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DF
Sem provas, governador levanta hipótese; indenização é anunciada
Roriz diz que morte pode
ter sido obra de partido
Lula Marques/Folha Imagem
da Sucursal de Brasília
Com as investigações no começo e sem apresentar provas, o governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, levantou ontem a hipótese de que a morte do jardineiro José Ferreira da Silva, funcionário da Novacap, pode ter sido
obra de algum partido político
para atingir o seu governo.
"Eu preciso saber se houve um
assassino frio", disse Roriz, em
uma entrevista coletiva dada ontem, em que prometeu conduzir
com transparência e imparcialidade a investigação da ação da
PM que matou um trabalhador,
deixou dois cegos e fez mais de 30
feridos na semana passada.
A possibilidade de envolvimento político-partidário na greve
dos funcionários da Novacap,
quinta-feira passada, foi levantada pelo governador em entrevista
coletiva. Roriz especulou até que
o seu governo pode ter sido vítima de uma conspiração.
"O tiro de bala de chumbo que
matou o jardineiro José Ferreira
da Silva não atingiu o meu governo, como talvez tenha desejado o
autor do disparo", afirmou Roriz.
Ao insistir na possibilidade de
haver um interesse em prejudicar
a imagem do seu governo, ele disse ser preciso averiguar "se não foi
alguém de partido político".
A maioria das afirmações do
governador foi dada em entrevista a emissoras de TV. Depois, ao
falar só para os jornais, ele considerou a possibilidade de um crime político muito remota. "Eu
acho difícil", comentou Roriz.
"Ninguém está mais interessado em descobrir a verdade e autoria do tiro que matou o funcionário da Novacap do que eu."
O governador nomeou para a
condução do IPM (Inquérito Policial Militar) o coronel José Fernandes Silva Nascimento, chefe
de gabinete do Detran do DF e seu
ex-assessor na campanha eleitoral para assuntos de segurança.
O escrivão nomeado é o tenente-coronel Mário José Ribeiro
Chaves, do gabinete militar do
próprio governador.
O novo secretário da Segurança,
José de Jesus Filho, disse que a investigação será conduzida sem
preocupações sobre em quem recairá a culpa. Ele pediu e o Ministério da Justiça indicou ontem o
delegado federal Edmo de Aquino Salvattore para acompanhar
os inquéritos policias.
Além de Salvattore, Jesus Filho
está montando uma comissão administrativa, formada por um
membro do Congresso, um da
OAB (Organização dos Advogados do Brasil), um da PM e um do
Ministério Público para ajudar na
apuração.
Ontem, o governador ordenou
oficialmente a prisão administrativa de 19 policiais (15 soldados e 4
oficiais) que, segundo a própria
polícia, portavam armas de calibre 12, de onde foi disparado o
projetil de chumbo que matou
Ferreira da Silva.
Pelos manuais da PM, essas armas deveriam estar todas carregadas com balas de borracha, usadas para dispersar tumultos
-uma, pelo menos, estava carregada com cartuchos reais.
Ontem 17 escopetas, usadas na
repressão de quinta-feira passada, chegaram ao Instituto de Criminalística para perícia. O exame
indicará quais estavam carregadas com balas de verdade.
Roriz disse que em nenhum
momento autorizou o uso de violência. "Recomendei com veemência que tinha que ter calma,
negociar, dar os prazos necessários, mas abrir o portão. Mas sem
violência".
O governador não quis responder se, então, a ação policial foi
um ato de insubordinação dos comandantes da polícia militar e do
ex-secretário da Segurança.
Roriz admitiu a responsabilidade do Estado. Ontem, ele encaminhou ao Legislativo um projeto
de lei que concede indenizações
às vítimas da Novacap.
O projeto também irá beneficiar
as famílias das vítimas de uma outra ação policial realizada no governo de seu antecessor e adversário político, Cristovam Buarque, do PT.
A operação, na invasão conhecida como favela da Estrutural,
terminou com duas mortes, a de
um policial e de um morador. Ontem, ao lembrar o caso, Roriz disse que foram quatro os mortos na
Estrutural.
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