para dizer à Folha que também não têm título, mas que vão tirar no ano quem, "sem falta". Isis acrescenta outra explicação para o fato de estar caindo o número de jovens que optam por votar antes dos 18 anos: "Acho que o jovem não tem em que votar hoje em dia".
As amigas sem-título Fernanda Xavier, 16, e Mislaine Martins de Souza, 17, têm razões diferentes da de Isis. Estudantes da escola estadual Silva Jardim, na zona norte de São Paulo, e vendedoras de shopping, são enfáticas ao dizer que não, não têm título e não querem ter antes dos 18 anos. "Não tou com vontade ainda de assumir essa responsabilidade", explica Fernanda.
Mislaine tem a mesma resolução, mas outro motivo: "Não quero votar agora, porque não quero ficar na fila", diz ela.

Sem demora
A "chatice" de uma fila na hora de votar ou na hora de preencher os documentos no cartório eleitoral desmotiva muitos dos adolescentes ouvidos pela reportagem, mesmo que a demora seja mito.
Ainda há os que temem o trabalho de mesário. "Isso tira o ânimo", conta Pedro Dias, 17, sem título, do Dante Alighieri.
"Ficou pronto na hora", afirma Lucas Vinicius Vieira, 16, que tirou o documento no mês passado. Foi sozinho ao cartório e disse não ter visto fila nenhuma. "Sou um cidadão, tenho o direito de votar e quero dar a minha contribuição para um país melhor", diz ele, estudante em dois períodos de duas escolas técnicas.
A campanha que o governo vai lançar para estimular adolescentes a votar antes dos 18 pode ajudar Fernanda Matos, 16, que não tem título porque acha que os votos dos menores de idade não são contabilizados, como se fosse uma espécie de treinamento. "Não sabia que fossem contados como os outros...", diz à reportagem.
Marieta Garbaglio, 17, acha que o motivo do desinteresse pelo voto está no fato de "muitos não terem a cabeça pronta para votar". No último ano do ensino médio da Faap, ela tirou título no ano passado.
Vini Ribeiro, outro sem-título, concorda com Marieta: "Muita gente não tem cérebro para votar", diz ele, no segundo ano de uma escola estadual na zona leste. Com 16 anos recém-completados, Vini pretende tirar o documento no ano que vem, para já escolher prefeito e vereador. Se tivesse votado em 2006, teria optado por Luiz Inácio Lula da Silva: "Dos piores, ele é o melhor".


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