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São Paulo, sábado, 08 de fevereiro de 2003

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CASO SILVEIRINHA

Rede de empresas seria comandada pelos auditores acusados de cobrar propina de empresas no Rio

Receita identifica "lavadoras" de dinheiro

FERNANDA DA ESCÓSSIA
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

A corregedoria da Receita Federal identificou ontem a existência de uma rede de empresas comandadas por auditores federais destinada à lavagem de dinheiro, supostamente proveniente do pagamento de propinas.
O grupo seria ligado aos oito auditores federais afastados em janeiro por suspeita de participação em um esquema de corrupção na Secretaria de Fazenda do Rio, supostamente comandado por Rodrigo Silveirinha Corrêa, ex-subsecretário de Administração Tributária no governo de Anthony Garotinho (1999 a abril de 2002).
Os auditores federais, Silveirinha e mais quatro fiscais de renda do Estado são donos de contas na Suíça, no valor total de US$ 36 milhões. A Receita Federal identificou nove empresas no Rio de Janeiro que têm como sócios parentes dos auditores federais e cidadãos estrangeiros.
Os sócios estrangeiros das empresas têm contas em paraísos fiscais, como as Antilhas holandesas, as Ilhas Virgens e Liechtenstein, na Europa central.
"As informações que temos indicam, pela primeira vez, a prática de crime de lavagem de dinheiro", afirmou o corregedor da Receita, Moacir Ferreira Leão. Até então, a corregedoria só tinha indícios de enriquecimento ilícito dos auditores investigados.
O corregedor não quis revelar os nomes dos sócios nem das nove empresas. A Folha apurou, porém, que eles também são sócios de parentes dos auditores em oito empresas anteriormente identificadas pela Receita, todas no Rio. Os endereços do primeiro grupo de empresas coincidem os das nove agora descobertas, revelando a existência de um complexo esquema de lavagem de dinheiro.

Mais afastamentos
Ontem, a corregedoria afastou mais três auditores: Manoel Gilberto de Araújo Ferreira, Marcos Latorre Magdalena e Paulo Eduardo Ganini Nejaim. São agora 11 o número de funcionários da Receita afastados, todos lotados na Delegacia de Fiscalização.
A Receita Federal descobriu que eles movimentaram somas muito acima da renda de um auditor, cujo salário médio é de R$ 7.000. Entre 1997 e 2000, Ferreira aumentou seu rendimento consideravelmente. Em 1997, ele tinha R$ 420 mil em aplicações financeiras. Três anos depois, já somava R$ 3,2 milhões. Nejaim também tinha aplicados R$ 2 milhões em 1998, enquanto Latorre movimentou R$ 1,5 milhão em 1997. No ano seguinte, aplicou R$ 750 mil e em 2002, tinha R$ 424 mil.
Latorre aparece como dono de um imóvel no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste), avaliado em R$ 250 mil, e de um terreno no mesmo bairro, no valor de R$ 215 mil. "O afastamento ocorreu para que não haja interferência nas investigações", disse Leão.
Os três auditores afastados são donos de empresas. Dois deles- Latorre e Ferreira- têm empresas de consultoria tributária, o que é proibido pela lei que rege o funcionalismo público.
Ontem, o Ministério Público Federal no Rio enviou ofício a todos os bancos do país solicitando informações para saber se há contas em nome dos envolvidos. Foi criado um e-mail (denunciafiscal@prrj.mpf.gov.br) para receber denúncias sobre o caso.


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