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Há mais investigações sobre policiais da Satiagraha do que sobre o próprio Dantas
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Passados quatro meses da
prisão e soltura do banqueiro
Daniel Dantas na Operação Satiagraha, já existem mais apurações federais a respeito da
própria operação do que investigações contrárias aos executivos do Opportunity.
A Satiagraha, deflagrada em 8
de julho passado, resultou até
agora em dois inquéritos relatados pelo delegado Protógenes Queiroz: um trata de corrupção ativa (Dantas teria tentado subornar um delegado por
US$ 1 milhão) e outro de suposta gestão fraudulenta do banco.
O primeiro inquérito deu origem a uma denúncia formulada
pela Procuradoria da República
e acolhida pelo juiz da 6ª Vara
Federal Criminal, Fausto Martin De Sanctis. O segundo inquérito está sob avaliação na
procuradoria e na 6ª Vara.
Em contrapartida, há pelo
menos três apurações em andamento contra os investigadores
da Satiagraha. Ao deixar o comando da operação, Queiroz
denunciou que integrantes da
cúpula da PF, em Brasília, boicotaram seu trabalho, ao negarem o envio do reforço pedido
de 50 policiais.
Depois disso, Queiroz passou
a ter de dar explicações à PF e
hoje é alvo de pelo menos dois
inquéritos. O primeiro foi aberto pela PF de Brasília, por ordem da direção-geral do órgão a
partir de uma reportagem da
revista "Veja" que afirmou ter
havido suposto grampo ilegal
contra o presidente do STF,
Gilmar Mendes, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e
integrantes do governo Lula.
O inquérito sobre o suposto
grampo, cujo áudio ainda não
apareceu, é tocado pelos delegados Wiliam Morad e Rômulo
Berredo. Ao assumirem a função, eles foram apresentados a
Mendes pelo diretor-geral da
PF, Luiz Fernando Corrêa. Esse inquérito tem tratado de outro ponto da Satiagraha: se o
uso de arapongas da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), requisitados por Protógenes Queiroz e sob conhecimento do então diretor-geral
da agência, Paulo Lacerda, foi
ou não legal.
Lacerda, que deixou a direção da Abin após a reportagem
da "Veja", passou a ser alvo
também da CPI dos Grampos,
na Câmara dos Deputados. Ele
já teve que depor duas vezes.
Em entrevista à "Veja", o presidente da CPI, Marcelo Itagiba
(PMDB-RJ), sugeriu que Lacerda poderá ser indiciado no
encerramento da CPI.
Um segundo inquérito policial, aberto na Corregedoria da
PF em Brasília, também mira o
delegado Queiroz. Seu objetivo
é averiguar supostos vazamentos à imprensa no decorrer da
Satiagraha. Além do delegado,
pelo menos outros dois policiais que atuaram na operação
tiveram computadores e documentos apreendidos com ordem judicial, anteontem.
O juiz De Sanctis também
passou a ser alvo de investigações. Já foi ouvido na CPI e no
inquérito que trata do suposto
grampo contra Mendes. O deputado Raul Jungmann (PPS)
reclamou do juiz ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça). De
Sanctis teria autorizado a entrega, a policiais, de senhas que
poderiam dar acesso irrestrito
a cadastros e históricos de ligações telefônicas. A reclamação
foi arquivada em 15 de setembro. "Não vislumbro, no caso
concreto, indicação de falta
funcional a ensejar qualquer
providência por parte do CNJ",
corregedor do CNJ, Gilson
Dipp. No último dia 10, Jungmann recorreu da decisão.
De Sanctis também foi intimado pela Corregedoria do
TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região a pedido do
ministro Mendes, para dar explicações sobre ordem de prisão dada contra Dantas. Ao
mesmo tempo, os advogados do
banqueiro entraram com uma
petição no TRF para tentar
afastar o juiz do caso Satiagraha. O pedido está sob análise no
tribunal -a relatora já deu voto
favorável ao juiz.
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