São Paulo, sábado, 07 de novembro de 2009

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Investigados patrocinam encontro da Polícia Federal

CBF, Caixa e Petrobras, alvos de investigação na PF, deram ajuda financeira a congresso

Delegado não vê conflito de interesse; Petrobras nega ter sido investigada, Caixa vê retorno mercadológico e CBF evita comentar caso


ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

Dos 6 patrocinadores do 4º Congresso Nacional de Delegados de Polícia Federal, realizado entre terça-feira e ontem, em Fortaleza (CE), pelo menos 3 fazem ou já fizeram parte de investigações feitas pela PF: CBF (Confederação Brasileira de Futebol), CEF (Caixa Econômica Federal) e Petrobras.
A previsão de arrecadação total com patrocínios é de R$ 660 mil, mas nem todos já depositaram o valor compromissado na conta da entidade promotora do evento, a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), segundo informou a Diretoria Financeira.
A organização do encontro, que inclui o trabalho de captação de recursos, segundo o presidente da associação, delegado Sandro Avelar, foi feita pela Haia Eventos & Turismo. "Não vejo nenhum conflito de interesses. Estamos trabalhando dentro da maior transparência, com as portas abertas e com a participação da imprensa", disse Avelar.
"Nenhuma entidade consegue fazer um evento deste porte sem o apoio de patrocinadores. Estamos discutindo assuntos de interesse nacional", afirmou o presidente da associação, referindo-se ao tema central do encontro, que é o combate à impunidade. Responsável pela Haia, Celina Frossard não respondeu a recados deixados pela Folha nos três últimos dias.
O nome dos patrocinadores foi estampado no site da associação, em panfletos e camisetas distribuídos no evento -que não se realizava havia cinco anos-, bem como em um painel no local.
A CBF foi a entidade que deu o maior patrocínio: R$ 300 mil. O presidente da confederação, Ricardo Teixeira, participou ontem, no encerramento do encontro, de um painel no qual foi discutido o tema segurança em grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Ele não quis comentar o assunto.
Teixeira foi investigado pela Polícia Federal desde o final da CPI do Senado, em 2001, quando relatório da comissão recomendou ações contra o dirigente e seus subordinados por crimes como evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Foram abertos desde então dez inquéritos na PF referentes a assuntos levantados pelo Congresso. Mas, em 2005, a PF recomendou o arquivamento de todos eles.
O Ministério Público Federal não concordou com a decisão e pediu a reabertura de alguns deles. A solicitação não foi acatada. Questionado ontem pela Folha, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro informou que não tem conhecimento de nenhuma investigação relacionada a Teixeira em andamento na polícia.
Em 2007, a Petrobras (R$ 30 mil de cota de patrocínio) foi alvo da Operação Águas Profundas, que investigou fraude a licitações na compra de plataformas. Por meio da assessoria, a Petrobras negou haver conflito de interesses e afirmou que não foi investigada na Operação Águas Profundas. Pelo contrário, afirmou a assessoria, a estatal colaborou com o trabalho da Polícia Federal.
Já a Caixa é alvo de inquérito, instaurado em 2004, relacionado à renovação de um contrato para o gerenciamento do sistema de loterias.
Em nota à Folha, o banco informou que recebeu proposta de patrocínio no valor de R$ 30 mil, que "foi analisada e aprovada pelo comitê de patrocínios do banco com o objetivo de divulgar a imagem institucional, obter retorno mercadológico decorrente de ações desenvolvidas com o segmento, bem como a oportunidade para divulgação de produtos e serviços durante o evento".
Os demais patrocinadores são: Souza Cruz (R$ 100 mil) , Governo do Estado do Ceará (R$ 100 mil) e Banco do Nordeste (R$ 100 mil).
A última informação disponibilizada pela associação dos delegados é que estavam confirmados os depósitos somente das cotas da CBF e da Souza Cruz. Os outros teriam assumido o compromisso de pagar.

Colaborou RODRIGO MATTOS, da Reportagem Local



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