São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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Bento 16 vai rezar em português no Brasil

Papa consegue ler e entender o idioma, mas deverá usar texto nas missas, já que não fala com fluência

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O papa Bento 16 seguirá o antecessor, João Paulo 2º, e rezará em português durante a visita ao Brasil, que acontece entre 9 e 13 de maio deste ano.
O idioma será usado ao menos no encontro que terá com os jovens no Estádio do Pacaembu, na tarde do dia 10, em São Paulo, e nas missas campais nas manhãs do dia 11, na capital paulista, e no dia 13, em Aparecida (SP).
Ainda não está certo se o papa usará o idioma na abertura da 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, que acontecerá em Aparecida e será aberta por Bento 16 no dia 13, à tarde. A maior parte dos bispos que participará deste encontro fala espanhol.
O papa também encontrará o presidente Lula no dia 10, pela manhã. Neste encontro, contudo, deve usar um intérprete. Bento 16 consegue ler e entender o português, mas não fala com fluência.
Por este mesmo motivo é que deve usar um texto-base, escrito por ele mesmo, nas missas no Brasil. Segundo a Folha apurou, Bento 16 faz questão de redigir os próprios textos. João Paulo 2º costumava ler documentos preparados pela Cúria Romana.
Mas, apesar da dificuldade, o papa tem apreço pela língua portuguesa. Ele costuma saudar grupos do Brasil e de Portugal que vão ao Vaticano em português e tenta pronunciar corretamente as palavras.
O padre jesuíta Mário de França Miranda, que entre 1992 e 2003 participou na Santa Sé da Comissão Teológica Internacional, então presidida pelo atual papa, afirma que Bento 16 era o único na Santa Sé que pronunciava seu nome corretamente. "O papa se esforça para falar perfeitamente a língua e conseguia pronunciar, inclusive, a cedilha de "França", o que é muito difícil para alguém que tem como primeiro idioma o alemão", conta.
Além do alemão, sua primeira língua, Bento 16 é fluente em italiano (a língua da Cúria Romana), inglês, francês, espanhol e latim. Também se comunica em polonês e grego. Na única visita que fez até agora a um país cuja língua não domina, a Turquia, o papa rezou em latim e em grego.

Língua
Até os anos 60, os padres de todo o mundo tinham de rezar as missas em latim. Apenas com o Concílio Vaticano 2º (1962-1965) é que a Santa Sé permitiu o uso de línguas nacionais nas celebrações. Foi um sinal de que a igreja pretendia dialogar melhor não apenas com seus fiéis mas também com as outras culturas.
A celebração em idioma vernáculo foi uma das principais bandeiras da Reforma Protestante, no século 16, quando rompeu com o catolicismo. Uma das medidas de Martinho Lutero, tido como o pai da reforma, foi desafiar o papa e traduzir a Bíblia para o alemão, sua língua natal.
João Paulo 2º seguiu à risca a permissão dada pelo concílio. Nas três viagens que fez ao Brasil (1980, 1991 e 1997), usou o português. Ao visitar um país, tentava ler ao menos uma mensagem na língua nacional.


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