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"Fui coagido por Protógenes", diz Chicaroni
Condenado por tentar subornar policiais, empresário afirma que delegado direcionou seu testemunho para incriminar Dantas
Com estratégia de defesa de desqualificar Protógenes e De Sanctis, réu diz que juiz se recusou a ouvi-lo sobre coerção durante audiência
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Hugo Sérgio Chicaroni, 58
anos, condenado sob a acusação de ter sido emissário do
banqueiro Daniel Dantas no
oferecimento de suborno a policiais federais, disse que foi
coagido pelo delegado Protógenes Queiroz nos 35 dias em que
esteve preso na Polícia Federal
em São Paulo. O administrador
de empresas disse que tentou
avisar o juiz Fausto De Sanctis
sobre os constrangimentos em
uma audiência, mas o magistrado teria se recusado a ouvi-lo.
Na primeira entrevista concedida por um dos réus do caso
Dantas, Chicaroni falou à Folha acompanhado pelo advogado Luiz Carlos da Silva Neto,
que demonstrou que a estratégia da defesa do administrador
será de desqualificar a conduta
de Protógenes e De Sanctis.
Chicaroni afirmou que o delegado esteve presente no primeiro depoimento que prestou
na PF e direcionou o testemunho no sentido de incriminar o
banqueiro. Em troca do depoimento contra Dantas, disse,
Protógenes teria prometido o
relaxamento de sua prisão.
Para pressioná-lo, Protógenes também teria alardeado na
carceragem da PF que o administrador de empresas era um
"colaborador da polícia", colocando a vida dele sob risco.
A Folha ligou para o advogado do delegado Protógenes
Queiroz, mas as ligações caíram na caixa de mensagens. A
assessoria de imprensa da Justiça Federal tentou localizar o
juiz Fausto De Sanctis ontem,
mas não obteve sucesso.
FOLHA - Como o sr. avalia a sua
condenação a sete anos de prisão?
HUGO SÉRGIO CHICARONI - Acho a
sentença absurda. Ela me parece mais uma vingança do que
uma sentença. Não sou a pessoa que eles estão pensando
que eu sou e tampouco sei o que
eles acham que sei. Não tenho e
jamais tive envolvimento com
o Grupo Opportunity. O sr. Daniel Dantas eu jamais tinha visto na vida, jamais tinha falado
com ele. Quem eu realmente
conhecia nesta história toda
era o delegado Protógenes.
FOLHA - Por que o sr. colocou Protógenes em contato com os representantes do Opportunity?
CHICARONI - Um cliente meu
decidiu vender 50% de um frigorífico em uma reunião. Logo
depois, eu encontrei o Wilson
Mirza [advogado do Grupo Opportunity]. Ele disse que tinha
ligado para o Protógenes para
falar das investigações sobre o
Dantas, noticiadas na imprensa, e não tinha sido atendido. O
Mirza pediu que, se eu encontrasse o delegado, perguntasse
se ele poderia recebê-lo. Pô, naquela hora, veio o negócio do
frigorífico na minha cabeça.
Pensei: se eu conseguir colocar
esse camarada [Mirza] com o
Protógenes, nem que seja para
dizer: "Boa noite, até logo", fiz a
minha parte. Vai ser uma porta
de entrada para eu oferecer o
frigorífico [ao Opportunity].
FOLHA - A PF diz que o crime de corrupção teve início quando o sr. jantou com o Protógenes em 10 de junho. Como foi esse encontro?
CHICARONI - Foi quando ele começou a armar essa história toda. Sempre que sobrava um
tempo, combinávamos de conversar sobre assuntos corriqueiros. Naquela semana, eu liguei para ele e nos encontramos em uma pizzaria. Isso
ocorreu 40 dias depois de eu ter
conhecido o advogado do Opportunity. Perguntei ao Protógenes sobre o caso do Dantas,
mas ele disse que estava fora
dele. Depois, eu dei essa notícia
para eles, e o assunto morreu.
Foi aí que eu conheci o Humberto Braz [executivo ligado ao
Grupo Opportunity]. Falei com
ele sobre negócios de clientes
meus, um frigorífico e uma universidade.
FOLHA - O sr. é acusado de ter entregue R$ 50 mil aos delegados a
mando do Opportunity. É verdade?
CHICARONI - No dia 17 [de junho], fomos jantar, e o Protógenes me disse que almoçaria no
dia seguinte com o delegado
que estava no caso Dantas, e ele
ia ver se esse delegado receberia alguém do Grupo Opportunity. Achei estranho. No dia 18,
Protógenes me ligou e falou
que estava almoçando com esse
delegado [Victor Hugo Ferreira] e pediu que eu fosse lá. Ele
disse que receberia o Braz e me
disse que, por aquela conversa,
o Victor Hugo deveria receber
R$ 50 mil. Falei: "Algum dinheiro eu tenho em casa, mas é
de um cliente meu, para o qual
estou desenvolvendo um projeto de viabilidade econômica".
Aí o Protógenes disse: "Mas ele
[Victor Hugo] está precisando
do dinheiro, fica tranqüilo que
eu garanto". Aí eles foram até
minha casa e pegaram os R$ 50
mil. Não sabia que eles estavam
armando tudo. O que me surpreendeu foi no dia 19 pela manhã, quando ele [Protógenes]
me chamou no hotel Shelton e
disse que receberia o Braz em
um jantar e que o Victor Hugo
iria pedir US$ 1 milhão para
conversar com o Braz.
FOLHA- O sr. não via indícios de corrupção nessas situações?
CHICARONI - Alguma coisa não
estava bem colocada. Certa vez
minha mulher me disse uma
coisa interessante: "Nós seres
humanos temos momentos de
cegueira, de não saber exatamente onde estamos pisando".
Sempre tive uma baita admiração profissional pelo Protógenes. É aquela situação de você
confiar numa pessoa, praticamente não pensar naquilo e dizer: "Que fique com ele. Ele sabe o que está fazendo".
FOLHA - A PF achou R$ 865 mil em
sua casa. Qual a origem do dinheiro?
CHICARONI - Esse dinheiro foi
mandado a mim pelo Braz, para
que guardasse em São Paulo,
mas eu não sabia para quê os
recursos seriam usados.
FOLHA - Mas, em um depoimento
à polícia, o sr. disse que o dinheiro
era de Daniel Dantas?
CHICARONI - O Protógenes foi
me visitar duas vezes na custódia da PF. Ele me colocou numa
situação muito difícil. Só não
fui assassinado por muita sorte,
porque, quando cheguei à Polícia Federal, ele dizia a todos:
"Esse é o meu amigo que ajudou a polícia". Duas vezes ele
desceu na custódia da PF dizendo: "Os bandidos estão na
rua, e você, que ajudou a polícia, está preso, isso não se justifica". Lá na custódia tem um
entra-e-sai de presos de tudo
quanto é presídio. Isso vazou
para os quatro quantos. Comecei a receber ameaças de morte.
Foi todo um plano de pressão
montado ali e, nas vezes que
Protógenes me visitou, ele queria que eu dissesse que o dinheiro encontrado em minha
casa pertencia ao Daniel Dantas. Eu não poderia ser leviano,
não sei de quem era o dinheiro.
No primeiro depoimento que
eu prestei na Polícia Federal,
sem advogado, estava o Protógenes ao meu lado, dando pitacos, o tempo todo. Me fizeram a
promessa de que fazendo aquele depoimento a minha prisão
seria relaxada. Eu estava desesperado para voltar para casa,
porque eu sabia que aquela situação mataria minha mãe, de
86 anos. E estava preocupado
com meu filho e minha própria
vida. Ele não poderia estar naquela sala. Ali eu fiquei refém.
Em uma audiência enquanto
eu estava preso, pedi ao juiz
Fausto De Sanctis que me ouvisse, mas ele negou, disse que
não era a hora apropriada de
me ouvir. Eu precisava ir à Justiça. Era uma pressão velada,
mas eu sabia que corria risco de
morte. Ainda recebo ameaças.
FOLHA - O sr. fez contatos com o
Sérgio Cirillo [sob o qual recai a suspeita de ter sido "espião" do Opportunity no Supremo Tribunal Federal]. Por que o sr. ligou para ele?
CHICARONI - O Cirillo é quem
estava cuidando do Instituto
Sagres, uma ONG que promove
estudos e cursos na área de desenvolvimento de negócios. Liguei para ele para pedir cartões
de visita, pois eu vendia os cursos do instituto.
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