São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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JANIO DE FREITAS

Sem pressa e sem futuro

O que falta a Lula, se vista a carência pela face política, não é pressa, é a consciência de que o país tem pressa

SERIA NO DECORRER de novembro. Passou a ser até o Natal. Foi adiada para fevereiro, em seguida às eleições dos presidentes da Câmara e do Senado. Eleitos e empossados os dois presidentes, ficou para as imediações do Carnaval. E nada sugere que mesmo então o ministério do segundo governo seja formado. O provável é que o problema se encaminhe para pingadinhos lerdos, esparsos, de ministro em ministro, sem a possibilidade de que se forme um conjunto com alguma harmonia administrativa e cadências semelhantes.
Outra vez haverá uma longa relação de ministros, não um ministério. Cada um tomando pé da sua pasta e dos seus afazeres com muito atraso em relação aos nomeados antes, todos levados à imposta conclusão de que o jeito é o cada um por si, e sem alguém por todos.
Lula: "Eu não tenho pressa". O que lhe falta, se vista a carência pela face política, não é pressa, é a consciência de que o país tem pressa. Caso o que falta não seja a consciência de país, ausência que parecia própria da "elite" que hoje comunga na religião do mercado. Vista a aparente calma de Lula pelo ângulo que funde o político e o pessoal, já é notória a sua falta de determinação para superar o medo de tomar decisões, de fazer escolhas, de praticar essa coragem preliminar na transformação de alguém em governante. Exceto Márcio Thomaz Bastos, que conviria muito permanecer, mas prefere sair; e dois, talvez três, com a certeza de continuar, os demais ministros estão no limbo administrativo. Não podem tocar adiante nada mais sério. Logo, no limbo está o governo. Desde o resultado eleitoral para a Presidência, há quase três meses e meio, é como se a maioria dos cargos ministeriais estivesse vazia, com um ou outro dando algum expediente para mostrar-se vivo.
A propósito, meu caro, experimente dizer os nomes dos ministros da Saúde, da Integração, das Cidades, da Previdência, e outros mais. Experimente sem pressa, porque se trata de ministérios.

Além do pequeno
A feia entrevista do embaixador Roberto Abdenur, com críticas à política externa que não fez enquanto gozava da boca riquíssima em Washington, excede a sua pequena dimensão pessoal em pelo menos um ponto. Diz ele que "nem na ditadura militar" ocorreu, no Itamaraty, empenho de "ideologização" dos diplomatas como ocorre hoje. É uma inverdade que Abdenur sabe ser inverdade.
Diplomatas foram demitidos do Itamaraty e tiveram direitos políticos cassados, pelo fato ou só pela presunção de serem opositores da ditadura. Outros, até pelo simples parentesco com opositores, tiveram as devidas promoções retardadas ou suspensas -como pode informar melhor a respeito, para as jornalistas do Rio que subscrevem e ampliam a inverdade de Abdenur, o embaixador Jório Dauster, entre tantos outros.
Numerosas embaixadas, e portanto seus embaixadores e principais diplomatas, realizaram serviços para o SNI, moveram polícias e governos estrangeiros contra brasileiros asilados ou exilados, e até prestaram colaboração direta a episódios ainda mais graves, como o golpe no Chile e seus crimes.


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