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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA-PRETA
Sucessor de Delúbio, Paulo Ferreira se recusa a reconhecer o pagamento à Coteminas, mas diz que portadora do dinheiro "cumpriu ordens"
"Não tem como o PT assumir", diz tesoureiro
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Apontada como a portadora de
R$ 1 milhão do PT à Coteminas
(Companhia de Tecido Norte de
Minas), a coordenadora administrativa do partido, Marice Corrêa
Lima, confirmou a petistas ter levado o dinheiro à empresa em
maio deste ano. Ela também assinou um recibo em que consta o
valor entregue. Mas, pelo fato de
os recursos não estarem contabilizados -e para não admitir uma
ilegalidade-, o PT continuava
ontem agindo como se a operação
não tivesse existido.
"Não tem como [o PT] assumir
esse pagamento. Claro que não.
Como a instituição vai assumir algo que não houve?", disse o atual
tesoureiro do partido, Paulo Ferreira. A declaração foi dada antes
da divulgação da nota do antecessor de Ferreira no cargo, Delúbio
Soares, na qual o pagamento foi
justificado com recursos que tiveram origem "nos empréstimos
feitos por Marcos Valério".
Já o presidente nacional do PT,
Ricardo Berzoini, disse ontem
que não tem como "provar que
não ocorreu" o pagamento de R$
1 milhão. "O Josué [Gomes, filho
de Alencar] diz que ocorreu. O
Delúbio [Soares, ex-tesoureiro]
diz que ocorreu. Se ambos dizem
que ocorreu, quem sou eu para
dizer que não ocorreu?"
Sobre a participação da coordenadora administrativa no episódio, Paulo Ferreira disse que ela
"cumpriu ordens, nem sabia o
que estava levando". "Pode não
ter sabido, entendeu?", corrigiu-se. "O responsável era o dirigente", disse, numa alusão a Delúbio.
A coordenadora Marice aparece
como signatária de um recibo
emitido pela Coteminas, no valor
de R$ 1 milhão. O documento, de
17 de maio de 2005, atesta o "pagamento parcial referente a fornecimento de camisetas para o Partido dos Trabalhadores". No papel consta um "de acordo", acompanhado da assinatura da funcionária petista.
Empresa do vice-presidente da
República e ministro da Defesa,
José Alencar, a Coteminas afirmou que o pagamento é referente
a uma parcela de uma dívida de
R$ 11,031 milhões -atualizados
em R$ 12.279.036,31-, relativa ao
fornecimento de camisetas na
campanha eleitoral de 2004.
Documentos da Coteminas
mostram que Josué Gomes trocou correspondência com três
presidentes do PT para cobrar a
dívida: José Genoino, Tarso Genro e Ricardo Berzoini.
Tarso chegou a apresentar uma
proposta de pagamento em 48
meses. Em resposta por escrito,
Gomes alegou que, "em função da
perversa combinação das políticas monetária e cambial", não poderia aceitar o acordo. Ele propôs
pagamento em 12 meses.
No dia 11 de outubro, Tarso reiterou a proposta de parcelamento
em 48 meses. No dia 25 de outubro, Josué Gomes endereçou nova carta ao atual presidente, Ricardo Berzoini. Nem Tarso nem
Genoino quiseram falar sobre a
negociação.
Procurada pela Folha, Marice
disse que não tem autorização para falar sobre o assunto. "Se ele
[Ferreira] me autorizar, eu falo.
Agora, eu não tenho autorização
nem autoridade para fazer isso."
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