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CORRUPÇÃO
Comissão deve analisar casos descritos em reportagem publicada na Folha
Câmara apura uso de notas frias
EDUARDO DE OLIVEIRA
da Agência Folha
A Câmara dos Deputados vai
investigar o desvio de verbas públicas em cidades de todo o país
por meio da emissão de notas fiscais frias. Levantamento feito pela
Agência Folha em 20 Estados, publicado em 28 de novembro, mostrou como funciona a indústria de
fraudes que sustenta a corrupção
nas prefeituras.
As investigações ficarão a cargo
da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da
Câmara. O presidente da comissão, deputado Delfim Netto
(PPB-SP), disse que o assunto entra em pauta nesta semana.
Na reunião de hoje da CFFC, o
deputado João Paulo Cunha (PT-SP) apresentará um requerimento solicitando a documentação
das prefeituras citadas pela reportagem da Agência Folha.
Amanhã, afirmou o 3º vice-presidente da CFFC, deputado Luiz
Fernando Sarmento Nicolau
(PPB-AM), será discutida a criação de uma subcomissão dentro
da CFFC para apurar o caso.
"Vou, inclusive, pleitear a relatoria", disse Nicolau.
"No caso específico da utilização de notas frias revelado na série de reportagens, não tivemos
este ano nenhum registro. Obviamente, após a publicação dessa
série, a matéria será tema obrigatório nas próximas reuniões",
afirmou Delfim Netto.
Apesar de entrar na pauta, as investigações só devem começar
após o período de recesso e da
convocação extraordinária, que,
em princípio, vai do próximo dia
15 a 15 de fevereiro de 2000.
Indústria da nota
O esquema, que consiste em
emitir notas fiscais frias para justificar gastos, permite que o dinheiro dos contribuintes, repassado pela União aos municípios,
financie campanhas eleitorais ou
acabe sendo embolsado pelo administrador, por exemplo.
A fraude cresceu nos últimos
anos com a municipalização dos
serviços de saúde e educação, cujas verbas são os principais alvos
de administrações corruptas.
No município de Palmas (TO),
procuradores investigam o desaparecimento de R$ 1,1 milhão de
dois convênios com os ministérios da Saúde e da Educação.
O ex-prefeito Edwino Raimundo Schultz, da cidade de Chapadão do Sul (MS), é acusado de
usar empresas fantasmas para
desviar R$ 500 mil (o equivalente
à receita mensal do município) de
1997 a maio último.
No Espírito Santo, a Procuradoria da República denuncia um esquema que ficou conhecido pelo
jargão "política da rapinagem".
Nesta modalidade de fraude, prefeitos seriam eleitos e depois usariam notas frias para justificar
gastos inexistentes e reembolsar
os financiadores da campanha.
No Ceará, uma CPI instalada na
Assembléia Legislativa apura o
sumiço de cerca de R$ 800 mil do
Fundef em quatro prefeituras.
José Serra
O ministro da Saúde, José Serra,
disse ontem que está empenhado
no combate às fraudes cometidas
por prefeituras que utilizam notas
fiscais frias para encobrir desvios
do SUS (Sistema Único de Saúde).
"Nós estamos fiscalizando. Eu, vira-e-mexe, faço intervenção etc.
Tem sempre gritaria, mas é necessário", afirmou o ministro.
Serra disse que a população deve fiscalizar o dinheiro da saúde e
cobrar mais do município. "Todo
mundo tem de participar", declarou. Para ele, as fraudes cometidas por alguns municípios não
podem impedir a descentralização da saúde. "Mas a descentralização tem de ser acompanhada
pela fiscalização."
Colaborou Wagner Oliveira, da Agência
Folha, em Curitiba
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