São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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JANIO DE FREITAS

O país escondido


Na recusa ao banimento de bombas de fragmentação, o Brasil alinhou-se a Estados Unidos, Israel e Rússia

A RECUSA do governo Lula a juntar o Brasil aos 92 países do tratado contra fabricação, uso e venda de bombas de fragmentação -armas terríveis contra populações civis- aponta em várias direções inquietantes.
A primeira delas, não pela ordem de importância, mas por suas implicações novas em nossa história republicana, é a submissão da política externa à safra de projetos militares da chamada Secretaria de Quase Tudo. Na qual o ministro Mangabeira Unger produz (também) as orientações adotadas pelo Ministério da Defesa, de Nelson Jobim. No mesmo dia 3, quarta passada, da recusa ao tratado formalizada pela diplomacia brasileira, a venda de cem mísseis ao Paquistão ocorria sob o recuo do Ministério de Relações Exteriores às suas restrições, provenientes do sentido anti-Índia do negócio. No mesmo dia, uma posição confirmou a outra, e ambas renegaram a velha tradição do Itamaraty.
As bombas de fragmentação, como o nome indica, desmancham-se em numerosos artefatos que se espalham por vasta área, cada um deles capaz de explodir logo ou de aguardar no solo que, em dia incerto, alguém pise ou apanhe e assim o faça explodir. Não se trata então, por mais que os interessados o afirmem, de arma de defesa.
Os estudos sobre os efeitos do emprego dessa bomba pelos Estados Unidos e por Israel, no Oriente conflagrado, atestam-na como armamento de ataque. Do contrário, as vítimas fatais e de mutilação não seriam populações civis, urbanas e rurais. Eis aí o tipo de armamento que o Brasil está produzindo, em pelo menos três indústrias bélicas, e vendendo sem limitações. Nem se pense em limitações morais e humanitárias, basta pensar nas de política externa, definidas por quem devesse formulá-la e aplicá-la.
Tudo isso, e muito mais e muito pior, passa-se às escuras, sem conhecimento da população, sem conhecimento do Senado e da Câmara, sem conhecimento do sentido presente na Constituição para a identidade do Brasil entre os países.
O Brasil escondido, que alimenta a barbárie e serve à morte, justificaria, e no entanto não precisa temer, uma cruzada de Ministério Público, meios de comunicação, universidade, intelectuais e artistas, para trazê-lo à luz dos dias. E confrontá-lo, para confirmação ou recusa, com o tipo de país que se pretende ter.
Na recusa ao banimento das bombas de fragmentação, que teriam feito o gozo dos exércitos nazistas, o Brasil alinhou-se a Estados Unidos, Israel, Rússia e aos outra vez atritados Índia e Paquistão.

O acusado
A Petrobras está acusada por Lula de desviar R$ 2 bilhões de empresas pequenas, ao tomá-los de empréstimo na Caixa Econômica Federal. Em tese, a acusação é aceitável. Mas se volta contra o seu autor.
E os R$ 4 a 5 bilhões que Lula mandou o BNDES usar para permitir à Oi/Telemar a compra da Brasil Telecom? Nem o "desenvolvimento e o social" do nome do banco se justificam no presente de Lula, quanto mais os bilhões desviados dos investimentos de pequenas, médias e grandes empresas produtivas. E, em tal caso, desviados só para favorecer um mero negócio forjado na ilegalidade.


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