|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EVENTO FOLHA
Kenneth Maxwell afirma, em debate com o sociólogo Hélio Jaguaribe, que "problema de confiança" no Brasil continua
Sob PT, país pode quebrar, diz historiador
RAFAEL CARIELLO
DA REDAÇÃO
"Perigosa" e "frágil". Foi assim
que o historiador inglês Kenneth
Maxwell, 61, definiu a situação do
país para os próximos seis meses,
os primeiros sob o comando de
Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.
A afirmação é parte da análise
feita por ele, um dos mais importantes estudiosos do Brasil no exterior, durante evento realizado
anteontem na Folha sobre as
perspectivas do governo Lula, de
que também participou o sociólogo Hélio Jaguaribe, 78. O debate
foi mediado pelo editor de Opinião, Vinicius Mota.
"O problema de confiança [dos
mercados no país" ainda está aí],
disse Maxwell, autor do clássico
"A Devassa da Devassa", sobre a
inconfidência e as elites mineiras
no século 18. "O Brasil está totalmente dependente da confiança
de cinco ou seis pessoas."
Essa dependência, insuperável
no prazo de que trata sua análise,
pode até levar o país a quebrar,
afirma o historiador. Diz ele que
se o preço do dólar ultrapassar os
R$ 4, o que seria possível por conta da permanência da desconfiança internacional, "o Brasil vai ficar
quebrado".
"É impossível [nessa situação]
pagar a dívida -não só do Estado, mas das companhias privadas
também", declarou.
À persistência do problema de
confiança, que não teria sido superado com o fim das eleições,
Maxwell soma, como motivo para
se dizer "preocupado", o fato de
os prazos de negociação com o
FMI, sobre a Alca (Área de Livre
Comércio das Américas), sobre o
futuro do Mercosul e as negociações entre Estados e União serem
curtos; na verdade, imediatos.
"São desafios para qualquer governo e especialmente para o governo que entra, sem grande experiência administrativa", disse.
"Estou preocupado. Todas as indicações [de membros da nova
equipe econômica] são de pessoas que não têm experiência para lidar com esses problemas [de
confiança]."
Controle do câmbio
À diferença de Maxwell, que recomenda a negociação dentro das
limitações atualmente impostas
ao PT, Hélio Jaguaribe propõe o
que chama de "solução heterodoxa", a ser adotada no segundo semestre de 2003. "A curtíssimo
prazo", diz, "continuar como está, [adotando] a estratégia tranquilizadora".
O sociólogo afirma que, por
conta da obrigação de gastos do
governo com juros das dívidas e
com benefícios da Previdência,
"não sobra um centavo livre para
a União fazer grandes investimentos". "O governo está praticamente imobilizado."
E defende que "para males radicais, importa adotar saídas radicais". Qual seja: o controle do
câmbio pelo Banco Central.
Isso, afirma o autor de "Brasil:
Alternativas e Saída", permite
"que o Banco Central desloque da
pauta de importações não-essenciais significativos valores em dólar para assegurar a continuidade
do cumprimento de nossos compromissos internacionais".
"A minha receita está acoplada
à tese de manter os compromissos e pagar o que devemos; é o
oposto do calote. O calote sobrevém se continuarmos no regime
em que estamos."
Jaguaribe, que se diz preparado
"corajosa e patrioticamente para
pagar uísque mais caro" (consequência da sua receita), afirma
que assim o país poderia acabar
com a necessidade de juros elevados para atrair capital estrangeiro
e, com isso, diminuir os gastos do
governo com os juros da dívida
interna. Sobrariam recursos, ele
defende, para gastos com "programas essenciais".
Para o sociólogo, aderir à Alca
seria aceitar "a satelitização brasileira". Jaguaribe defendeu, como
alternativa, que o país faça acordos comerciais em três frentes: na
América do Sul, fazendo acordos
entre o Mercosul e o Pacto Andino, com os países "baleia" (China,
Índia e Rússia) e com a União Européia.
"Sair da situação de engajamento na Alca" pode forçar "uma ligação do [problema do] comércio
com problemas financeiros", diz
Maxwell, para quem o país pode
agravar seu já restrito acesso a capitais caso se recuse a negociar o
acordo de livre comércio.
Ele não vê alternativas para o
país nem na UE -onde a entrada
de países do leste deve, a seu ver,
reforçar as barreiras a produtos
agrícolas- nem no Mercosul
-que para se consolidar exigiria
que o país tomasse uma atitude de
ajuda em relação aos outros
membros tal qual a Alemanha em
relação a outras nações européias
no início do processo de integração europeu, o que não considera
viável no momento.
O historiador diz que o encontro entre Lula e George W. Bush,
na próxima semana, é importante
por todas essas restrições que o
país enfrenta. "O Brasil está numa
situação perigosa, frágil. É importante falar com o FMI e com Bush
para conseguir uma saída boa."
Texto Anterior: FHC leva Regina Duarte e mais 30 pessoas a NY Próximo Texto: Frases Índice
|