São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006

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JANIO DE FREITAS

O fim do começo


Já inventaram uma porção de anos que não terminaram. Agora está inventado o ano que passou e nem começou


COM PEQUENO atraso, está começando o ano administrativo de 2006 do presidente da República. Na semana seguinte ao Carnaval, jornalistas apressados, ou movidos por oposicionismo, situaram ali o início do ano. Outros esperaram o fim da dita Semana Santa para afirmar a mesma coisa (receita praticada desde que existe a Semana Santa ou desde que existe a imprensa ou desde que existe o Brasil).
Mas o presidente era candidato, e, como o ano foi de eleições, o ano foi do candidato e não do presidente. Bem que o presidente assinou uns quantos papéis, mas eram papéis do candidato mal disfarçados em atos do presidente.
De janeiro ao fim de outubro, foi a campanha reeleitoral. Em seguida, os festejos da vitória, o descanso em um dos incontáveis paraísos reservados a disfunções bélicas, e o ano começa.
Reuniões e mais reuniões, audiências sucessivas com deputados e senadores, negociações, acordos e malabarismos: o ano político de 2007 está começando, a montagem do segundo mandato e as articulações com o Congresso são afazeres que não dão tempo para mais nada.
Já inventaram uma porção de anos que não terminaram. Agora está inventado o ano que passou e nem começou.

Imitação
O pedido, feito pela ONU e pela União Européia, de suspensão da pena morte sentenciada a Saddam Hussein e seus assessores imediatos é, sejam quais forem os crimes julgados, justificado pelo próprio tribunal especial iraquiano. A ONU e a UE opõem-se à pena de morte, em geral. Mas já antes de chegar ao problema da pena, é indiscutível a falta de legitimidade do tribunal.
Além de ter sua montagem orientada por intenções políticas, um tribunal que faz substituições de juiz e promotoria por não os considerar suficientemente contrários, a priori, aos réus, não é um tribunal. No mínimo, é uma imitação do que fizeram os próprios réus quando sua ditadura dominou também a justiça iraquiana.
Saddam e seu grupo não deveriam ser julgados no Iraque, mas em tribunal internacional, como Milosevic. Não fosse isso inconveniente para os propósitos de Bush.

Identidade
As reações dos lulistas fanáticos, dirigidas a jornalistas, são integralmente iguais às dos fernandistas apaixonados. A diferença não está nesses militantes em relação às críticas ou ao tratamento dado às figuras do seu altar.
Está nos jornalistas, os que receberam as reações insultuosas de um lado, mas não as do outro; os que as receberam do outro, mas não do primeiro lado; e os que receberam ou recebem dos dois.


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