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JANIO DE FREITAS
Sem pressa e sem futuro
O que falta a Lula, se vista a carência pela face política, não é pressa, é a consciência de que o país tem pressa
SERIA NO DECORRER de novembro. Passou a ser até o Natal.
Foi adiada para fevereiro, em
seguida às eleições dos presidentes
da Câmara e do Senado. Eleitos e
empossados os dois presidentes, ficou para as imediações do Carnaval.
E nada sugere que mesmo então o
ministério do segundo governo seja
formado. O provável é que o problema se encaminhe para pingadinhos
lerdos, esparsos, de ministro em ministro, sem a possibilidade de que se
forme um conjunto com alguma
harmonia administrativa e cadências semelhantes.
Outra vez haverá uma longa relação de ministros, não um ministério.
Cada um tomando pé da sua pasta e
dos seus afazeres com muito atraso
em relação aos nomeados antes, todos levados à imposta conclusão de
que o jeito é o cada um por si, e sem
alguém por todos.
Lula: "Eu não tenho pressa". O
que lhe falta, se vista a carência pela
face política, não é pressa, é a consciência de que o país tem pressa. Caso o que falta não seja a consciência
de país, ausência que parecia própria da "elite" que hoje comunga na
religião do mercado. Vista a aparente calma de Lula pelo ângulo que
funde o político e o pessoal, já é notória a sua falta de determinação para superar o medo de tomar decisões, de fazer escolhas, de praticar
essa coragem preliminar na transformação de alguém em governante.
Exceto Márcio Thomaz Bastos, que
conviria muito permanecer, mas
prefere sair; e dois, talvez três, com a
certeza de continuar, os demais ministros estão no limbo administrativo. Não podem tocar adiante nada
mais sério. Logo, no limbo está o governo. Desde o resultado eleitoral
para a Presidência, há quase três
meses e meio, é como se a maioria
dos cargos ministeriais estivesse vazia, com um ou outro dando algum
expediente para mostrar-se vivo.
A propósito, meu caro, experimente dizer os nomes dos ministros
da Saúde, da Integração, das Cidades, da Previdência, e outros mais.
Experimente sem pressa, porque se
trata de ministérios.
Além do pequeno
A feia entrevista do embaixador
Roberto Abdenur, com críticas à
política externa que não fez enquanto gozava da boca riquíssima
em Washington, excede a sua pequena dimensão pessoal em pelo
menos um ponto. Diz ele que "nem
na ditadura militar" ocorreu, no
Itamaraty, empenho de "ideologização" dos diplomatas como ocorre
hoje. É uma inverdade que Abdenur sabe ser inverdade.
Diplomatas foram demitidos do
Itamaraty e tiveram direitos políticos cassados, pelo fato ou só pela
presunção de serem opositores da
ditadura. Outros, até pelo simples
parentesco com opositores, tiveram as devidas promoções retardadas ou suspensas -como pode informar melhor a respeito, para as
jornalistas do Rio que subscrevem
e ampliam a inverdade de Abdenur,
o embaixador Jório Dauster, entre
tantos outros.
Numerosas embaixadas, e portanto seus embaixadores e principais diplomatas, realizaram serviços para o SNI, moveram polícias e
governos estrangeiros contra brasileiros asilados ou exilados, e até
prestaram colaboração direta a
episódios ainda mais graves, como
o golpe no Chile e seus crimes.
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