São Paulo, sábado, 07 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Bispo Rodrigues reclama de negociações para compor ministério e quer esclarecimento sobre critérios de escolha de nomes

Aliança com PT está no limite, diz líder do PL

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder do PL na Câmara, Bispo Rodrigues (RJ), disse ontem que seu partido está "no limite da aliança com o PT". O deputado queixou-se do tratamento que vem recebendo da cúpula petista nas negociações para compor o novo ministério e declarou estar sofrendo uma grande pressão de sua bancada.
"O PT precisa acordar e ver que estamos com um problema. A conversa dele [do presidente do PT, José Dirceu] é só dizer que ninguém sabe, que é o Lula que está cuidando disso. Queremos saber quais os critérios. Há uma relação de confiança ou de desconfiança?", questionou Rodrigues, ressalvando que as reclamações não significam rompimento.
Segundo o líder do PL, seria "irresponsabilidade", depois de eleger o vice-presidente, José Alencar (PL-MG), ser independente ou ir para a oposição. "Vamos continuar apoiando o PT, claro. Mas, se não houver regras claras [para composição do ministério], se não tivermos uma posição que condiga com o esforço que fizemos para eleger Lula, preferimos continuar como estamos hoje: sem cargos no governo."
Seria, sempre segundo Rodrigues, um "gesto nobre", como "a política também exige". "Mas também de protesto, porque não estamos sendo tratados como merecemos e isso vai trazer problemas com a bancada de apoio ao [futuro] governo."
O PL elegeu 26 deputados e três senadores. Mas esse números devem crescer, já que o presidente do partido, deputado Valdemar Costa Neto (SP), está trabalhando para chegar a 50 representantes na Câmara e cinco no Senado.
A idéia é ganhar musculatura para exigir pelo menos duas pastas: Integração Nacional e Turismo. Nas contas do comando petista, no entanto, para o PL, até agora, só está prevista a segunda.
"Estamos achando que vamos ser preteridos. O PT vai ficar muito grande, vai lotear o governo entre suas correntes e nos vamos ficar de fora."
Segundo o líder do PL, também não há conversas com seu partido sobre os cargos federais de segundo e terceiro escalões nos Estados. Mas nos diretórios do PT haveria "um frenesi de currículos".
Os petistas interessados em ingressar na administração pública federal foram convidados a enviar seus currículos ao partido, que irá fazer uma triagem e aproveitar as competências possíveis na nova administração.

"Abobrinhas"
Rodrigues reclama que as lideranças petistas se reúnem quase que regularmente com suas bancadas na Câmara e no Senado para discutir os encaminhamentos referentes ao novo governo.
"Mas nós só nos reunimos para falar "abobrinhas", porque não temos o que dizer à bancada."
Falando "em nome do partido", Rodrigues, que é vice-presidente nacional da legenda, quer que o PT esclareça os critérios que está usando para definir os ministros. Pretende ter claro se, mesmo nas pastas entregues aos aliados, os cargos de segundo e terceiro escalões ficaram com o PT.
"Mas aí não vale. Porque, se for assim, os aliados também têm direito de indicar gente [para segundo e terceiro escalões] para os ministérios do PT."
Há uma iminência de crise no PL, com pressões por todos os lados, tendo em vista a inclusão de lideranças da legenda na composição do novo governo. "Os companheiros do PL estão achando que eu e o Valdemar ou estamos escondendo o jogo ou não temos capacidade de fazer essa negociação. O jeito é eu mandar eles falarem diretamente com o Dirceu."


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