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ÍNDIOS
Total pode ser maior, diz Funai
Registrados
10 suicídios
de ticunas
neste ano
ELVIRA LOBATO
enviada especial ao Alto Solimões
Levantamento parcial feito pela
Funai (Fundação Nacional do Índio) registrou, neste ano, dez casos de suicídio entre os índios ticunas, que habitam a região do
Alto Solimões, no Amazonas,
próximo da fronteira com o Peru
e a Colômbia.
A população ticuna no lado brasileiro da floresta amazônia (há ticunas também no Peru e na Colômbia) é de 32 mil índios.
O levantamento da Funai só
abrangeu 80% da população: cerca de 25 mil índios. O número real
de mortes por suicídio nas tribos,
segundo a Funai, pode ser ainda
maior.
O suicídio entre ticunas tem sido pouco estudado por antropólogos, que concentraram as atenções nos Kaiowá-Guarani, em
Mato Grosso do Sul, que tiveram
308 casos nos últimos 13 anos.
No dia 12 de novembro, quando
acompanhava a Polícia Federal na
localização de pistas de pouso
clandestinas no Alto Solimões, a
reportagem da Folha presenciou,
na aldeia Nova Itália (dentro da
reserva ticuna Vui-Uata-In), o enterro do índio Juvenal Albino, 49,
que havia se enforcado no dia anterior. A mulher dele também
morreu por suicídio, há dois anos.
A pedido da Folha, o posto da
Funai em Tabatinga, que coordena a ação do órgão no Alto Solimões, tentou fazer um levantamento dos suicídios nas demais
aldeias, mas só chegou a um resultado parcial.
Segundo o administrador do
posto, Walmir Torres, o contato
com as aldeias mais afastadas só é
feito quando os agentes vão a Tabatinga receber os salários.
Motivos
Dos dez casos constatados pela
Funai, oito foram por enforcamento e dois por ingestão de timbó -veneno extraído da raiz de
uma planta, que leva à morte por
asfixia. Sete dos dez suicidas eram
homens, com predominância de
jovens.
Baseada no relato dos índios, a
Funai aponta como ""motivo aparente" para cinco suicídios brigas
com pai, com namoradas e com
marido.
No final de julho, houve uma
""festa da moça nova" na aldeia
Nova Galiléia (vizinha à de Nova
Itália) para comemorar a primeira menstruação de três jovens índias. Ludovico Pereira, 70, era pai
de uma delas e dias depois da festa
se suicidou tomando timbó.
Segundo os índios, a moça teria
fugido do ""curral " (local onde ficam confinadas enquanto a festa
está sendo preparada) e mantido
relações sexuais. O pai teria se
matado por vergonha.
Levantamento
A antropóloga Regina Erthal,
pesquisadora do curso de pós-graduação em antropologia da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, que estudou o suicídio
entre os ticunas de 90 a 97, diz que
por trás das causas aparentes dos
suicídios citadas pelos índios podem estar conflitos entre clãs e até
problemas como a depredação
ambiental.
O fato é que ainda não se tem
explicação exata para os suicídios
dos ticunas. Até agora, os antropólogos trabalham com hipóteses, afirma Regina Erthal.
Um dos problemas enfrentados
pelos pesquisadores é a falta de
precisão dos dados. A Funai não
tem estatísticas sistemáticas dos
óbitos por suicídio. Os números
aparecem só quando há pesquisador interessado na informação.
Regina Erthal fez levantamento
de 57 suicídios de ticunas de 90 a
97, mas ela própria adverte que,
assim com os da Funai, seus dados são parciais. Os casos estão
concentrados entre 93 e 97, sendo
que as maiores incidências foram
em 93 (13 casos), 96 (12) e 97 (11).
Embora parciais, os dados levantados pela pesquisadora mostram alta incidência de suicídios.
Segundo Regina Erthal, os suicídios representaram 16% dos óbitos entre 93 e 95 e 28% entre 94 e
96. As maiores incidências foram
nas faixas de 16 aos 18 anos
(47,2% dos casos) e dos 19 aos 25
anos (27,3%).
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