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Igreja também critica plano de direitos humanos de Lula
Bispos reagem a propostas de descriminalização do aborto e união civil homossexual
"Vemos nessas iniciativas uma atitude arbitrária e antidemocrática do governo Lula", afirma o bispo d. José Simão: "A igreja é contra"
RAFAEL CARIELLO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O 3º Programa Nacional dos
Direitos Humanos, qualificado
por comandantes militares como "insultuoso, agressivo e revanchista" em relação às Forças Armadas, tem provocado
também reações de descontentamento e críticas ao governo
do presidente Lula em setores
da Igreja Católica.
Bispos, padres e católicos ligados a movimentos pró-vida
reagem a quatro artigos do documento tornado público no
mês passado. Os itens propõem
ações coordenadas de governo
para apoiar "a aprovação do
projeto de lei que descriminaliza o aborto", "mecanismos para
impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos", "a união civil
entre pessoas do mesmo sexo"
e "o direito de adoção por casais
homoafetivos".
A defesa desses valores é tão
ofensiva a setores da Igreja Católica quanto foi, para os militares, a proposta de se criar uma
"comissão nacional da verdade", também contida no programa, com o objetivo de examinar as violações de direitos
humanos praticadas durante a
ditadura (1964-1985).
Atitude arbitrária
"Vemos nessas iniciativas
uma atitude arbitrária e antidemocrática do governo Lula",
afirma d. José Simão, bispo de
Assis (SP) e responsável pelo
Comitê de Defesa da Vida do
Regional Sul-1 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), que congrega as dioceses do Estado de São Paulo.
D. José declara que essa insatisfação é compartilhada por
outros bispos brasileiros: "A
igreja é contra. É claro que os
arcebispos, os bispos são contrários [ao documento]".
Ele afirma que tem entrado
em contato com outros religiosos e que trabalha para articular um manifesto da igreja no
Brasil em repúdio às medidas
defendidas pelo programa de
direitos humanos: "Pretendemos reunir, na primeira oportunidade, alguns bispos para
discutir essa questão".
O objetivo de d. José é conseguir uma declaração da CNBB
sobre o tema, mas há bispos,
mesmo entre aqueles que compartilham de sua indignação,
que preferem não bater de
frente com o Planalto. Vários
religiosos e setores da igreja são
aliados tradicionais da esquerda e do PT em outras causas defendidas no documento.
Grupos contrários ao aborto
também têm se articulado para
tentar fazer frente ao programa
de direitos humanos. Maria
Dolly Guimarães, presidente da
Federação Paulista dos Movimentos em Defesa da Vida,
afirma que leigos têm escrito
aos bispos pedindo que a igreja
se manifeste sobre o tema.
"Matar uma pessoa não pode
ser visto como direito humano", ela diz. "Esse texto pretende fazer o bem virar mal, e o que
é mal virar bem. Na minha opinião, que não é ainda a opinião
da igreja, deveríamos fazer uma
campanha para conscientizar o
povo brasileiro."
"Creio que o ambão [púlpito
de onde se fazem as leituras da
Bíblia e de onde o padre pode
fazer o seu sermão aos fieis] vai
começar a agir mais", declara.
Contatada, a Secretaria Especial de Direitos Humanos
não se manifestou.
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